Cildo Meireles retira obras de exposição no Masp após museu vetar fotos do MST

Trabalhos estariam na mostra 'Histórias Brasileiras', a maior do calendário deste ano na instituição

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São Paulo

Cildo Meireles pediu ao Masp para que três obras suas não sejam incluídas na exposição "Histórias Brasileiras", a maior do Museu de Arte de São Paulo neste ano, que começa em julho. Os trabalhos fariam parte de dois núcleos distintos da mostra e estavam previstos pela curadoria.

As obras que seriam emprestadas são o quadro "Buraco para Jogar Políticos Desonestos", de 2011, "Mutações Geográficas: Fronteira Vertical (Yaripo)", realizado entre 1969 e 2015, e uma bandeira produzida em 2020 para a campanha "Use Amarelo pela Democracia", realizada por este jornal.

Bandeira do Brasil estilizada: está em pé, com as cores invertidas e ao centro, lê-se "Ditadura é uma merda"
Obra de Cildo Meireles para campanha #useamarelopelademocracia - Cildo Meireles

O pedido, que se deu por um email enviado ao museu recentemente, acontece após a instituição vetar um conjunto de fotografias retratando o Movimento Sem Terra, o MST, e movimentos indígenas na exposição.

O veto levou o núcleo "Retomadas" a ser cancelado por suas curadoras, Clarissa Diniz e Sandra Benites. O museu afirma que a recusa das obras se deu porque elas foram requisitadas após o prazo definido pela produção e nega que esteja relacionado ao conteúdo das fotos.

"Os movimentos sociais, as questões indígenas, a luta pela reforma agrária, entre outras manifestações, são temas importantes para mim enquanto artista e cidadão. Portanto, me sentiria constrangido em participar desse evento", disse o artista, no email enviado ao museu.

Por telefone, Meireles afirma que "por regra, em qualquer divergência entre uma instituição e indivíduos, meu coração sempre vai ficar do lado do indivíduo".

A reportagem entrou em contato com o Masp pedindo comentários, mas não houve resposta até o momento da publicação.

Curadora dos dois núcleos nos quais as obras de Meireles estariam, junto a outros curadores da equipe do museu, Lilia Schwarcz afirma em nota lamentar profundamente a saída do artista.

Entenda a crise

O Masp, principal museu do país, enfrenta uma crise após o cancelamento de um evento de lançamento do livro de Guilherme Boulos, do PSOL, e depois da decisão de duas curadoras de cancelarem um núcleo da maior mostra do ano na instituição, "Histórias Brasileiras".

Foi no começo deste mês que Sandra Benites, curadora-adjunta que acaba de pedir demissão após o caso, e Clarissa Diniz, curadora convidada da instituição, informaram que cancelariam o núcleo denominado "Retomadas". O motivo, segundo elas, foi um veto do museu a um conjunto de fotos do MST que constituiria o cerne desse núcleo.

O museu afirma ter recebido a relação desse material da curadoria com pouco menos de três meses de antecedência da abertura da mostra, prevista para julho, o que extrapola os prazos para a execução de procedimentos como a solicitação do empréstimo das fotos e a cessão do uso de imagens. Também nega que a ação seja censura de conteúdo.

Leia a nota, na íntegra, da curadora convidada Lilia Schwarcz

"Fazendo um retrospecto do caso do pedido de demissão das curadoras Sandra Benites e Clarissa Diniz da exposição 'Histórias Brasileiras', e o consequente cancelamento do núcleo 'Retomadas', fui a favor desde o início de que a produção e o Masp esperassem pelas fotos e flexibilizassem os prazos para que o coração desse núcleo, composto pelas seis fotos do MST, se mantivesse intacto. Fui voto vencido naquela ocasião; antes, portanto, de toda essa polêmica. Sou atualmente uma curadora convidada do museu e a decisão final não está sob meu controle.

Não houve, porém, no meu entender, censura por parte do Masp à temática do MST, mas erros na condução e no diálogo essencial entre a instituição e as curadoras. A polêmica acabou gerando, sim, a saída de Cildo Meireles do núcleo 'Paisagens', a qual lamento profundamente. Faço a curadoria desse núcleo junto com Guilherme Giufrida, e adianto que duas obras, desse nosso núcleo de 'Paisagens', não foram incluídas na exposição pela mesma alegação de prazo. O mesmo ocorreu com outro núcleo para o qual faço a cocuradoria, chamado 'Bandeiras e Mapas'.

Sendo assim, meu papel nesse episódio tem sido, o tempo todo, o de tentar aproximar o museu e as curadoras do núcleo 'Retomadas' —e as curadoras sabem disso. Acredito que o Masp esteja aprendendo com seus erros e deverá reformular seus procedimentos."

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