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Cinema

Sem fetiche ou desdém, Virzì evoca tradição do cinema italiano

Com 'Noite Mágica', diretor deixa para as viúvas o encargo de lamentar a morte do cinema

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Noite Mágica

  • Quando Estreia nesta quinta (15).
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Giancarlo Giannini, Giovanni Toscano, Irene Vetere, Mauro Lamantia
  • Produção Itália, 2018
  • Direção Paolo Virzì

“Fizemos comédias, dramas e até faroestes. E agora só fazemos porcarias”, lamenta-se um veterano do 
cinema italiano em uma cena do filme “Noite Mágica”. 

O diretor Paolo Virzì escolhe como pano de fundo o ocaso de uma cinematografia que foi gloriosa e invejada, que afirmava seu vigor garantindo a convivência de filmes populares e autorais. Não é, porém, mais um filme nostálgico, em que o passado é representado como paraíso perdido.

A morte suspeita de Saponaro, um decadente produtor, desencadeia a investigação sobre jovens aspirantes a roteiristas que disputam um prêmio. O siciliano Antonino vê o cinema como meio de expressão intelectual. O toscano Luciano quer escapar da origem operária e se divertir no universo povoado por belas mulheres. A romana Eugenia é deprimida e transfere suas angústias para a escrita.

A queda do carro de Saponaro de uma ponte nem é percebida pelas pessoas que ao lado assistem a semifinal da Copa de 1990. Todos só enxergam o que mostra a tela da TV.

O velho mundo que atrai os jovens num primeiro momento se revela falso e movido a explorações. Luciano, Eugenia e Antonino ainda acreditam na união de forças e começam um projeto na tradição de clássicos italianos. Mas nem essa ilusão existe mais.

A magia do cinema não é evocada no título só em oposição às circunstâncias pouco artísticas, afetadas ou imodestas em que os filmes, de fato, são feitos. Nem a televisão é pintada como vilã porque tomou o espaço do imaginário.

O que “Noite Mágica” sugere na fala de um personagem fora do mundo cinematográfico é que os roteiristas e realizadores são excelentes técnicos, mas recusaram o improviso que um dia fez os italianos revolucionarem o cinema. As histórias reais, lembra, são feitas de acasos e de acidente.

“Noite Mágica” não cria fetiche nem desdenha o passado. Virzì deixa para as viúvas o encargo de lamentar a morte do cinema. Em vez disso, exorciza o fantasma fazendo filmes.

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