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Cinema

'Euforia' mostra talento de diretora para narrar situações terminais

Vemos um homem que forja sua própria felicidade pelo uso frequente de cocaína e pela construção de uma vida de ilusões

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Euforia

  • Quando Estreia nesta quinta (17)
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Riccardo Scamarcio, Valerio Mastandrea, Jasmine Trinca
  • Produção Itália, 2018
  • Direção Valeria Golino

"Euforia" é o segundo longa dirigido por Valeria Golino, uma das atrizes mais talentosas do cinema contemporâneo (interpretou uma deficiente visual em "Emma e as Cores da Vida").

Seu primeiro longa, "Miele" (mel, em italiano), a despeito de ter sido bastante premiado no exterior, não foi lançado comercialmente no Brasil. Em seu enredo, a protagonista vivida por Jasmine Trinca ajuda pessoas em dificuldades diversas, e precisa lidar com um homem que deseja morrer.

Na trama de "Euforia", recebido com mais frieza pela crítica internacional, Matteo (Riccardo Scamarcio) é um empreendedor bem-sucedido e hedonista que recebe o irmão distante, Ettore (Valerio Mastandrea), que permanece na cidade onde nasceu como professor e com rendimentos irrisórios.

Quando Matteo, fútil e superficial na relação com as pessoas, descobre a gravidade do estado de saúde de Ettore, a relação passa a ocupar outra importância em sua vida, e um chamado à responsabilidade se apresenta.

Não é difícil lembrar da obra-prima de Valerio Zurlini, "Dois Destinos", em que Marcello Mastroianni precisa cuidar de Jacques Perrin, seu irmão doente. Essa similaridade, obviamente, não faz bem ao filme de Golino, uma vez que não é fácil alcançar a densidade e a delicadeza do olhar de Zurlini.

Mas Valeria Golino já provou (com "Miele"), e agora confirmou (com "Euforia"), que tem um certo talento para narrar dramas que envolvem situações terminais.

Seu maior acerto está na coragem de mostrar personagens que não se esforçam o mínimo para serem simpáticos, e mesmo assim conquistam nossa simpatia. Pela habilidade na construção narrativa, com o velho e válido procedimento da gradual intensificação do drama, mas também pelas interpretações dos atores.

Desse modo, tudo é relativizado no comportamento dos irmãos, tudo é perdoado, mesmo quando não esquecido. Não é que ficamos com pena deles, mas é que passamos a entendê-los melhor em suas fragilidades.

Já no começo, Golino nos convida para uma performance de nu masculino, com foco de luz único e intermitente e música de Joe Dassin ("Et Si Tu N'Existais Pas").

Essa sequência inicial nos prepara para um filme em que a representação está dentro da representação, ou seja, vemos um homem que forja sua própria felicidade ficando em estado de permanente excitação pelo uso frequente de cocaína e pela construção de uma vida de ilusões.

A diretora parece questionar o modo como a essência de uma pessoa é frequentemente mascarada pela incapacidade de enfrentamento das coisas reais. Convém aceitarmos o convite.

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