Morre Vivienne Westwood, a grande rainha do punk e ícone fashion, aos 81 anos

Estilista britânica defensora das causas sustentáveis na indústria foi um símbolo da transgressão e da rebeldia

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São Paulo

Morreu nesta quinta-feira a estilista britânica Vivienne Westwood, aos 81 anos. Conhecida pela influência no estilo e na estética punk e por seu ativismo ambiental, ela estava em sua casa, em Londres, segundo um comunicado dos seus representantes.

A estilista britânica Vivienne Westwood morre aos 81 anos - Benoit Tessier/Reueters

Westwood nasceu na vila de Tintwistle, em Derbyshire, na Inglaterra, e se mudou para Londres com a família nos anos 1960, com 17 anos. Em 1962, ela se casou com Derek Westwood, com quem teve um filho e de quem herdou o sobrenome com o qual ficou conhecida.

Sua vida começou a mudar em 1965, após um divórcio, quando ela conheceu o então estudante de arte Malcolm McLaren, e passou a se dedicar à moda. Os dois ficaram juntos por 18 anos e tiveram um filho, mas nunca se casaram.

Uma das figuras mais emblemáticas do punk britânico, McLaren foi empresário e um dos principais responsáveis pelo sucesso do Sex Pistols, que desencadeou toda uma cena de música jovem, rebelde e agressiva no país. Na biografia "Vivienne Westwood", ela descreve o relacionamento dos dois como destrutivo, mas feliz, com muitas brigas, e tratando o artista como uma pessoa de personalidade infantil.

"Não choro desde a época em que vivia com Malcolm. Ele precisava me ver chorar todos os dias. Não conseguia sair de casa sem tentar me deixar chateada. Então parei. Sinto inveja das pessoas que conseguem chorar", disse a estilista ao jornal The Observer, em 2014.

Autodidata, Westwood vendia bijuterias e roupas usadas no famoso mercado da Portobello Road antes de abrir sua primeira loja com McLaren, chamada Let It Rock, em 1971. Mas foi a partir de 1974, quando o casal abriu a polêmica e seminal butique Sex, na King’s Road, que eles começam a ganhar destaque na capital britânica.

Além de camisetas com mensagens provocantes, de Westwood e McLaren, a loja também vendia peças consideradas obscenas, incluindo roupas fetichistas. O espaço ganhou fama entre a juventude roqueira, e tinha entre seus frequentadores os integrantes do Sex Pistols, que se reuniram para tocar em 1975 sob mentoria de McLaren —o nome da banda, a propósito, foi escolhido a partir da loja.

Westwood idealizou o visual do grupo, que desencadeou uma revolução musical com o sucesso da música "God Save the Queen" e acabou servindo de vitrine para a loja, depois rebatizada de Seditionaries. O estilo incluía as camisetas com mensagens antissistema e uma pegada DIY —o "do it yourself" ou "faça você mesmo"—, incorporando o sentimento punk da época.

Uma das peças mais conhecidas dessa época é a camiseta estampada com a recriação de uma foto da rainha Elizabeth 2ª com uma tarracha na boca. A roupa foi criada a partir da mesma imagem que estampa a capa de "God Save the Queen".

A estilista foi pioneira e um ícone do estilo que foi tachado pela imprensa como uma afronta aos bons costumes, mas que influenciou nomes como Mick Jagger, Iggy Pop, David Bowie e Debbie Harry. Foi Westwood quem criou o símbolo do movimento anarquista —o famoso círculo com a letra "A".

Com a incorporação do punk pelo mainstream, Westwood e McLaren seguiram novos caminhos e fizeram seu primeiro desfile em 1981, em Londres. No ano seguinte, a estilista se tornou a segunda britânica a desfilar uma coleção em Paris.

Sua primeira coleção depois da separação de McLaren veio em 1985, e a partir dali ela se consolidou como uma estilista de alta-costura. Ao longo das décadas, seus desfiles mostravam referências a vestimentas históricas e faziam paródias das elites britânicas.

Na década de 1990, fez um diálogo entre França e Reino Unido, num movimento chamado de anglomania. São dessa época os desfiles memoráveis de Naomi Campbell usando plataformas de quase 23 centímetros, em 1993, e Kate Moss fazendo topless e tomando sorvete com o rosto inteiro como Maria Antonieta, em 1994.

A estilista britânica Vivienne Westwood - Giuseppe Cacace/AFP

Westwood viu seu faturamento crescer depois que um vestido assinado por ela apareceu em "Sex and the City - O Filme", comédia romântica lançada em 2008. A peça de seda cor de champanhe, usada pela personagem Carrie Bradshaw, foi responsável por alavancar as vendas da marca Vivienne Westwood em quase 20% de um ano para o outro.

Rainha da estética punk, Westwood era conhecida por seu comportamento livre. Numa de suas histórias mais conhecidas, a estilista foi ao Palácio de Buckingham receber uma homenagem no que parecia um look comportado. Ela deixou claro aos fotógrafos, no entanto, que estava sem calcinha ao rodar sua saia.

"Desde os primeiros dias do punk nos anos 1970, tenho sido uma ativista contra a guerra e pelos direitos humanos", disse ela, em entrevista em 2020. "Nas redes sociais, uso a moda para envolver as pessoas na política. Se as pessoas não estão cientes, como vamos salvar o mundo da corrupção e das mudanças climáticas?"

Militante ambiental, a britânica manifestou apoio a protestos brasileiros em 2013. "As pessoas estão frustradas com o excesso de consumismo e a falta de valores mais profundos. É preciso ir para as ruas para mudar isso", disse a este jornal na época.

Westwood também afirmou, naquele mesmo ano, que o movimento punk foi, no fundo, "uma revolução de marketing". "Ajudou a vender muitos pinos de metal", disse. "E eu me cansei do punk rock quando vi que a única anarquista era eu. No fundo, os caras só queriam se divertir."

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