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Vida de Matthew Perry não precisava virar uma tragédia no último ato

Ator de 'Friends' era o rei de fazer escolhas erradas na vida, mas a pena por ele não ter sido fofo não precisava ser tão severa

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No começo desta semana, o ator Matthew Perry publicou, em sua conta de Instagram, uma foto em que aparece no canto de sua enorme jacuzzi ao ar livre, com uma vista incrível de Los Angeles ao fundo, usando fone de ouvido e relaxando numa noite qualquer na água quentinha. Na legenda ele escreve "quer dizer que água morna girando ao seu redor faz você se sentir bem?". "Eu sou o Mattman."

Como quase tudo que ele fazia nos últimos anos, a foto despertou sinais de alerta nos fãs, que costumavam estudar minuciosamente cada um de seus movimentos para tentar descobrir se ele continuava mesmo sóbrio e livre das drogas, como dizia estar desde que publicou seu livro de memórias, ou se estava em mais uma de suas incontáveis recaídas.

O ator Matthew Perry, de 'Friends'
O ator Matthew Perry, de 'Friends' - Kevin Scanlon/The New York Times

Não havia nenhuma pista definitiva naquela imagem. Como não há até agora, pouco tempo depois do anúncio de sua morte precoce, aos 54 anos. Mas, agora, a notícia de que Matthew Perry morreu exatamente naquele mesmo lugar cria um ar de mistério irresistível por trás daquela imagem e daquela legenda.

Ele estava simplesmente relaxando naquele fim de tarde? Ou ele estava sob efeito de alguma coisa? Ou, pior, planejando uma saída heroica para a vida que não suportava mais?

Esse estranho jeito de morrer, infelizmente, já está criando raízes no showbusiness. Dolores O’Riordan, a cantora e compositora irlandesa da banda The Cranberries, morreu afogada em uma banheira há cinco anos, depois de sofrer uma parada cardíaca provocada por uma overdose de álcool. Ela completaria 47 anos dali a alguns meses.

A cantora Whitney Houston se afogou na banheira do hotel Beverly Hilton, em Los Angeles, em 2012, depois de consumir um monte de calmantes com cocaína. Tinha 48 anos e estava na cidade para se apresentar naquela noite na cerimônia do Grammy.

Três anos depois da morte de Houston, sua única filha, Bobbi Kristina, de 22 anos, foi encontrada desacordada em uma banheira. Ela chegou a ser internada e ficou em coma durante seis meses, mas não resistiu. Morreu em junho de 2015.

O precursor dessa morte trágica parece ter sido Jim Morrison, o lendário vocalista e letrista da igualmente lendária banda "The Doors", encontrado morto na banheira do apartamento em que morava em Paris, aos 27 anos, em 1971. As leis francesas não impõem que haja autópsia em casos como esse, e a causa da morte do cantor e poeta é até hoje envolto em mistérios.

Como O’Riordan, Houston e Morrison, Matthew Perry também tinha um talento fora do comum e um longo histórico de consumo de drogas. Mas, ao contrário dos nomes lembrados aqui, Perry parecia ter controlado seu impulso autodestrutivo.

Parecia que ele estava na trilha de Robert Downey Jr., outro astro de Hollywood que quase se deixou levar pelo desejo de consumir tudo que o pudesse tirar de seu estado natural, mas conseguiu domar sua dependência química e retomar a rédea de sua vida e de sua carreira.

Mas a verdade é que, possivelmente, o melhor de Perry já tivesse ficado para trás. O ator, ele mesmo, não era uma presença agradável. Nunca era simpático, divertido ou carinhoso quando não estava interpretando o personagem que o transformou numa celebridade mundial, o Chandler, da série "Friends".

Perry era o rei de fazer escolhas erradas na vida pessoal. Não que usar drogas seja necessariamente uma escolha errada por princípio ou por qualquer noção de certo e errado. É ilegal em muitas de suas variações, tem sempre esse argumento muito válido, mas isso é assunto para outro momento e outro escritor.

As escolhas erradas a que me refiro são as que ele mesmo confessa em sua autobiografia. De ter terminado um namoro com Julia Roberts, por quem era apaixonado, porque não se sentia à altura dela, a fazer uma piada de péssimo gosto a respeito de por que River Phoenix tinha de morrer se Keanu Reeves continuava andando por aí. Matthew Perry parece ter sido o tipo de pessoa que atravessava a rua para tropeçar numa casca de banana na outra calçada.

Mas a pena por não ser fofo não precisava ser tão severa. Matthew Perry podia ter uma longa vida, cheia de luxo, riqueza, risadas, reencontros e, eventualmente, até um brinde e um cigarrinho de artista, por que não?

Por tudo que contou em seu livro, seja qual o crime contra sua própria saúde, bem-estar ou reputação que ele tenha cometido, ele mesmo se responsabilizou por seu julgamento e sua condenação. Sua história não precisava virar uma tragédia no último ato.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do que afirmava o texto, Dolores ​O'Riordan não morreu um dia antes de seu aniversário, mas, sim, em 15 de janeiro de 2018. Ela nasceu em 6 de setembro de 1971. A informação foi corrigida.

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