Arnaldo Jabor disse ter nostalgia por cadeira elétrica; relembre polêmicas

Cineasta morto nesta terça-feira também criticou de manifestações de junho de 2013 até Bolsonaro

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São Paulo

Já com 30 anos de carreira e nove filmes realizados compondo uma obra cinematográfica consistente, em 1991 Arnaldo Jabor ainda sofria para pagar as contas e resolveu, por isso, aderir ao jornalismo. Começou como colunista da Folha, de onde seguiu para os jornais O Globo e O Estado de S.Paulo.

Arnaldo Jabor, cineasta, roteirista, diretor de cinema e TV, produtor cinematográfico, dramaturgo, crítico, jornalista e escritor brasileiro descendente de judeus libaneses, como comentarista na TV Globo - Reprodução/TV Globo

Escrevendo sobre política, economia, cinema, literatura e outros fenômenos comportamentais, Jabor se mostrou dono de uma verve provocativa. Mas foi sua entrada na TV que rendeu a ele mais projeção e repercussão. Com frases eloquentes e gestos largos, Jabor soube unir artifícios do cinema e do teatro ao comentário jornalístico. "É quase uma performance, não apenas opinião. Um cinema de mim mesmo, em que sou ator e diretor", ele disse no programa Roda Viva em abril de 2005.

Jabor começou fazendo inserções de um minuto e meio nos principais telejornais da TV Globo e se revelou um grande comunicador televisivo, protagonizando vários momentos polêmicos, sobretudo ao comentar temas políticos após o governo Lula. Veja abaixo.

Em uma de suas sessões no telejornal, ao falar a respeito da questão do tráfico de drogas, o cineasta fingiu que cheirava cocaína. O pó era na verdade açúcar.

Em junho de 2013, durante as manifestações que pediam a redução da tarifa de ônibus em São Paulo, o cineasta defendeu no ar que os manifestantes eram jovens filhos de uma classe média e que estes sofriam de "ignorância política, burrice misturada a um rancor sem rumo". Ele depois se retratou na rádio CBN dizendo que os protestos foram elevados a uma condição de força política original.

Numa outra fala na rádio CBN no ano seguinte, Jabor disse sentir nostalgia pela cadeira elétrica ou injeção letal quando discorria sobre os assassinos de Bernardo, menino de 11 anos encontrado morto em Três Passos, no interior do Rio Grande do Sul. "A gente começa a pensar absurdamente. Um absurdo leva a outro. Um crime hediondo nos faz desejar um outro crime. Assim se cria o tecido da violência generalizada", ele afirmou.

Em março de 2016, durante o Jornal da Globo, Jabor fez silêncio enquanto segurava placas contendo as famosas frases da música "Que País É Esse?", da banda Legião Urbana, numa crítica à corrupção dos políticos brasileiros, à época sob a presidência de Dilma Rousseff, da qual foi muito crítico.

Jabor fez também duras críticas a Bolsonaro. No segundo ano do mandato do governante, Jabor afirmou que o presidente tem "problema sexual" na ocasião em que Bolsonaro fez insinuações machistas contra a repórter Patrícia Campos Mello, da Folha, que revelou o esquema de disparo de fake news em sua campanha eleitoral, ao dizer que a jornalista queria "dar o furo" a "qualquer preço".

Seja em vídeos ou em textos, Jabor era notado pelas críticas que fazia aos atores políticos e sociais do momento, a ponto de ser um dos autores mais compartilhados nas redes sociais com frases que ele não escreveu, algo que ocorre também com Clarice Lispector e Caio Fernando Abreu. Em 2019, um dos textos que mais circularam atribuindo falsa autoria a Jabor foi uma crítica à música "Que Tiro Foi Esse?", de Jojô Toddynho, que se espalhou pelo ​WhatsApp em 2019.

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