Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Alvaro Costa e Silva

Tom Jobim manda bem

Manuscrito leiloado com a letra de 'Piano na Mangueira' revela brincadeiras e divergências com Chico Buarque

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O manuscrito com a letra de “Piano na Mangueira”, arrematado em recente leilão por R$ 30 mil, revela-se nos rabiscos. Desde a primeira parceria, “Retrato em Branco e Preto”, o processo criativo de Tom Jobim e Chico Buarque se alimentou das brincadeiras e implicâncias do primeiro, que também era um refinado letrista.

Na homenagem à Estação Primeira, última vez em que os dois trabalharam a quatro mãos, Tom não gostou de “Já mandei subir um piano/ Pra Mangueira”. “Mandei? Parece monday, tuesday, wednesday”, gozou o maestro, antes da aprovação. Em “Retrato em Branco e Preto”, antipatizou com o verso que batiza a canção (na versão instrumental, o título era “Zíngaro”): “Todo mundo fala retrato em preto e branco”. Chico então sugeriu: “Vou colecionar mais um tamanco/ Outro retrato em preto e branco”.

Essas pequenas divergências são mais comuns do que se pensa. Existem dezenas de histórias do tipo, algumas engraçadas, outras inacreditáveis aos olhos da posteridade. Imagine quantas letras foram rasgadas ou jogadas no lixo —e que valores alcançariam hoje os manuscritos delas para colecionadores e leiloeiros. Sem falar na importância para os pesquisadores.

O cantor e compositor Chico Buarque (à esq.) e o compositor Tom Jobim
O cantor e compositor Chico Buarque (à esq.) e o compositor Tom Jobim - Folhapress

No seu livro “Chega de Saudade”, Ruy Castro conta que “Corcovado” começava com “Um cigarro e um violão”. João Gilberto, que deixara de fumar cigarros caretas, reclamou: “Tonzinho, não deveria ser assim. Que tal se você mudasse?”. Como todo mundo sabe, ficou “Um cantinho e um violão”, que passou a definir a bossa nova.

Meu caso preferido é “Conto de Areia”. Com a palavra, Toninho Nascimento: “Quando fiz a letra, o verso era ‘É lua no mar/ É maré cheia’. O Romildo, autor da música, mudou para ‘É água no mar’. Expliquei que a maré tem relação com a lua e ‘água no mar’ não fazia sentido. Não adiantou, ele ensinou errado para a Clara Nunes, que gravou e foi aquele sucesso”.

A letra de "Piano na Mangueira" manuscrita por Chico Buarque e que foi a leilão
A letra de "Piano na Mangueira" manuscrita por Chico Buarque e que foi a leilão - Reprodução

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.