Descrição de chapéu

Boneco amarelo de Osgêmeos fica tímido longe da rua e no museu

Exposição dos grafiteiros surpreende, porém, com série de esculturas e fotos do movimento break em São Paulo

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São Paulo

Osgêmeos: Segredos

  • Quando Até 22/02/2021
  • Onde Pinacoteca - Praça da Luz, 2 - São Paulo
  • Preço R$ 25; é necessário agendamento prévio
  • Link: https://pinacoteca.org.br

Uma das imagens mais vistas nas redes sociais nesta reabertura da cultura em São Paulo é a fotografia de um boneco inflável de 17 metros de altura, que está na entrada da mostra dos grafiteiros Osgêmeos na Pinacoteca. A peça, lúdica e bonita, foi feita no ano passado para uma exposição num museu alemão de arte contemporânea e é exibida pela primeira vez no Brasil.

O balão gigante resume bem o que se verá inúmeras vezes dali em diante –um boneco amarelo de pernas finas e cintura meio quadrada, a ilustração ícone dos artistas. Ele aparece dançando break em cima de um piano, numa escultura ao lado do instrumento, em quadros pequenos no início da mostra, em telas gigantescas do meio para o fim e, claro, grafitado em uma das paredes.

Boneco inflável de 17 m de altura em mostra na Pinacoteca - Ronny Santos/Folhapress

Como Bombril, tem 1.001 utilidades, mas a diversão inicial ao ver o personagem em diferentes formatos e posições acaba por se tornar fadiga no decorrer da mostra, graças à repetição exaustiva da figura. Uma coisa é se deparar com o personagem nas ruas da cidade, mas outra bem diferente é o ver replicado em sequência na Pinacoteca.

Quando em seu habitat urbano natural, o boneco dialoga com os pilares de pontes ou muros nos quais é pintado, como por exemplo num viaduto do Glicério, em São Paulo, no qual aparece "saindo" de dentro da parede, como se morasse ali; ou quando é visto pichando um muro na praça Roosevelt. O concreto é o suporte para a arte da dupla, assim como uma tela é a base para um pintor.

A vivacidade do grafite se perde quando o personagem adentra o museu pintado em telas, ganhando imediatamente uma cara de quadro colorido feito em série. Ele aparece grafitado em uma das paredes no final da mostra, mas a tentativa de trazer a rua para dentro da sala expositiva resulta num boneco tímido, que some no meio das gigantescas pinturas da dupla e que não tem o cinza do concreto ao seu redor para fazer seu amarelo natural sobressair.

Mas “Osgêmeos: Segredos” também tentou reproduzir o ambiente urbano no museu de outras formas, estas muito bem-sucedidas. Por exemplo, a cenografia excessiva de algumas salas, como a explosão de cores do octógono e as imensas paredes azuis do começo da mostra, são acertadas, já que a obra da dupla é maximalista e supercolorida por natureza.

A overdose de informação domina também a sala dedicada à infância e à adolescência dos irmãos, onde bloquinhos de desenho antigos, fotografias de família, cadernos de escola, revistas e fanzines disputam espaço nas vitrines. A bagunça aparente de material de arquivo mimetiza a estética das tags e das pichações, formada pelo atropelo de palavras, umas por cima das outras. Tudo culmina em uma bela parede, mais adiante, com o termo “osgêmeos” escrito em centenas de tipografias diferentes.

A exposição também ganha quando se debruça sobre a história do break em São Paulo, com vídeos e fotos de grupos de jovens reunidos na estação São Bento do metrô, um movimento cultural do qual Gustavo e Otávio Pandolfo participaram ativamente. Para efeito de comparação, a efervescência do hip-hop à brasileira, no final dos anos 1980, não ganhou a farta documentação que o movimento punk paulistano da mesma época recebeu, e a mostra na Pinacoteca supre tal lacuna.

A pouca documentação é um tanto irônica, porque o rap da década de 1980 parece ter tido uma influência mais duradoura na cultura jovem paulistana do que o punk. Quem passeia hoje pela Galeria do Rock, em São Paulo, quase não encontra roupas para punks, muito menos esta tribo em si, mas se depara com um andar inteiro dedicado à cultura hip-hop, que segue forte com lojas de street wear e de sprays e canetas para grafite.

Talvez o mais surpreendente do conjunto de cerca de 600 peças expostas sejam as esculturas e pinturas feitas na década de 1990. Bonecos e pedaços de pau​ dentro de caixinhas de madeira, objetos em frascos com líquidos e até pequenas telas pretas com ilustrações quase abstratas. Tudo um pouco assustador, uma iconografia inusual que os irmãos abandonaram à medida em que conquistaram as paredes do mundo com seus bonecos amarelos.​

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