Descrição de chapéu Lollapalooza

Como é interpretar astros como Ludmilla e Kali Uchis no Lollapalooza para surdos

Intérpretes fazem show à parte atrás dos palcos, traduzindo músicas nacionais e estrangeiras com gestos e rebolados

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São Paulo

Ela reproduz cada passinho que Ludmilla faz em cima do palco do Lollapalooza para uma legião de fãs, mas não é dançarina. Divide o telão com a cantora, mas tampouco é artista.

Thamires Alves Ferreira, interprete de Libras da empresa All Dub, no Lollapalooza - Bruno Santos/Folhapress

A única semelhança de Thamires Ferreira com Ludmilla é o sotaque e o molejo de cariocas da gema. Ferreira é, na verdade, intérprete de Libras, uma nova presença nos telões dos palcos do Lollapalooza que tem chamado a atenção do público.

Atrás do palco, num contêiner de não mais do que três metros quadrados, Ferreira faz um show à parte. Usando um fundo verde, com uma televisão para assistir à apresentação e uma câmera à frente para a projetar no rodapé do telão, ela traduz não só as letras e as falas da cantora, mas também seus movimentos.

Não é a primeira vez que o Lollapalooza conta com intérpretes de Libras. Eles começaram no ano passado. Mas antes ficavam só nas plataformas à frente dos palcos que são dedicadas a pessoas com deficiência.

Depois de pouco mais de cinco minutos, Ferreira sai de cena e dá lugar a um colega, que segue o show e, dali a outros poucos minutos, é substituído por um terceiro intérprete. É que interpretar, eles contam, cansa demais. Para cada palco, são quatro profissionais, que a cada duas ou três músicas se revezam.

"A gente precisa de uma equipe grande, porque em shows internacionais, por exemplo, escutamos em inglês, traduzimos na cabeça para o português e jogamos para Libras. São duas traduções simultâneas. Cansa muito", diz Ferreira, que trabalha há quase uma década como intérprete.

À frente da câmera, vale tudo para passar a mensagem. "O surdo está ali sem sentir o ritmo, e queremos que ele sinta a mesma coisa. Se é rock, a gente levanta os dedos principais e balança a cabeça. Se é o beat do funk, a gente rebola mesmo."

Até este sábado, segundo dia do festival que acontece no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, ela diz que o show mais difícil de interpretar foi o de Kali Uchis. Isso por causa das letras da cantora, de temática erótica. "Precisei empregar uma sensualidade muito grande, mas não podia brigar com o balé dela. Tive que me conter."

A presença dos intérpretes nos telões dos palcos, também vista no Rock in Rio e no Primavera Sound do ano passado, traz mais autonomia ao público que precisa desse suporte, na avaliação da intérprete. "Agora, o surdo pode andar para qualquer lugar que vai ter acessibilidade. Ele não vai estar mais preso na plataforma para deficientes."

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