Descrição de chapéu Lollapalooza

Tame Impala leva rock psicodélico para viúvas do indie no Lollapalooza

Alçado ao posto de headliner após cancelamento do Blink-182, artista Kevin Parker subiu no palco do festival de muletas

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São Paulo

Alçado ao posto de headliner do segundo dia de Lollapalooza depois do cancelamento do Blink-182, o Tame Impala subiu no palco na noite do dia 25 apesar das circunstâncias.

Isso porque o frontman, Kevin Parker, passou recentemente por uma cirurgia no quadril após uma fratura e causou furor entre os fãs, que temiam que a banda engrossasse a onda de cancelamentos do festival.

A banda australiana Tame Impala se apresenta no palco Chevrolet durante o segundo dia da 10ª edição do Lollapalooza - Adriano Vizoni/Folhapress

Mas Parker não se rendeu e fez uma série de shows de muletas pela América Latina antes de chegar a São Paulo para um show abarrotado no palco Chevrolet.

A apresentação começou com um vídeo que emulava uma médica anunciando um remédio com efeitos psicotrópicos, que ia desacelerando e se desfazendo em uma explosão tecnicolor.

Na sequência, Parker entrou no palco de muletas e entoou "One More Year", do disco "The Slow Rush", de 2020, com projeções que misturavam sua imagem em recuperação e mais cores derretidas.

Não demorou para que Parker apostasse em sucessos antigos, caso de "Mind Mischief", do disco "Lonerism", de 2012. Para tocar guitarra, o frontman precisou largar as muletas e se sentar.

Nada disso foi impedimento para a plateia, que vibrou e cantou junto, apesar da distorção tornar a letra incompreensível.

Os fãs da banda, com apresentação marcada para as 20h, fizeram plantão na frente do palco desde o meio-dia. Tudo para tentar a grade, segundo Andressa, fã de 21 anos da banda, que vivia em Brasília e viu nesta edição do Lollapalooza sua primeira chance de ver o ídolo.

Mas até quem já viu Kevin Parker em ação quis garantir um bom lugar. A publicitária Fernanda Mendonça, de 25 anos, bate ponto no Lollapalooza desde a primeira edição, em 2012, e viu o Tame Impala justamente na edição de 2016 —o grupo está na quinta passagem pelo Brasil e segunda vez em um Lollapalooza. "Kevin Parker é o maior que temos", diz Mendonça.

Ela e o economista João Pedro Berdeville, de 25 anos, fizeram questão de esperar cerca de três horas pelo show, ouvindo a distância o que acontecia no palco ao lado e pegando, no máximo, a apresentação do Jane's Addiction, do criador do festival.

Mesmo no palco Budweiser, entre o show da banda Wallows e o do The 1975, houve quem já corresse para garantir um bom lugar no Tame Impala, que só aconteceria dali a duas horas.

Foram os clássicos da banda, como"Mind Mischief", que deram o tom de rock e comprovaram a potência do som do espetáculo, com baixo altíssimo. Mesmo no hit pesado nas guitarras, a banda fez incursões eletrônicas e agradeceu à plateia pela animação.

O jogo de luzes e projeções, carregadas de cores e imagens de vulcões, nuvens e ondas, acompanhava as músicas e levava todos a um transe coletivo. O grave altíssimo rasgava e ressoava nos corpos enquanto o músico fazia uma pausa.

Mesmo em músicas menos famosas, caso de "Apocalypse Dream", uma que Parker disse estar ansioso para tocar em seu retorno ao Brasil, palmas e cabeças molengas acompanhavam os acordes banhados em ácido do músico.

O ponto alto ficou por conta de "Eventually" e "Let It Happen ", hits de "Currents", em que o grupo aproveitou para jogar confete na plateia e emendar "It Feels Like I Only Go Backwards" e "Elephant", sucessos do disco "Lonerism", de 2012, também estouraram com o público.

O hino de corações partidos parece unir gerações. Os fãs da banda eram uma mistura de jovens que ostentavam câmeras Cybershot e pessoas que poderiam ser pais deles, da primeira geração de fãs do indie.

A moda do público também destoava do resto do festival. Se o estilo Lollapalooza 2023 chama atenção pelos tons neon e o uso da pelúcia, o hippie chic e as estampas coloridas e psicodélicas imperam na plateia que recebeu o Tame Impala. Jovens comentavam os looks umas das outras comparando as escolhas a Daisy Jones, protagonista da série sobre uma banda de rock setentista.

Não faltaram óculos escuros, apesar de o show ter começado às 20h, dando tom de rave ao evento. A fumaça de gelo seco que decora o palco se confundia com aquela vinda do público.

De som psicodélico, a banda australiana liderada por Parker se tornou um dos pilares do indie rock mundial e angariou um público cativo de fãs brasileiros —antes mesmo de "The Less I Know the Better", hit máximo do grupo, se tornar trilha de uma dancinha do influencer Xurrasco. A música, aliás, ultrapassa 1 bilhão de plays no Spotify.

Foi com ela —aceno cool aos cornos— que a banda voltou ao palco para o bis, aos berros de "eu não vou embora" da plateia, antes de encerrar com "New Person, Same Old Mistakes", quando novamente apelou para o confete colorido.

Na ativa com o Tame Impala desde 2007, Parker deu a guinada pop do projeto em 2015, com o terceiro disco, "Currents", que hospeda hits como a gigante "The Less I Know the Better" e "Eventually". No álbum, as guitarras distorcidas deram espaço a experimentações eletrônicas. Sem perder a veia psicodélica e com letras sobre coração partido, o apelo pop foi imenso.

O quinto show da banda no Brasil reflete bem essa nova fase. Sem perder a psicodelia, mas com interlúdios eletrônicos dançantes, a primeira meia hora do show foi protagonizada por sintetizadores.

Desde então, o Tame Impala de Parker se tornou headliner carimbado de diversos festivais ao redor do mundo a ponto de virar meme no mundo indie por sua popularidade, motivo de chacota entre os moderninhos.

Hoje, a banda é, junto com Modest Mouse e The 1975, um dos nomes que reserva mais proximidade com as raízes do projeto do Lollapalooza, que aterrissou no Brasil como um festival voltado para o público alternativo.

Erramos: o texto foi alterado

Texto afirmava que a música "Feels Like We Only Go Backwards", do Tame Impala, é do disco "Currents", de 2015. A música é do álbum "Lonerism", de 2012. A informação foi corrigida.

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