Livro mais vendido da França em 2020 com trama policial nos Alpes chega ao Brasil

'O Enigma do Quarto 622', de Joël Dicker, mistura banqueiro, espiões, assassinato e um resort de inverno

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São Paulo

Um escritor suíço tira férias e vai descansar num famoso hotel de montanha, mas se vê carregado, um tanto contra sua vontade, à tentativa de desvendar um mistério, que envolve uma morte, um banqueiro e espiões.

A sinopse já anuncia uma ótima trama policial para escapulir um pouco das preocupações pandêmicas, como lavar as mãos, usar máscaras e milhões de mortos.

Os franceses, que passaram por dois lockdowns, devem ter pensado a mesma coisa, e fizeram de “O Enigma do Quarto 622”, de Joël Dicker, o livro mais vendido na França em 2020.

“Todos nós nos sentimos atraídos pelo mistério, porque todos os seres humanos somos curiosos”, diz Dicker. “Parte do prazer que temos ao ler um livro, ou ver um filme ou uma série, vem de ativarmos, de forma artificial, esse mecanismo em nós que ama mistérios.”

homem branco de cabelo escuro e sem barba usando camisa jeans clara e um microfone; ao fundo, casa branca e árvore
O escritor Joël Dicker em Paraty, na Flip de 2017 - Bruno Poletti/Folhapress

O catatau de mais de 500 páginas do escritor de 35 anos vendeu cerca de 495 mil cópias na França —no Brasil, que tem o triplo da população francesa, o mais vendido de 2020, “Do Mil ao Milhão”, de Thiago Nigro, chegou perto de 350 mil cópias.

Como muitos escritores que atingem o sucesso de vendas, Dicker, porém, nunca foi unanimidade na crítica. Embora tenha ganhado, em 2012, com “A Verdade sobre o Caso Harry Quebert”, seu segundo romance, o grande prêmio da Academia Francesa, ele é constantemente apontado como autor para pessoas que não têm o hábito de ler e acusado de fazer literatura “easy reading”, espécie de equivalente, para os livros, à música de elevador.

A acusação ele vê como elogio. “Num mundo no qual os mais jovens, e as pessoas no geral, são parasitadas por seus celulares, pela televisão, pela internet, um mundo no qual as pessoas leem cada vez menos, quando esses artigos dizem isso de mim, é um elogio”, diz ele em conversa por vídeo.

Para ele, o trabalho de estimular a leitura dos que não têm o hábito de ler é muito importante. “A leitura e a cultura são a porta aberta para viver junto, para o encontro com o outro, para construir vida e personalidade. Todos deveríamos lutar para que todos tivessem acesso a isso, e para que as pessoas se fechem menos na internet.”

“O Enigma do Quarto 622” é seu quinto romance, e o primeiro que se passa na Suíça (e envolve bancos, como mencionado acima) —com exceção do primeiro, sobre resistentes franceses da ocupação nazistas que treinam na Inglaterra, os demais se passam nos Estados Unidos. Ele diz que era difícil inventar um história em sua cidade, Genebra, porque, quando escrevia, confrontava sua criação sempre à realidade e, ali, não conseguia seguir.

Este é, também, o primeiro livro em que o escritor protagonista leva seu nome. Nos livros de Dicker, sempre há um escritor, ou alguém que trabalha com a escrita, como a jornalista de “O Desaparecimento de Stephanie Mailer”, seu romance anterior. Seu maior sucesso, até aqui, “Harry Quebert”, adaptado para um seriado disponível no Brasil pelo Globoplay, tem como herói o escritor Marcus Goldman, cuja história familiar é o tema do livro seguinte, “O Livro dos Baltimore”. Desta vez, contudo, o protagonista se chama Joël Dicker.

Ele conta que queria brincar com o leitor. “Em ‘Harry Quebert’ eu criei esse personagem, o Marcus Goldman, que é completamente diferente de mim, e os leitores falavam ‘é você’, e quando a série saiu, falaram que o ator não se parecia comigo. Mas bom, porque Marcus não sou eu”, diz ele, rindo. “Então pensei: ‘quer saber, vou tentar criar um personagem que se chama Joël Dicker, para desestabilizar o leitor. Agora ele não diz: ‘é o Joël, que mora em Genebra, é você’. Não, ele diz ‘será que é você?’”, completa.​

O livro, que chega em fevereiro às livrarias do Brasil, depois de ter ganhado uma edição especial no clube de assinatura Intrínsecos, também não faria feio na televisão, com sua história de enigma à la Agatha Christie. Ele alterna duas épocas, entre Genebra e um hotel nos Alpes: 2018, a do escritor que só quer descansar, e a do crime que ele acaba tendo de investigar, cerca de 15 anos antes (o ano não é mencionado no texto), que envolve uma família banqueira tradicional e uma disputa entre sócios. E alterna o tom de mistério com humor e um pouco de romance.

Dicker diz que o sucesso de séries na TV deve muito ao romance, de origem no folhetim. “As séries recuperam os códigos do romance, que era um folhetim, publicado no jornal episódio por episodio, e as pessoas queriam saber. Tínhamos perdido um pouco de vista isso com o cinema, que, em um hora e meia, duas, raramente faz justiça ao livro”, diz ele.

As séries adaptadas de livros, porém, ele faz questão de lembrar, seguem sendo adaptações, uma das versões possíveis para um livro. “Não há uma verdade do romance, há tantas verdades quantos leitores, que vão, lendo, imaginando e fazendo a sua versão.”

O Enigma do Quarto 622

  • Quando 19 de fevereiro nas livrarias
  • Preço R$ 64,90 (528 págs.); R$ 44,90 (ebook)
  • Autoria Joël Dicker
  • Editora Intrínseca
  • Tradução Carolina Selvatici e Dorothée de Bruchard
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