Em sua estreia no Rock in Rio, sob chuva, a cantora de ascendência cubana Camila Cabello combinou a simpatia da moça que desembarcou no Brasil mandando beijos e acenos aos fãs com sua sensualidade de "latin girl next door" que mostra em seus clipes.
Funcionou –com o apoio, claro, de seu pop caliente, que brinca com alguma inventividade e esperteza com os clichês do gênero. A plateia reagiu bem tanto aos hits acumulados desde sua a estreia solo, há cinco anos, quanto às mais recentes de "Familia", álbum lançado em abril deste ano.
Quatro anos depois de seu até então último show no Brasil, Cabello entrou no palco Mundo às 22h20 deste sábado, com o dedilhado de violão de "Señorita", gravada originalmente em dueto com Shawn Mendes. Com sua silhueta recortada contra o fundo iluminado vermelho, ela fez uma versão mais dramática e afeita às arenas da canção.
Logo em seguida, porém, convidou para dança, povoando o palco de bailarinas em "She Loves Control". Ao fim saudou, misturando inglês e português quase sem sotaque "Rio, ai meu Deus". "I'm so happy to be here. Eu sou meio brasileira."
Ela falou muito mais, sempre misturando inglês com português. Reafirmou algumas vezes sua alegria por estar no Brasil ao dizer que "brasileiros são as melhores pessoas do mundo", brincou que tem tentado aprender português no aplicativo Duolingo ("eu como pão, eu bebo leite... é, eu preciso trabalhar mais meu português") e fez graça com a chuva ("eu estou sexy ou pareço um cachorro molhado?").
O flerte com o Brasil foi além de seu esforço com o português. Ela recebeu no palco MC Bianca que cantou seu hit "Ai preto", com L7nnon e Biel do Furduncinho, para uma Camila que parecia realmente estar se divertindo ao som do tamborzão. Quando a MC e sua trupe saiu do palco, Camila ficou com a bandeira do Brasil deles e a enrolou na cintura, como uma canga.
Camila rebolou ali, ao lado de MC Bianca, e em muitos momentos do show, mas sempre com um distanciamento da figura de diva "gostosa", para usar a palavra que ela repetiu algumas vezes no show. Ao tocar teclado em "Used to This" e guitarra em "Never Be the Same", por exemplo, sua postura era muito mais de instrumentista amadora que de dona do palco.
Depois de passar por canções de um pop com textura mais experimental, como "Psychofreak", ou puramente divertido, como "My Oh My", ela mergulhou em suas origens latinas na reta final do show. Sempre porém, com algum veneno, fosse no bolero de "Lola", no trompete de salão cubano de "Celia" ou na sedução do superhit "Havana" com seu "ooh na-na".
Mesmo o telão brincava por vezes com essa relação com as origens, buscando uma apropriação sagaz de um certo kitsch.
A chuva prejudicou Cabello, mas não o suficiente para tirar a consistência de seu show. Um espetáculo que, se não fez historia no Rock in Rio, mostrou que pode ocupar sem favores a posição de segundo headliner de uma noite pop.
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