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Demi Lovato, em 'Holy Fvck', mistura rock com masturbação e religião

Com disco novo, ex-cantora da Disney retoma sonoridade do início da carreira, agora madura e falando de temas espinhosos

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Demi Lovato enterrou seu lado pop e agora quer desesperadamente ser roqueira. É o que fica claro com seu novo disco, "Holy Fvck", lançado nesta sexta (19), em que a ex-estrela da Disney fala de sexo, religião, vício em drogas e até de morte ao longo de 16 faixas cheias de guitarras e baixos barulhentos.

A mudança de sonoridade caminha junto com a volta do pop punk e do pop rock, ritmos que reconquistaram a popularidade com a ajuda de Willow, Olivia Rodrigo e até de Miley Cyrus, que era colega de Lovato quando ambas atuavam em séries da Disney.

Demi Lovato lança 'Holy Fvck', disco em que quer voltar a ser roqueira
Demi Lovato lança 'Holy Fvck', disco em que quer voltar a ser roqueira - Divulgação

Foi nessa época, aliás, que Lovato começou a engatinhar como roqueira. Seus primeiros álbuns "Don’t Forget" (2008) e "Here We Go Again" (2009) tinham faixas de rock, só que daquele tipo bem adolescente –em "La La Land", por exemplo, ela se sentia diferentona e rebelde só porque usa vestido com tênis.

Mas foi só cantando pop, com os hits "Cool For the Summer" e "Sorry Not Sorry", que somam quase um bilhão de visualizações no YouTube, que ela conseguiu se alçar à fama de verdade.

O que agora parece não importar mais. Depois de ter uma grave overdose de drogas em 2018 e lançar um disco com ares de redenção no ano passado, Lovato agora diz que fez um funeral para sua música pop –é o que ela escreveu na legenda de uma foto publicada no Instagram em janeiro, em que aparece num estúdio de gravação vestida de preto, séria, com os dedos do meio apontados para cima.

A pose de desbocada e revoltada se estende também para as letras, em que ela não poupa palavras nem temas. Exemplo é a faixa que dá título ao álbum, que brinca com a escrita do palavrão "puta merda" em inglês.

Numa canção cheia de elementos religiosos, ela cita a serpente de Adão e Eva e diz ser um fruto proibido. Quando canta o título do disco no refrão, é como se ela também quisesse dizer "Eu sou uma puta santa". Até a capa do álbum faz referência à fé, com Lovato amarrada, presa e deitada sobre uma cruz.

Demi Lovato lança 'Holy Fvck', disco em que quer voltar a ser roqueira
Capa do 'Holy Fvck', disco com 16 faixas lançado nesta sexta (19) - Divulgação

O tema segue em "Heaven", que, segundo o que a cantora diz no site do disco, é uma música sobre como sua religião sempre a fez se sentir envergonhada por explorar a si mesma. "Eu me preencho com meus dois dedos mindinhos / Crucificada pela vida que estou vivendo / Indo para o inferno porque isso parece o paraíso", ela canta, fazendo referência à masturbação.

Outro assunto que rodeia Lovato há uns bons anos é a sua luta contra o vício às drogas. Com um histórico de dependência química, a cantora lançou em 2018 uma música em que admitia que não estava mais sóbria. No mês seguinte, Lovato foi encontrada inconsciente após ter uma overdose que lhe causou três derrames.

Do episódio trágico nasceram um disco e um documentário. Em "Dancing With the Devil… The Art of Starting Over", Lovato relata com detalhes sua experiência na UTI e canta que dançou com o diabo enquanto apostava pela sua alma.

O primeiro single do novo álbum, "Skin of My Teeth", fala justamente sobre seu processo de recuperação. A faixa começa com os versos "Demi sai da reabilitação de novo / Quando essa merda vai acabar? / Não consigo acreditar que não estou morta".

Aliás, não faltam momentos mórbidos. Em "Dead Friends", que tem a letra mais melancólica da obra, Lovato lamenta sobre seus amigos que já morreram. "Eu dancei com o diabo / Atravessei o inferno, e não sei por quê / Como sou diferente, eu consegui e eles não, e isso não parece certo", canta. Com "Happy Ending", ela se pergunta se vai morrer tentando achar seu final feliz.

Mas nem todo vício é ruim para Lovato. É com "Wasted" que ela declara que adora ficar "chapada da pessoa que ama". Para ela, não há droga melhor que a sensação de estar apaixonada.

Há letras sobre sexo também. Em meio às guitarras de "Bones", Lovato afirma querer pular nos ossos de alguém enquanto tira as roupas da pessoa. O teor segue em "Come Together", que pode ser interpretada como uma declaração sobre como é melhor ter orgasmos em casal do que sozinha.

"City of Angels", que é sobre se divertir sem preocupações, é uma das únicas em que Lovato fala sobre ser uma pessoa não binária, que não se identifica como mulher nem como homem.

O tema veio à tona em maio do ano passado, quando ela postou um vídeo no Instagram pedindo que passassem a ser referir a ela como "they", que significa "eles" ou "elas", e que é o pronome em inglês mais comum para se referir a pessoas não binárias. Quase um ano depois, em abril, Lovato voltou atrás da decisão e acrescentou os pronomes "ela" e "dela" no seu perfil do Instagram.

Na letra da nova canção, ela diz que "Você me chama de ‘elu’, mas ainda sou a garotinha do papai’ / Batizada na Cidade dos Anjos".

Extenso até demais, sobra espaço no álbum para reflexões sociais. Em "Substance", o segundo single, a cantora se questiona se é só ela que não enxerga mais significado e substância nas pessoas e no mundo.

Na faixa "Eat Me", que canta com Royal & the Serpent, Lovato diz vão ter que a engolir como ela é. Com a debochada "Help Me", que tem a banda Dead Sara, Lovato atesta que não precisa de opiniões inúteis sobre sua vida.

Várias das músicas do "Holy Fvck" devem ser executadas em São Paulo, Belo Horizonte, e no Rock in Rio, por onde Lovato vai passar com sua nova turnê nas próximas semanas.

Os fãs nostálgicos podem respirar aliviados —Lovato está de volta com um rock que remete ao início da carreira. Ainda bem que agora com um disco com muito mais significado e substância.

Holy Fvck

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