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Iara Rennó lança disco erótico que expande os limites da música

'AfrodisíacA' não é um álbum que agrade a qualquer um, mas traz inquietude diversa e talentosa

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AfrodisíacA

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  • Artista Iara Rennó

“AfrodisíacA”, de Iara Rennó, é um disco incomum. Não apenas pela sonoridade nada simples, na qual música mínima serve de moldura para poemas fortes, numa quebra de expectativas o tempo todo. O som de cada palavra é tão importante quanto a mensagem do verso.

Esse exercício de palavras usadas como se fossem acordes pode aproximar a cantora e compositora a um trabalho singular da MPB —o álbum “Ou Não”, de 1973, de Walter Franco— e, ao mesmo tempo, a leva para longe de seus discos anteriores, mais entregues ao formato consagrado de canção.

Como o título antecipa, “AfrodisíacA" é arte erótica, expandindo limites da música. Sua concepção é bem diferente dos trabalhos fonográficos que Rennó lança desde 2003, passando pelos álbuns com a banda Dona Zica e seus cinco discos na carreira solo. Quem buscar por música comportada vai ter uma surpresa.

O que se ouve é um punhado de poemas sonorizados, em registros nos quais podem ser reconhecidas (ou não) vozes de seus convidados –Alice Ruiz, Alzira E, Anelis Assumpção, Aretha Sadick, Arnaldo Antunes, Arrigo Barnabé, Ava Rocha, Camila Pitanga, Elza Soares, Fabrício Oliveira, Gustavo Galo, Leo Cavalcanti, Linn da Quebrada, Negro Leo, Tetê Espíndola e Tulipa Ruiz.

Criado com gravações registradas de forma esparsa, em vários momentos diferentes, “AfrodisíacA” é bem difícil de ser classificado, no melhor sentido dessa indefinição. A estranheza vem das chamadas faixas-poemas, que têm ponto de partida o livro “Língua Brasa Carne Flor”, que Iara Rennó publicou em 2015 pela editora Patuá. Mas há espaço para canções em formato mais tradicional.

A declamação de versos em faixas como “Língua Brasa”, “Nas Curvas” ou “Vem Mais” convive sem traumas com o quase heavy metal de “Tara”, a levada jazz de “A Não Ser que Me Ame” e “Amor a Morar”, ou o flerte delicado com o pop em “Entre as Árvores”. Em alguns momentos, como “Outras Asas” e sua percussão inventiva, a mistura de poema com estrutura musical fica exposta claramente.

A diversidade sonora do álbum é costurada pela temática constante. As letras contemplam amor e sexualidade, tanto em discurso direto, no qual palavrões pertinentes podem incomodar algumas pessoas, quanto em versos sofisticados. Logo na faixa que abre o disco, “Língua Brasa”, há sedução em linhas como “dois devassos atrás dos prédios/ amassos/ mão nos meus peitos e um dedo médio/ por baixo”.

O lançamento de “AfrodisíacA”, durante a pandemia, também mostra uma opção por caminhos alternativos. Em julho saiu o primeiro de três EPs, divulgados um a cada mês. A reunião dessas faixas no álbum é só um dos componentes de um projeto maior. Criações visuais, realmente uma denominação mais adequada do que as chamar de videoclipes, continuam pipocando no canal oficial da cantora no YouTube.

É também nessa plataforma que Iara Rennó divulga encontros virtuais que levantam a discussão do disco entre bate-papos, videoarte e até receitas culinárias. Nesses eventos, sob o nome de "AfrodisíacA Sarau", ela já recebeu Tetê Espíndola, Moreno Veloso, Negro Leo e outros amigos. Os poemas que estão no disco e uma safra de inéditos serão reunidos no livro "AfrodisíacA Poesia", em pré-venda no Instagram a partir de dezembro.

Além de todos esses desdobramentos em mídias diferentes, o álbum atiça a curiosidade de quem gostar do que está ouvindo. Numa possível volta aos shows presenciais, será interessante ver como Iara Rennó vai levar um trabalho tão diferente ao palco e, principalmente, sentir a reação do público.

Definitivamente, “AfrodisíacA” não é para todos os públicos. Mas discos com tanta inquietude nunca são.

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