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Cinema

Novo 'Frankenstein' foge do cinema feijão com arroz, mas não fascina

Estética visual do filme é tão ostentada que chega a confundir o direcionamento do olhar do espectador

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O MISTÉRIO DE FRANKENSTEIN

  • Quando Disponível
  • Onde Cinema Virtual; Now
  • Preço R$ 24,90
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Elli Tsitsipa, Andonis Goritsas e Danai Papoutsi
  • Produção Grécia, 2020
  • Direção Costa Zapas

O que mais um filme inspirado em “Frankenstein” pode trazer de novo (ou de diferente) à longa lista de versões cinematográficas do romance de Mary Shelley? A trama e as imagens fortes desse Prometeu moderno surgiram na forma literária em 1818 e vêm, com altos e baixos, assombrando o cinema pelo menos desde 1910.

“O Mistério de Frankenstein”, produção grega de 2020, retoma o mito sem pretender atualizar sua questão central –a tentação humana de se sobrepor à natureza, de assumir o papel divino de criador, de dominar uma força capaz de superar a morte, gerando, no fim das contas, um monstro.

O diretor Costas Zapas se inspira no paradigmático romance de Shelley e o funde a seu próprio livro, “Frankenstein: REC”, para compor o roteiro. Assim, o projeto busca ter vida própria, se liberando de comparações com versões anteriores e tentando afirmar sua originalidade.

O longa acompanha uma jovem repórter obcecada pela ideia que toda ficção esconde uma verdade. Quando um grupo teatral chega à cidade para apresentar uma montagem de “Frankenstein”, ela mergulha num mundo paralelo povoado por sombras, máscaras, duplos e personagens.

Na cena de abertura, vemos a personagem imersa numa situação onírica, assustada por uma criatura aterrorizante. O diretor parte dessa alteração perceptiva dos sonhos e a prolonga nas peripécias vividas pela protagonista.

Jornalistas no cinema têm a mesma função que os detetives, estão ali para desvendar fatos e fazer a história avançar. Mas Zapas recusa as convenções narrativas lineares, pois prefere a estilização plástica. Seu filme tem pouco interesse pela trama e está dedicado a criar imagens visualmente impactantes.

A manipulação da luz, a dessaturação das cores até a fotografia adquirir uma tonalidade monocromática irrealista, o trabalho dedicado da direção de arte e a teatralidade enfatizada na composição dos planos e na interpretação dos atores são aspectos evidentes dessa vontade de se diferenciar do cinema arroz com feijão, de criar um filme artístico.

O efeito colateral comum desse tipo de proposta, no entanto, é enrijecer as possibilidades expressivas, substituindo a dramaturgia pela visualidade. As formas são ostentadas de tal maneira, atraem tanto a atenção que passamos a olhar para elas em vez de as ver, desistimos de tentar ler o que elas dizem, pois elas escondem o vazio de sentido.

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