Descrição de chapéu
Filmes Natal

'O Espírito do Natal' do Porta dos Fundos une risos e terror 'trash'

Elementos tipicamente festivos se revoltam em versões horripilantes, e filme se sai melhor do que com blague religiosa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O Espírito do Natal

  • Quando Estreia em 21 de dezembro no Paramount+
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Rafael Portugal, Fábio Porchat e Thati Lopes
  • Produção Brasil, 2022
  • Direção Rodrigo Van Der Put

Eis que o especial de Natal do grupo de comédia Porta dos Fundos em breve estará entre nós, irmãos e irmãs, e desta vez o tema não é bíblico. Glória a Deus nas alturas, como diriam os anjos lá em Belém —já estava na hora de virar o disco.

Para quem não acompanhou os especiais natalinos da trupe carioca nos últimos anos, talvez valha a pena explicar a rabugice do primeiro parágrafo. Ocorre que, ao longo de sua bem-sucedida carreira na internet, o elenco formado por Antonio Tabet, Fábio Porchat, Gregorio Duvivier e companhia se especializou em usar personagens da Bíblia nos seus esquetes de humor desbocado.

Imagens do Especial de Natal do Porta dos Fundos.
Thati Lopes, Fábio Porchat, Antonio Tabet e Evelyn Castro em cena de 'O Espírito do Natal', do Porta dos Fundos - Divulgação

Em vídeos mais curtos, a abordagem frequentemente era um golaço, em especial quando a piada não se resumia à premissa "veja, este apóstolo está falando palavrões sem parar".

Em narrativas de mais fôlego, como os especiais de Natal, porém, apesar de alguns lampejos de graça, a tentativa de ser transgressor ou de usar a Jerusalém do ano 30 d.C. para satirizar a Brasília dos anos 2020 foi ficando cada vez mais canhestra.

Por sorte, na versão deste ano, saem de cena os reis magos de barba postiça e o destaque vai para o sangue falso feito com ketchup. Em vez de "A Vida de Brian", a referência aqui é "Pânico" ou "A Hora do Pesadelo" —o clima é assumidamente o de um filme de terror "trasheira".

Em "O Espírito do Natal", o pano de fundo da história modifica só um pouquinho o começo de inúmeras narrativas do gênero. Em vez de jovens acampados que caem nas garras de algum psicopata ou ameaça sobrenatural, aqui temos um grupo de amigos adultos que resolve alugar uma casa de campo isolada para escapar das chatices do Natal e simplesmente encher a cara com tranquilidade, sem muita referência à data em si.

Ninguém ali suporta frutas cristalizadas, arroz com passas ou tias-avós com perguntas sobre a sua vida amorosa. É claro que há um preço para o sossego —o sinal de internet ou telefone é coisa que não existe por ali.

Ainda seguindo os clichês dos filmes de terror para adolescentes, a bebedeira provoca uma cena com certa tensão sexual entre o grupo —que inclui tanto um casal gay quanto um hétero, além de vários solteiros—, e a primeira desgraça acontece logo depois disso.

No meio da noite, aparece na sala da casa de campo um velho desconhecido, que é confundido com um assaltante e leva uma garrafada na cabeça, aplicada por Gabi, papel de Thati Lopes, na base do susto.
O intruso desaba no chão, aparentemente morto —mas, antes da pancada, ele tinha chamado Gabi pelo nome. E tinha consigo um grande saco vermelho. Acho que você sabe no que isso vai dar, não?

A garrafada no estranho desencadeia uma vingança sanguinolenta de todos os típicos elementos natalinos contra o grupo de amigos que os rejeitou —até as nozes das mesas do fim de ano e o célebre Rudolph, a Rena do Nariz Vermelho, se tornam arautos da morte.

A sucessão de brutalidades foi feita para ser absurda e ridícula, não resta dúvida, mas é montada de um jeito esperto o suficiente para que quem está assistindo sinta um considerável frio na espinha —considerando que estamos falando do Porta dos Fundos, substitua "frio na espinha" por uma metáfora fisiológica bem menos comportada aí na sua cabeça.

Até a figura inofensiva de Gregorio Duvivier fica aterrorizante, o que não deixa de ser uma proeza. E, mantendo mais uma vez a tradição dos filmes de terror, temos uma "final girl" —a única moça que sobrevive à mortandade nas histórias do gênero. Tudo somado, é uma competente mistura de risos e sustos.

Um último conselho para o público —atenção para a presença de outra entidade mágica do mundo dos feriados prolongados no finalzinho. As gargalhadas provocadas por essa participação espacial provavelmente valem a assinatura do streaming.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.