Galeria Galatea abre as portas com esculturas de José Adário

Sócios apostam em mistura de estilos e temporalidades para iluminar produção de artistas negros, indígenas e periféricos

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São Paulo

Uma fileira de Exus recebe o visitante na novíssima Galatea, galeria que abre as portas nesta quarta-feira, na rua Oscar Freire, em São Paulo. Para a ocasião, o cubo branco foi pintado todo de vermelho, saudando o orixá na cor característica da entidade.

O artista baiano José Adário, que empresta seu nome à mostra de inauguração, trabalha, desde os dez anos de idade, fazendo esculturas de ferro para simbolizar as divindades das religiões de matriz africana. "As pessoas me procuram, desenham a ferramenta que querem, e eu começo a trabalhar", diz ele. "Sempre começo por Exu, porque ele sempre vem à frente de todos."

Obras de José Adário na Galeria Galatea - Divulgação

A Galatea nasce juntando a experiência de três jovens veteranos no mercado de arte. Antonia Bergamin é filha de Jones Bergamin, diretor da casa de leilões Bolsa de Arte. Por quase dez anos, ela esteve à frente da Bergamin & Gomide, agora Gomide & Co.

Conrado Mesquita é filho do marchand carioca Ronie Mesquita, fundador da galeria de mesmo nome. Já Tomás Toledo, deixou de ser curador do Museu de Arte de São Paulo, o Masp, para se tornar um galerista. Nesse trio, eles acreditam poder somar experiências de mercado, institucionais e de pesquisa. No caso de
Mesquita, com novos artistas.

A Galatea não pretende preencher um nicho de mercado ou construir uma linha curatorial, que una artistas de mesmas gerações ou estilos. Mas o trio adota uma postura engajada, buscando iluminar melhor a produção de artistas periféricos, indígenas e negros.

Até o momento, a casa representa Allan Weber, morador da comunidade Cinco Bocas, no Rio de Janeiro, Marília Kranz, morta há cinco anos, e, em breve, trabalhará com o pintor Daniel Lannes, nome forte do cenário da arte contemporânea. "É um equilíbrio interessante, porque vamos abrigar artistas novos e o
mercado secundário, de artistas mortos, que tem um poder de lucro maior", afirma Toledo.

Nesse sentido, a escolha de José Adário para a abertura da galeria ilustra o desejo de abrigar outras produções artísticas, além do cânone. Os orixás, que se espalham pela sala, podem se apresentar de um modo figurativo ou simbólico, a depender do desenho concebido por cada pessoa que solicita a encomenda.

Segundo o artista, a técnica de esculpir em ferro os orixás é passada de geração a geração, mas corre o risco de desaparecer. Os mais jovens, ele conta, não mostram a mesma disposição para aprender a moldar o ferro, como antes.

No caso de Adário, chama a atenção a delicadeza com que trabalha o material. Numa das esculturas, um orixá é simbolizado por três galhos, de onde saem folhas pintadas em prata, acrescentando certa opulência à obra.

Para o futuro da Galatea, Bergamin espera tentar driblar certas regras do mercado, que impedem que muitos artistas sigam seus próprios caminhos. Sobre o cenário brasileiro, ela apresenta motivos para seguir confiante em sua empreitada. "O mercado de arte pega uma parcela da população que não se atinge muito com as crises", ela afirma. "Parece que a arte fica imune ao que ocorre em outros setores da economia."

José Adário

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