Popularmente conhecido como crise da meia-idade, o termo metanoia, cunhado pelo psicanalista Carl Gustav Jung, expõe o processo de mudanças bruscas que o ser humano enfrenta entre os 35 e 45 anos de idade.
Tendo o conceito em mente, foi imediata a identificação da atriz e produtora Carolina Manica com as personagens de "Aquário com Peixes", texto de Franz Keppler que é encenado no Sesc Santana.
Na obra, uma promotora pública e uma astróloga, ambas nos 40 anos, se apaixonam e tentam administrar não apenas o ineditismo desse relacionamento em suas vidas, mas as diferenças que as afastam, a despeito da paixão que as une.
O projeto original, entretanto, não era o de encenar a obra nos palcos, mas nas telas. Os diálogos de Keppler impressionaram a atriz, e as histórias que as personagens narram acerca de seus passados e perspectiva de futuro poderiam ganhar outra dimensão se contadas na tela grande.
"Foi um momento decisivo, porque eu também cheguei aos 40 anos e isso mudou muita coisa na minha vida. É aquele sol que se põe e um novo horizonte que nasce", afirma a atriz, dissuadida de filmar a história logo na primeira conversa com a cineasta Marcela Lordy, convidada a assinar a direção do longa.
Também impressionada pelos diálogos, a artista, responsável pela adaptação cinematográfica de "O Livro dos Prazeres", de Clarice Lispector, viu na obra mais potencial teatral do que cinematográfico.
Foi o que bastou para que Mânica a convidasse a assinar a primeira direção nos palcos.
"Esta é uma história sobre amor em suas mais diversas formas. Neste caso, é entre duas mulheres, mas o texto te dá a possibilidade de trabalhar com dois homens, um homem e uma mulher", afirma.
Estrelada por Mânica e Nathália Rodrigues, a montagem é centrada nos diferentes momentos da vida destas duas mulheres, que, ao se tornarem um casal, tentam administrar suas diferenças, que parecem inconciliáveis.
O ápice se dá quando a astróloga Lídia, vivida por Rodrigues, descobre doença e precisa contar com a parceira Anita. A promotora pública se vê dividida entre seguir com o processo de descobertas na vida ou apoiar a parceira.
"Não dá para julgar nenhuma das duas, e isso me deixou muito intrigada com o texto. Você entende as duas posições, não toma partido e até se coloca no lugar das duas. É esta riqueza que eu acho que vai fazer com que o público se identifique", afirma Mânica.
Ainda que o relacionamento entre as duas seja o gancho que movimenta a história, "Aquário com Peixes" não é, na visão da dupla, uma peça sobre relacionamentos lésbicos.
O amor em diferentes formas é o ponto de discussão do espetáculo que, elas garantem, mantém viés político ao passar por temas como etarismo, homofobia e machismo.
A montagem fica em cartaz até 11 de junho, mas, se depender de Mânica, a história deve ganhar os cinemas. Em processo de adaptação do roteiro ao lado de Franz Keppler, a atriz pretende filmar e lançar o projeto no próximo ano.
Lordy não estará envolvida. Com o desejo de se aventurar por outras peças, será substituída por Betânia Furtado, que tem no currículo o curta de animação "Vento", de 2016.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.