Por que tantos sertanejos como Vivi Araújo morrem em acidentes na estrada

Agenda intensa de shows em cidades pequenas, fora da rota dos aviões, obriga cantores do gênero a caírem na estrada sempre

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São Paulo

A morte da cantora Vivi Araújo aos 22 anos nesta sexta-feira, após seu veículo colidir como uma mureta em Goiás, faz o público se lembrar de traumas antigos com ídolos do sertanejo perdidos em cenas semelhantes.

Augusta Vitória Teixeira de Araújo ficou conhecida por covers e estava em ascensão. No ano passado, participou do Programa da Eliana no SBT. Ela acumulava 110 mil seguidores no Instagram e 673 mil no TikTok, em que publicava suas versões de músicas sertanejas e vídeos sobre sua vida.

A cantora e radialista Vivi Araújo
A cantora e radialista Vivi Araújo - Instagram/Reprodução

O sertanejo é marcado por acidentes fatais. Foi o caso de Emival Camargo, irmão e o primeiro parceiro musical de Zezé, que morreu aos 12 anos, em 1975, enquanto retornava de um show em Imperatriz, no Maranhão. O acidente, que pôs fim à dupla Camargo e Camarguinho, é retratado na cinebiografia "Dois Filhos de Francisco".

Foi, ainda, o mesmo caso de João Paulo, que fazia dupla com Daniel, há 25 anos. Ele morreu enquanto dirigia de São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, onde tinha se apresentado, em direção a Brotas, no interior paulista, depois de capotar seu sedan BMW. O veículo caiu no canteiro central da rodovia dos Bandeirantes e pegou fogo. Preso às ferragens, o cantor não conseguiu escapar das chamas.

Houve também a capotagem que matou Cristiano Araújo em 2015. O cantor, que vivia o melhor momento de sua carreira, tinha acabado de fazer um show em Itumbiara, a 200 quilômetros de Goiânia, quando seu Land Rover capotou na rodovia Transbrasiliana, entre Goiatuba e Morrinhos, em Goiás.

No ano passado, o sertanejo Luiz Aleksandro Talhari Correia, da dupla Conrado e Aleksandro, e mais cinco pessoas, morreram em um acidente com o ônibus da banda na rodovia Régis Bittencourt, em Miracatu, no interior paulista.

Os casos mais recentes são provas de que nem nos dias atuais, com o avanço da engenharia automotiva, as estradas são seguras para os cantores de sertanejo, o gênero musical que mais toca nas rádios Brasil afora e chega aonde a internet ainda é precária.

Isso porque são eles, diferentemente de astros da MPB, do pop e do rock, que vão até os rincões do país para se apresentarem, incluindo em suas turnês não apenas as capitais, mas também as cidades de médio e pequeno porte.

Luan Santana, o cantor brasileiro mais tocado nas rádios na década de 2010, fazia até 25 shows por mês em 2011, quando estourou alavancado pelo sucesso de "Meteoro". Ele comemorava que podia descansar quando conseguia fazer "só" 15 shows por mês.

Para cumprir uma agenda tão intensa, há ocasiões em que mesmo os sertanejos mais ricos, que alugam ou compram jatos, precisam se deslocar de carro ou de ônibus entre um show e outro. É comum que o deslocamento seja terrestre.

Com isso, os sertanejos, mais do que cantores de qualquer outro gênero, acabam por propor uma cartografia do Brasil que vai além das metrópoles, exaltando as cidadezinhas em seus CDs e DVDs gravados ao vivo. Embora seja uma atitude da qual muitos se orgulham, é também o que põe suas vidas em risco nas estradas.

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