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Cinema

Sexo selvagem do filme 'Liberté' mostra que a carne atrai e dá nojo

Isolados em uma clareira, personagens se entregam a jogos eróticos que desafiam qualquer limite

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Liberté

  • Quando Estreia nesta quinta (12)
  • Classificação 18 anos
  • Elenco Helmut Berger, Marc Susini, Iliana Zabeth
  • Produção França, Portugal, Espanha, Alemanha, 2019
  • Direção Albert Serra

A palavra “Liberté” no título e a imagem de personagens em trajes de época que ilustra o cartaz podem induzir mais de um espectador incauto ao equívoco.

A “liberté” posta em cena por Albert Serra, cineasta fiel ao conceito de experimentação, evoca a “liberdade” contida no lema da Revolução Francesa. O que o filme mostra, porém, é uma noite de encontros de um grupo de libertinos.

Cena do filme 'Liberté', de Albert Serra
Cena do filme 'Liberté', de Albert Serra - Reprodução

Na origem, o termo “libertino” servia para designar os adeptos do pensamento livre de preconceitos, os defensores da liberdade de expressão. Nos nossos dicionários, no entanto, “libertinagem” ganha indisfarçável sentido moral ao se tornar sinônimo de “devassidão”, “contrários aos bons costumes” e “ofensivo”.

Mas, ao contrário do que o título sugere, quem aceitar o desafio de assistir a “Liberté” até o fim pode ter uma experiência de aprisionamento.

Em primeiro lugar, a elaborada plástica de suas imagens produz um efeito equivalente ao da hipnose. Isolados numa clareira, seus personagens se entregam a jogos sexuais que desafiam os limites do que mesmo nossa moral liberal costuma admitir.

A imersão na natureza, longe das regras da sociedade civilizada, facilita a supressão das fronteiras. Ali, os nobres se entregam aos criados, a velhice e a feiura deixam de ser um bloqueio.

A ambientação noturna e a luminosidade rarefeita completam o quadro em que os personagens deixam seus papéis para se transformar em corpos que buscam somente o gozo.

A noite também impregna as imagens com a qualidade de sonho, uma espécie de limbo povoado por fantasmas e sombras. E reforça a condição de reféns de uma irrealidade palpável, o que todo mundo sente quando dorme ou assiste a um filme no cinema.

Mas a sucessão de atos sexuais produz um efeito contraditório. De um lado, há o prazer de espiar pelo buraco da fechadura, de ver uma indecência, atração que todo cidadão, de bem ou não, tem pelo sexo e que mantém a pornografia como gênero popular e oculto.

Esta isca, no entanto, serve para expor formas incomuns de gozo, que envolvem o que é considerado sujo (urina, sangue, esperma, ânus) ou degradante (chicotes, amarras, punições).

Albert Serra prolonga, assim, sua proposta de cinema radical, que se caracteriza em extrair os personagens da história-mausoléu, na qual eles não passam de referências fixas num tempo abstrato.

Em vez de pretender reconstituir a história segundo um padrão de verossimilhança, “Liberté” procura o caminho dos corpos. Para isso, Serra nos força a reconhecer que a carne é sedutora e repugnante, que seu odor oscila do agradável ao fétido e que o julgamento moral ou estético só vem depois.

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