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Cinema Oscar 2020

Tom Hanks está estupendo em filme que consegue fugir do piegas

'Um Lindo Dia na Vizinhança' traz ator como ele gosta, interpretando um personagem real num longa edificante

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Um Lindo Dia na Vizinhança

  • Quando Estreia nesta quinta (23)
  • Classificação 12 anos
  • Elenco Tom Hanks, Matthew Rhys e Chris Cooper
  • Produção EUA, 2019
  • Direção Marielle Heller

A garotada brasileira teve Xuxa e suas brincadeiras histéricas. Os meninos americanos cresceram assistindo a Mister Rogers e seus conselhos para a vida. 

A única semelhança entre esses apresentadores de TV voltados ao público infantil é a grande audiência que cada um teve em seu país. Fred Rogers foi um tipo único, e um novo filme estrelado por Tom Hanks mostra bem isso.

“Um Lindo Dia na Vizinhança” traz o ator exatamente como ele gosta —num filme edificante, interpretando
um personagem real. Vai arrebatar novamente elogios pela incrível composição de Rogers, um tipo que é obscuro por aqui, ainda que conhecidíssimo do público americano. Mas o filme não fica só nessa cópia caprichada.

Na verdade, é um pouco equivocado chamar “Um Lindo Dia na Vizinhança” de cinebiografia. Embora mostre Rogers gravando seus programas de TV e um pouco de seu dia a dia, o foco não está nele. O personagem central é um repórter, interpretado com intensidade por Matthew Rhys, da série “The Americans”.

Uma das estrelas do jornalismo investigativo, Lloyd Vogel é repórter da revista Esquire e consegue grandes furos. Parte para cima dos entrevistados. Tanta agressividade acaba trazendo problemas.

Como praticamente nenhum entrevistado aceita mais receber Vogel, sua editora dá a ele uma pauta tranquila. Tranquila demais. Ao receber a tarefa de fazer um perfil de Rogers, ele fica inconformado, mas é obrigado a ir.

Antes do primeiro encontro entre Vogel e Rogers, o filme trata de mostrar como a vida pessoal do jornalista está num momento delicado. Com filho pequeno e feliz com a mulher, ele é procurado por seu pai, que há muito tempo deixou de fazer parte de sua vida. Não aceita suas desculpas e rejeita sua aproximação.

Aí o filme assume contornos fantásticos. Quando ele passa a ter encontros com Rogers, parece que de forma mágica o apresentador cutuca feridas do relacionamento do jornalista com o pai. Isso vai tornar difícil o trabalho de Vogel, mas tudo tem uma boa razão para acontecer. Afinal, é um filme estrelado por Tom Hanks.

Aos poucos, Rogers vai ganhando a confiança do repórter e, de certa forma, manipula a vida do entrevistador com a visível intenção de deixá-lo mais próximo da reconciliação.

Resumido dessa forma, “Um Lindo Dia na Vizinhança” poderia ser piegas até enjoar, mas não é bem assim que a coisa funciona. Por causa da boa interpretação de Rhys e da estupenda performance de Hanks, o relacionamento dos dois flui na tela. O espectador reconhece estar vendo um filme que pretende chegar a momentos de ternura excessiva, mas há uma inteligência guiando o roteiro e a direção de Marielle Heller.

Há algumas boas sacadas visuais. Em seu programa de TV, Rogers comanda marionetes num cenário bonitinho e antiquado. Deve ser levado em conta que o programa pouco mudou desde a estreia, em 1968, e suas últimas transmissões, em 2001. O filme brinca ao recriar a cidade de Pittsburgh em maquetes no mesmo estilo do cenário.

Pedagogo, ministro da igreja presbiteriana, escritor para crianças e adultos, autor das canções que interpretava na TV e ativista vegetariano, Fred Rogers morreu em 2003, de câncer, aos 74 anos. Ele entra na galeria de tipos reais que Hanks levou para a tela.

Na filmografia do ator, o novo personagem faz companhia a Walt Disney, Jim Lovell (comandante da Apollo 13), Chesley “Sully” Sullenberg (piloto que pousou um avião no rio Hudson) e o editor Ben Bradlee, esse último no espetacular “The Post”.

Mesmo em algumas partes do filme servindo de escada para Matthew Rhys, Tom Hanks é o fio condutor de uma história bem contada e foi indicado ao próximo Oscar de ator coadjuvante.

Ele transforma “Um Lindo Dia na Vizinhança” em uma boa atração também para quem, como a maioria dos brasileiros, nunca tinha tido contato com Fred Rogers.

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