Leilão de obras de arte do banco Santos arrecada mais de R$ 16 milhões

Pregão liquida acervo de ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira, que ficou sob guarda do Museu de Arte Contemporânea da USP

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São Paulo

O primeiro dos dez dias de leilão de uma coleção de cerca de 2.000 obras de arte que pertencia ao banqueiro Edemar Cid Ferreira arrecadou pouco mais de R$ 16 milhões, nesta segunda (21), em um pregão da casa paulistana James Lisboa.

Vários trabalhos atingiram cifras milionárias, a exemplo de uma gigantesca tela de 16 metros de comprimento do mestre americano do minimalismo Frank Stella, "The Foundling N#6", arrematada por R$ 4,2 mi —o lance inicial era de R$ 3 mi.

Uma acrílica sobre lona dos anos 1980 de Cildo Meireles, "O Muro", foi arrematada por R$ 1,3 mi, dezenas de vezes o valor do lance inicial, de R$ 20 mil. Outro trabalho do artista saiu por R$ 950 mil.

Já um estudo de 1933 feito por Tarsila do Amaral para a pintura "Operários", uma de suas mais importantes, saiu a R$ 1,2 mi —o lance original era de R$ 32 mil. A escultura “Primeiras Núpcias”, de Tunga, saiu por pouco mais de R$ 1 mi.

Os preços estavam defasados, pois foram estabelecidos há quase 15 anos .

Estudo para a tela 'Operários', de Tarsila do Amaral, datada de 1933, uma das principais obras no leilão de James Lisboa - Reproduzido no catálogo raisonné de Tarsila do Amaral

O objetivo do pregão, o maior já realizado pelo leiloeiro que atua há décadas no mercado, é arrecadar fundos para os credores da massa falida do banco Santos, do qual Cid Ferreira era dono. Quando faliu, em 2005, a instituição financeira deixou um rombo de mais de R$ 3 bilhões.

O pagamento das obras é feito à vista, com o valor depositado direto na conta da massa falida, acrescido de 5% de comissão para o leiloeiro.

As vendas, que se estentem até o dia 2 de outubro, estão liquidando uma coleção que estava sob a guarda do Museu de Arte Contemporânea da USP, o MAC, em São Paulo, onde chegou em 2005 por decisão judicial, após o banco ter a falência decretada. Outros seis museus também receberam obras que pertenciam a Cid Ferreira.

Além de importantes pinturas modernas e contemporâneas de artistas brasileiros, o acervo sendo vendido tem obras de referência na fotografia, com cerca de mil imagens que contam a história dessa arte, desde o final do século 19 até o presente, segundo Helouise Costa, curadora de fotografia do MAC.

A foto mais cara da noite saiu por R$ 180 mil, uma imagem em preto-e-branco de um seio feminino do fotógrafo americano Richard Avedon.

Durante o período em que ficaram sob a guarda do MAC, o museu diz ter investido R$ 20 milhões em dinheiro público para a conservação e catalogação das obras, mas uma decisão judicial do ano passadou só reverteu ao museu R$ 37 mil desse montante. A instituição pedia o ressarcimento em obras, sobretudo as que foram expostas nas 17 mostras organizadas a partir do acervo.

Na semana passada, o próprio Cid Ferreira pediu ao juiz Paulo Furtado de Oliveira, da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais da cidade de São Paulo, que cancelasse o leilão e doasse as obras ao MAC. Ele argumentou que as vendas vão esquartejar a coleção, desvalorizando o conjunto e fazendo com que as obras percam valor de mercado.

Na petição, Cid Ferreira afirma ainda que os eventuais recursos financeiros trazidos aos credores pela liquidação das obras de arte são inferiores em relação à importância da coleção, que considera “patrimônio nacional”.

O resultado da primeira noite já superou a estimativa inicial de arrecadação do leilão, da ordem de R$ 10 milhões, no prospecto de Vânio Aguiar, o administrador da massa falida do banco.

Ainda faltam ser ressarcidos R$ 1,2 bilhão aos credores do banco Santos.

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