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Como novo 'Homem-Aranha' sacode mercado de animação ao unir 3D e traços de gibi

'Através do Aranhaverso', sequência do filme animado que deu Oscar à Sony, tenta quebrar paradigmas impostos pela Disney

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Através do Aranhaverso

Cena de 'Homem-Aranha: Através do Aranhaverso' Divulgação

São Paulo

A teia que liga todos os filmes do Homem-Aranha vai ficar mais emaranhada a partir da estreia de "Homem-Aranha: Através do Aranhaverso" nesta quinta-feira. Além de reciclar a ideia de multiverso apresentada pelo seu antecessor, em 2018, o longa repete a aposta de mesclar animação 2D e 3D com traços de desenhos orientais e gibis.

A mistura deu certo no primeiro filme —"Homem-Aranha no Aranhaverso"—, que recebeu elogios da crítica especializada por dar frescor ao mercado de animação e levou a Sony a conquistar pela primeira vez o Oscar da área, derrotando estúdios renomados como a Disney e sua Pixar.

Através do Aranhaverso
O herói Miles Morales em cena de 'Homem-Aranha: Através do Aranhaverso' - Divulgação

Na trama do novo "Aranhaverso", o adolescente Miles Morales precisa decidir se conta aos pais que virou super-herói enquanto um vilão que se transporta entre as dimensões do multiverso ameaça sua vida em meio a uma tropa de homens, mulheres, crianças e até animais com os mesmos poderes que os seus.

O prestígio levou os executivos da Sony a abrirem os bolsos. O estúdio contratou quase mil funcionários, que trabalharam por quatro anos na produção do segundo filme.

"Existe um antes e um depois de ‘Aranhaverso’. O filme abriu as portas para que estúdios e diretores arriscassem e usassem novas técnicas", afirma o cineasta português Joaquim dos Santos, por videoconferência. Ele divide a direção do longa com Justin K. Thompson e Kemp Powers. "Vemos coisas que se parecem muito com ‘Aranhaverso’ hoje em dia, mas é parte do jogo", acrescenta o cineasta.

Ele se refere a filmes como o ultracolorido "A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas", lançado no ano retrasado, também pela Sony, que voltou a ser elogiada por cruzar animação 2D e 3D. "Gato de Botas 2: O Último Pedido", da DreamWorks, que estreou no ano passado, apostou na mesma combinação.

A Disney também deve entrar na onda, a julgar pelo trailer de "Wish: O Poder dos Desejos", que promete unir o traço 2D dos clássicos do estúdio aos gráficos modernos de "Frozen" e "Encanto".

O primeiro "Aranhaverso" quebrou paradigmas, afirma o pesquisador Celbi Pegoraro, do Observatório de Histórias em Quadrinhos da Universidade de São Paulo. O filme, diz ele, rompeu com os tipos de movimentos e texturas popularizados pela Pixar, que revolucionou o mercado de animação em 1995 com "Toy Story".

Agora, fazer com que o novo "Através do Aranhaverso" desse um passo adiante não foi fácil, afirma Thompson, que trabalhou como designer de produção do primeiro filme e dirigiu a sequência.

"Animação é feita à mão. Qualquer coisa que você vê na tela —um copo numa mesa ao fundo, a luz da rua ou um personagem— precisa ser criado, gerado e posto lá por alguém. Os quadros são tão densos que exigiram muitas mãos."

Um dos desafios foi criar os universos que o protagonista atravessa na história, afirmam os diretores. Eles dizem que o visual tecnológico de Nueva York, versão alternativa de Nova York, foi influenciado por Syd Mead, artista neofuturista que trabalhou em "Blade Runner" e o "Tron" original.

O filme apresenta também um universo com referências indianas. Inspirada nos traços da série de quadrinhos indianos "Indrajal Comic", a cidade fictícia Mumbattan tem uma mescla de influências da arquitetura de Manhattan, na maior metrópole americana, com a de Mumbai, a segunda cidade mais populosa da Índia.

São nessas duas dimensões que ocorrem as maiores cenas de batalha e perseguição do filme, um elemento que havia sido elogiado no filme de 2018. Pegoraro, o pesquisador, afirma que as cenas de luta ganharam destaque porque dispensaram a técnica que desfoca objetos em movimento, comum no cinema de ação.

Isso também acontece no novo filme, com centenas de versões do Aranha caindo na porrada pela primeira vez no cinema depois de cenas parecidas serem desenhadas à exaustão nos gibis. Com balões de pensamento pipocando na tela, é notável a tentativa de replicar os quadrinhos.

Aí está outro acerto da franquia, diz Marcos Magalhães, cineasta de animação e diretor do festival brasileiro Anima Mundi. "A maior parte dos filmes inspirados em quadrinhos não dá certo. ‘Aranhaverso’, por sua vez, foi fiel ao visual da HQs e levou às telas retículas de impressão."

A visão do cineasta é amparada pelo pesquisador. Em sua visão, "Aranhaverso" transportou dos quadrinhos para as telas a fluidez de movimentos dos personagens. "Em ‘Aranhaverso’, os animadores deram ao filme uma textura que lembra uma revista em quadrinhos, inclusive com seus eventuais ‘defeitos’ gráficos’."

Além do sucesso de público e de crítica, o primeiro filme causou burburinho pela cor da pele do protagonista. Miles Morales é o primeiro Homem-Aranha negro da Marvel. Conservadores atacaram a decisão da Sony à época, ainda que a repercussão tenha sido menor do que a da nova Pequena Sereia, interpretada por Halle Bailey.

"Quando é inspirado num quadrinho, a encheção de saco é maior", diz Fábio Gomes, jornalista especializado em cultura pop e um dos apresentadores do canal Entre Migas do YouTube. "Miles passou por essa palhaçada racista em 2011, quando foi lançado nos quadrinhos. Eventualmente, o personagem caiu nas graças do público. Ajuda também o fato de haver o Homem-Aranha [branco] nos cinemas com os live-action. As pessoas tratam o Miles como sendo ‘só um desenho’."

Fato é que "Através do Aranhaverso", o novo filme, injeta mais diversidade na história com personagens de várias etnias vestindo o uniforme do herói. "Acreditamos que qualquer um, vindo de qualquer lugar, deveria poder usar a máscara do herói", diz o diretor, Joaquim dos Santos.

Homem-Aranha: Através do Aranhaverso

  • Onde Em cartaz nos cinemas
  • Classificação 10 anos
  • Produção EUA, 2023
  • Direção Joaquim dos Santos, Justin K. Thompson e Kemp Powers
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