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Cinema

Clássico sedutor, Casanova surge em período de declínio em novo filme

Em longa de Benoît Jacquot, personagem é dominado pelo poder da autonomia feminina

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O Último Amor de Casanova (Dernier Amour)

  • Classificação 14 anos
  • Elenco Vincent Lindon, Stacy Martin, Valeria Golino
  • Produção França, 2019
  • Direção Benoît Jacquot

Casanova é, como Don Juan, paradigma de conquistador. Mas o amante veneziano representado por Fellini em 1976 e agora pelo francês Benoît Jacquot escapa do estereótipo da imagem de belo e sedutor, tal como aparece no “Casanova” protagonizado por Heath Ledger em 2005.

“O Último Amor de Casanova” retrata o personagem em um momento de declínio. Exilado de Veneza, ele foge para Londres, onde se indigna ao ver um nobre baixar as calças e defecar no parque, ignorando os limites entre público e privado, o que separa o pudor da obscenidade.

Vincent Lindon encarna Casanova não mais como um amante reluzente, mas como um homem de meia idade, opaco e entediado. Desse modo, ele se integra à galeria de personalidades do século 18 que Jacquot retoma para desconstruir, como já fez em “Sade” (2000) e com Maria Antonieta em “Adeus, Minha Rainha” (2012).

Da figura de Casanova não mais emana o prazer, apenas uma espécie de compulsão para possuir corpos com a mesma ânsia que à mesa ele devora comida como um bulímico.

Enquanto Fellini atualizou o personagem retratando-o como um ícone do machismo abatido pelo avanço do feminismo, “O Último Amor de Casanova” reduz o sedutor a joguete de uma mulher que faz do corpo e do sexo uma forma de poder.

Marianne de Charpillon, personagem à qual Stacy Martin empresta beleza e frieza, é uma jovem que se prostitui, mas que não se entrega àquele que supunha ter todas as mulheres a seus pés.

Casanova é representado como escravo do desejo, perde o lugar de quem escolhe seus objetos e passa a ser dominado pelo poder da juventude e da autonomia feminina. A releitura de Jacquot ajusta-se, portanto, às demandas contemporâneas reafirmadas por movimentos como o MeToo e as políticas identitárias.

Esta adequação ao contexto, no entanto, tende a ser perder em meio ao estilo frio e clínico que Jacquot adota em seus filmes de época. A fotografia apagada, os desempenhos distanciados e a direção de arte que busca a exatidão, mas evita a exuberância integram o esforço para isolar o personagem central, demonstrá-lo como antiquado.

As qualidades formais e intelectuais do filme se impõem à custa do prazer emocional, o que torna o projeto importante, mas pouco atraente.

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