Morreu o músico americano, Burt Bacharach, aos 94 anos, uma figura central da cultura popular dos Estados Unidos e um dos maiores compositores do século 20. A notícia foi confirmada, nesta quinta-feira, por sua agente. Bacharach morreu de causas naturais.
Nas redes sociais, artistas lamentaram a morte do compositor. Brian Wilson, dos Beach Boys, escreveu no Twitter que Bacharach era seu herói, muito influente em seu trabalho e um "gigante do mercado musical". Já Dave Davies, da banda The Kinks, o descreveu como "grande inspiração" e "um dos compositores mais influentes de todos os tempos."
Desde os anos 1960, as composições de Bacharach entraram para o repertório de grandes intérpretes, sobretudo Dionne Warwick, que gravou o sucesso "I Say A Little Prayer", em 1967, e "I’ll Never Fall In Love Again", um ano depois.
Ao todo, foram 21 indicações e seis prêmios no Grammy. Nos anos 1960, Bucharach se tornou uma figura ubíqua —ele esteve nos rádios, nos discos, nas telas e nos palcos. Sua música foi parar no cinema e, com ela, Bucharach arrematou três estatuetas do Oscar.
Em 1970, levou o prêmio de melhor trilha sonora por "Butch Cassidy", filme de George Roy Hill, e, em 1982, ganhou a estatueta de música original e melhor trilha sonora por "Arthur, O Milionário Sedutor", dirigido por Steve Gordon. Na Broadway, se tornou lendário o musical "Promises, Promises", de 1968, indicado para o prêmio Tony.
Bacharach foi uma figura arquetípica do homem da metrópole americana. Decerto, um homem que difundiu um comportamento e uma forma de expressão musical em desuso no século 21. A elegância de suas composições se refletia em seu guarda-roupa, de ternos bem cortados e camisas alinhavadas, e na sua própria forma de ser e estar no mundo.
É o mesmo espírito romântico de suas canções sofisticadas, que combinam o alcance pop à orquestração sinfônica, da linhagem de George Gershiwn.
Ao lado do letrista Hal David, que morreu em 2012, Bacharach atingiu uma influência apenas comparável à da dupla Lennon e McCartney. Outros sucessos de Bacharach são "The Guy's In Love With You", de 1968, que chegou ao primeiro lugar nas paradas de sucessos dos Estados Unidos, sendo cantado por Herb Alpert, e "What's New, Pussycat", intepretada por Tom Jones, em 1965.
Bacharach conheceu David em 1957, no prédio Brill Building, que abrigou escritórios de compositores, gravadoras, agentes e produtores musicais, em Nova York. "Todo mundo tem encontros marcantes, que mudam sua vida para sempre. Eu e Hal tivemos um desses", Bacharach disse em entrevista à Folha, em 2013.
David era responsável por fazer as letras românticas, enquanto Bacharach ficava com as melodias e arranjos, a partir de sua experiência com música de concerto. Juntos, eles criaram uma série de clássicos da música pop do século passado. Foram 48 canções que entraram na lista dos dez singles mais vendidos nos Estados Unidos. De suas 500 composições, 73 figuram entre as 40 mais vendidas.
No rádio, a lista do hitmaker era facilmente reconhecida. "Close to You", "Wives and Lovers", "Reach Out for Me", "Walk on By", "A House is Not a Home", "What the World Needs Now is Love", "Alfie", "Bond Street", "The Look of Love", "The Windows of the World". Assim como Tom Jobim no Brasil, Bacharach formou a trilha sonora dos anos 1960.
O pianista brasileiro Sérgio Mendes gravou, em 1967, uma versão para "The Look of Love", que levou a música ao quarto lugar da principal parada da revista americana "Billboard", em 1968. Além de Dusty Springfield, Diana Krall registrou a composição.
Até 2014, Bacharach havia emplacado 73 grandes sucessos nos Estados Unidos, e 52 no Reino Unido. Mais de mil cantores gravaram suas composições, entre eles Dusty Springfield e a banda The Carpenters. As músicas também ganharam versões no jazz da guitarra Wes Montgomery e no saxofone de Stan Getz.
Nascido em Kansas City, no Missouri, Bacharach foi criado em Nova York e cresceu numa família judaica ligada à arte. Sua mãe era uma pintora amadora e escrevia algumas canções. Graças a ela, Bacharach acompanhou as primeiras aulas de piano.
O judaísmo nunca teve tanta importância assim para ele, que não era religioso. Na juventude, estudou com o compositor francês Darius Milhaud, que espalhou o fascínio pelo exotismo musical na Europa e nos Estados Unidos, e com Henry Cowell.
Aos 28 anos, Bacharach viu sua vida se transformar ao conhecer a famosa atriz e cantora alemã, Marlene Dietrich. A partir desse momento, ele se tornou diretor musical de Dietrich e maestro nos shows em discotecas. Com a estrela de Hollywood, viajou por toda a Europa, nutrindo especial gosto pelos violinistas do leste europeu e da Escandinávia. Em 1959, desembarcou no Brasil, onde tocou para a plateia do Copacabana Palace, no Rio de Janeiro.
Em 1962, conheceu Warwick nas gravações de The Drifters. No mesmo ano, a cantora gravou o primeiro sucesso com a assinatura do parceiro, "Don't Make Me Over". Pela musicalidade de Bacharach, Warwick definiu seu próprio estilo, sendo influenciada pelo romantismo das melodias que embalavam suas canções.
Mas Warwich e Bacharach brigariam pouco tempo depois, por assuntos contratuais com a gravadora. A cantora chegou a processar o autor da maioria de seus sucessos. A dupla reataria a amizade em 1985, na ocasião em que lançaram o single "That’s What Friends Are For", para ajudar as pessoas que sofriam com a Aids.
No cinema, antes de arrematar as três estatuetas, foi indicado outras três vezes ao Oscar por "Que é que Há, Gatinha?", "Como Conquistar as Mulheres" e "Casino Royale", um dos capítulos da franquia "007" e que teve como música-tema "The Look of Love".
Colaboraram Leonardo Sanchez e Lucas Brêda
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.