“Se eu li corretamente, ele [Bolsonaro] diz que é melhor alguém estar morto do que ser gay. Isso é bem similar ao pensamento de [Vladimir] Putin”, diz Maria “Masha” Alyokhina, uma das integrantes do coletivo russo Pussy Riot, conhecido pelo ativismo na luta pela liberdade de expressão e pelos direitos da mulher.
Alyokhina está em São Paulo para o lançamento da edição brasileira de seu livro, “Riot Days”, de 2017, que trata do período em que ela ficou presa em 2012, após um protesto punk contra Putin em uma igreja ortodoxa. Na quinta (30), ela se apresenta com Linn da Quebrada em um show em frente ao Centro Cultural São Paulo pelo festival Verão Sem Censura, promovido pela prefeitura.
A ativista diz que não sabe tanto sobre a situação política atual do Brasil, mas consegue traçar comparações com seu país. Para ela, que tem como alvo preferencial de seus protestos líderes conservadores e autoritários, há diversas semelhanças nas figuras de Putin —no poder desde 2000— e Bolsonaro, este último retratado com o rosto coberto de lixo tóxico no cartaz do show do grupo em São Paulo.
“Eles são machistas, estão sempre fazendo piadas sexistas com mulheres. Mas, se formos falar de feminismo, a conversa não termina”, diz. “A situação está terrível na Rússia. Somos o único país da Europa que não tem lei de violência contra mulheres. Agora, está havendo uma onda de lutas por essa causa. E a reação do governo está sendo péssima —até mesmo para os nossos padrões.”
Sobre a comparação entre os presidentes de Brasil e Rússia, ela aponta que ambos têm origens militares. “São do campo militar e ambos acreditam que têm a missão de construir uma grande nação —o que, na verdade, é uma grande nação fascista.”
"Na Rússia, isso chegou longe. Aqui, talvez esteja começando", ela completa.
Alyokhina diz que o avanço de repressão, na Rússia, foi gradual e que, hoje, a perseguição está muito maior. Em 2012, ela e mais quatro integrantes do Pussy Riot fizeram uma apresentação performática na catedral de Cristo Salvador, um dos principais templos da Igreja Ortodoxa Russa, em Moscou.
Vestiram gorros para o cobrir o rosto —até então, até mesmo quando davam entrevistas, eram anônimas—, e tocaram o que classificaram como uma oração punk, “Virgem Maria, Tire o Putin do Poder”. A performance, que criticava o apoio da Igreja ao político, durou 90 segundos, foi ao YouTube, e causou reboliço no país.
Alyokhina conta do caso e de todas as suas consequências —como as greves de fome que fez— em “Riot Days”, mas diz que, desde então, o governo tem endurecido no que chama de perseguição política.
“Prendem ativistas e também pessoas que só estão por perto. E, agora, as penas estão maiores”, diz. “Mas temos redes sociais, ainda não somos a China. Só que, há pouco, passaram uma lei em que agora o governo pode derrubar sites internacionais, como o YouTube ou o Facebook. Eles ainda não a usaram, mas podem oficialmente fazer isso.”
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