Guitarrista do Iron Maiden explora seu lado cantor em novo projeto de hard rock

Adrian Smith se junta a Richie Kotzen, ex-Poison, em disco que homenageia anos 1970

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São Paulo

A junção de um dos guitarristas mais importantes do heavy metal com seu correspondente no glam rock resultou num disco que provavelmente vai estar nas listas de melhores do rock pesado no final deste ano.

“Smith/Kotzen”, álbum em parceria de Adrian Smith, do Iron Maiden, com Richie Kotzen, guitarrista de ampla carreira solo mas que também tocou no Mr. Big e no Poison —essa, ícone do metal laquê na virada dos anos 1980 para os 1990— traz uma sonoridade peculiar. O disco não remete, imediatamente, às bandas nem de um nem de outro.

As nove faixas do álbum, que chega ao streaming nesta sexta (26), estão mais para um hard rock com riffs de guitarra prontos para levantar estádios, repletas de refrãos a serem cantados de isqueiro aceso com o punho levantado para cima, no meio da multidão.

Os músicos Adrian Smith (esquerda) e Richie Kotzen (direita), que lançam disco do projeto Smith/Kotzen / março de 2021
Os músicos Adrian Smith (esquerda) e Richie Kotzen (direita), que lançam disco de projeto em conjunto - John McMurtrie

Há uma exuberância da guitarra nas músicas, como era de se esperar, com os guitarristas alternando solos melódicos e rasgados que chegam a se estender por mais de 40 segundos ininterruptos, a exemplo da faixa de abertura, “Taking My Chances”.

Em entrevista por telefone, Smith conta que tinha vontade de fazer um disco de hard rock já há alguns anos, pois cresceu na década de 1970 influenciado por esta sonoridade e por bandas como os ingleses do Humble Pie e o guitarrista de blues rock da Irlanda do Norte Gary Moore.

“Também acho [o hard rock] atemporal. Ouço coisas dos anos 1970 agora que ainda param em pé”, afirma.

O álbum foi escrito, produzido e gravado pela dupla entre 2019 e o início de 2020, boa parte nas ilhas Turcas e Caicos, um arquipélago a leste de Cuba com praias paradisíacas onde eles também aproveitavam para descansar. Os guitarristas se alternam no baixo e nos vocais no decorrer das faixas, e Kotzen toca bateria em cinco delas.

Há mais músicos estrelados no álbum, tornando o projeto quase um supergrupo: Nicko McBrain, colega de Smith no Iron Maiden, pega as baquetas em “Solar Fire”, e Tal Bergman, amigo e colega de turnê de Kotzen, é o responsável pelas baterias na hiper melódica “You Don’t Know Me” e na faixa final, “Til Tomorrow”.

Gravar com Kotzen, seu amigo de muitos anos e vizinho em Los Angeles, foi um processo mais relaxado e com menos pressão em comparação a fazer discos com o Iron Maiden, conta o guitarrista —a dinâmica tranquila possibilitou que o álbum fosse construído “tijolo por tijolo”, ele afirma, diferentemente de sua banda principal, em que os músicos gravam juntos, em sessões ao vivo no estúdio.

“Como [nós do Iron Maiden] tocamos há tanto tempo juntos, podemos fazer isso. Tem sempre essa energia frenética no estúdio, com seis pessoas diferentes, um produtor. Pode ser muito inspirador mas também um pouco desgastante. Com o Richie, íamos para o estúdio, tínhamos uma ‘jam’ e pensávamos ‘esta é uma boa ideia, vamos seguir’.”

Os fãs de Iron Maiden se deparam aqui com outra faceta do guitarrista que compôs ou ajudou a compor clássicos do metal como "2 Minutes to Midnight” e "Wasted Years” —a de cantor. Smith atuou como vocalista no início da carreira, por um período de quatro ou cinco anos na banda Urchin, ele conta, enquanto aprendia a tocar guitarra em segundo plano. Ele passaria se dedicar totalmente ao instrumento ao entrar para o Iron Maiden, em 1980.

De todo modo, ele afirma ter o canto no sangue e se sentir confortável neste lugar. “Sempre ouço o canto na minha cabeça, e talvez seja isso o que um cantor é, não sei. Ou talvez seja alguém que tenha a coragem de encarar um microfone.” Smith reconhece, contudo, que foi um desafio dividir este papel com Kotzen. O músico tem décadas de experiência nos microfones, seja em sua carreira solo ou como líder do trio The Winery Dogs.

A voz de Kotzen lembra bastante a de Chris Cornell —vocalista do Soundgarden e do Audioslave que se suicidou em 2017— emprestando à "Smith/Kotzen" uma pincelada sonora bem anos 1990. Há pouco mais de um ano, Kotzen afirmou numa entrevista que é um elogio ser comparado ao ídolo grunge, tido por ele como um dos maiores cantores de rock de sua geração, e que não negaria um eventual convite para cantar numa ressurreição do Soundgarden.

Questionado sobre o papel do heavy metal na indústria da música hoje, Smith diz acreditar que o estilo passou a ser um pouco mais underground, mas que está vivo pois resiste à passagem do tempo e ainda é capaz de angariar muitos novos fãs. O metal e o hard rock são “diferentes da música pop, que é pop por definição”, acrescenta, lembrando que bandas como AC/DC e o próprio Iron Maiden ainda seguem fortes no cenário.

Dois virtuoses da guitarra

. Adrian Smith é mais conhecido por ser um dos guitarristas do Iron Maiden, mas ele passou um tempo afastado do grupo, na década de 1990

. Naqule período, lançou um disco meio obscuro de um projeto conhecido como ASAP, e em seguida tocou em dois álbuns de Bruce Dickinson, vocalista do Iron Maiden que também havia deixado a banda; em seguida, os dois retornaram ao grupo

. Ritchie Kotzen tem uma longa carreira solo, com mais de 20 álbuns lançados sob seu nome

. O vocalista e guitarrista, contudo, ficou famoso ao participar do disco "Native Tongue", da banda de metal laquê Poison, em 1993, e por seus anos tocando no Mr. Big, no final da década de 1990

. Kotzen é também o guitarrista e cantor da banda de hard rock The Winery Dogs, junto ao mestre das baquetas Mike Portnoy, do Dream Theater

Smith/Kotzen

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  • Autor Adrian Smith e Ritchie Kotzen
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