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Filho de Bob Dylan celebra o cenário musical da Califórnia em filme

'Echo in the Canyon', com Jakob Dylan, mostra o bairro Laurel Canyon, em Los Angeles, onde vivem vários grandes músicos

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Echo in the Canyon

Se depois dos muito breves 82 minutos que duram o delicioso documentário "Echo in the Canyon" você não sair cantarolando uma das músicas da trilha sonora incrível, que é justamente o seu tema, deve haver algo errado em seu coração.

Seja a divertida “Monday, Monday”, do The Mamas and the Papas, ou o hit dos Beach Boys “California Girls”; seja a romântica “It Won’t Be Wrong”, dos Byrds, na linda versão de Jakob Dylan e Fiona Apple, ou até a ultraelaborada “Expecting to Fly”, do Buffalo Springfield, uma das canções gravadas entre 1965 e 1967 por músicos americanos, em sua maioria, mas também canadenses e ingleses vai ressoar em sua memória.

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Jakob Dylan e Tom Petty em cena do documentário 'Echo in the Canyon', de Andrew Slater - Divulgação

O som viajandão, algo transcendental, do meio da década de 1960, produzido em Laurel Canyon —uma área especialmente montanhosa de Hollywood Hills, em Los Angeles, que concentrava um grande número de músicos—, era quase que uma resposta californiana ao pop dos Beatles. O quarteto inglês, formado em 1960, explodiu na Inglaterra em 1963 e foi consagrado mundialmente em 1964. A invasão britânica, liderada por eles, teve, em 9 de fevereiro daquele ano, um marco importante.

Foi nesse dia que 73 milhões de americanos, ou 40% da população do país na época, assistiram a John, Paul, George e Ringo tocarem ao vivo pela primeira vez nos Estados Unidos, no programa de televisão “The Ed Sullivan Show”.

O impacto da chegada dos Beatles chacoalhou o mundo da música pop americana, que reagiu com inspiração, produzindo faixas que misturavam o estilo folk com o rock e letras inspiradas. O som de bandas como The Beach Boys, The Byrds, The Mamas and the Papas e Buffalo Springfield era inovador e traduzia em canções o estilo de vida dos seus autores, que frequentavam a casa uns dos outros, fumavam maconha e compunham juntos.

“Echo in the Canyon”, dirigido por Andrew Slater —"The Late Show with James Corden"—, é conduzido por Jakob Dylan, líder da banda Wallflowers e filho de Bob Dylan, que entrevista músicos que viveram aquele momento, como Brian Wilson, dos Beach Boys, David Crosby e Stephen Stills, do supergrupo Crosby, Stills, Nash & Young —que teve uma primeira encarnação como Crosby, Stills & Nash e em 1968 ganhou Neil Young como quarto membro—, e Michelle Phillips, do The Mamas and the Papas.

Também fala com músicos que estavam na ativa na mesma época, como Ringo Starr e Eric Clapton, assim como artistas mais jovens influenciados por eles, como Tom Petty e Jackson Browe. Com artistas mais jovens ainda, como Beck, Cat Power, Regina Spektor e Fiona Apple, Jakob Dylan faz um show em homenagem aos 50 anos do “som californiano”, em que apresentam músicas das bandas homenageadas.

As versões de Jakob Dylan e seus amigos são um dos pontos altos do documentário, muito bem produzido e conduzido com leveza, sem perder a emoção. Uma coisa engraçada é notar como Dylan parece não se empolgar tanto com as histórias narradas pelos músicos que ele entrevista, como faz quem está do lado de cá da tela. Talvez, sendo filho de quem é, tenha testemunhado situações muito mais inusitadas na infância e na adolescência, em casa.

cena de filme
Regina Spektor e Jakob Dylan em cena do documentário 'Echo in the Canyon', de Andrew Slater - Divulgação

Por outro lado, o jeito "cool" de Dylan é certamente um dos ingredientes mais importantes para fazer com que os músicos topem se encontrar com ele nos estúdios originais em que as canções foram gravadas na época e fazer participações especiais, contar passagens íntimas que talvez não tivessem coragem de entregar a um desconhecido.

Num momento, Dylan reúne Beck, Regina Spektor e Cat Power em uma casa em Laurel Canyon, que não fica clara se é dele ou se foi emprestada ou alugada para as filmagens, e os quatro se sentam numa sala ampla diante de uma mesinha com vários vinis das bandas que estão homenageando e conversam sobre elas, teorizam sobre o que pode ter levado esses músicos a esse auge de criatividade e onde começa e como termina essa fase de ouro da música californiana, que criou um som capaz de mudar o rumo e a importância da música pop dali em diante.

Neil Young é uma ausência sentida desde o início do documentário. Mas faz uma aparição mais que especial tocando um solo de guitarra sozinho, num estúdio em que é filmado pela janela, que acompanha os créditos finais. “Echo in the Canyon” narra uma trama incrível a respeito de um período e um lugar especiais na história do pop. Neil Young deixa a guitarra falar por ele.

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