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Matthew Perry, morto neste sábado, narrou relação difícil com drogas em biografia

Ator escreveu sobre dependência de analgésicos no set de 'Friends' no livro 'Amigos, Amores e Aquela Coisa Terrível'

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Mauricio Stycer

Amigos, Amores e Aquela Coisa Terrível

  • Preço R$ 59,90 (294 págs.)
  • Autoria Matthew Perry
  • Editora BestSeller
  • Tradução Carolina Simmer

Quase tudo já foi dito sobre "Friends", uma das séries mais populares e queridas de todos os tempos, inclusive que Matthew Perry enfrentou problemas de dependência química durante as gravações. O que se ignorava era a extensão dos problemas do ator.

Viciado em vicodin, um analgésico à base de opioides, Perry estava tomando 55 comprimidos por dia enquanto gravava a sétima temporada. Para interpretar a aguardada cena do casamento de Chandler com Monica, vivida por Courtney Cox, ele foi trazido de uma clínica de reabilitação e levado de volta horas depois, acompanhado por um funcionário do local.

Amigos, Amores e Aquela Coisa Terrível, de Matthey Perry
Capa do livro 'Amigos, Amores e Aquela Coisa Terrível', de Matthey Perry - Divulgação

Ao chegar no estúdio, ouviu uma reclamação da atriz Jennifer Aniston, que vivia Rachel. "Estou muito irritada com você", ela disse. Ele respondeu —"querida, se você soubesse pelo que eu passei, não ficaria irritada". Com uma sinceridade cortante, Perry descreve a situação em um recém-lançado livro de memórias.

"Então nos abraçamos, e fui trabalhar. Casei com Monica e fui levado de volta para o centro de reabilitação no auge do meu melhor momento em ‘Friends’, no melhor momento da minha carreira, na fase icônica de uma série icônica— em uma picape pilotada por uma pessoa que me manteria sóbrio."

Como outros livros do gênero, "Amigos, Amores e Aquela Coisa Terrível" se destina à prateleira de autoajuda, mas traz alguns diferenciais. Perry escreve muito bem —a editora diz que ele não teve ajuda de ghost writer—, tem um humor afiadíssimo e não cultiva a autopiedade.

O ator desce a detalhes tanto sobre os seus amigos pessoais quanto sobre "Friends", uma duplicidade que se perde no título em português do livro. E faz muitas indiscrições sobre a vida pessoal, com destaque para um romance com Julia Roberts, em meio aos relatos dramáticos sobre os problemas causados pelo alcoolismo e a dependência química (que ele chama de "aquela coisa terrível").

"Cometi mais erros no amor do que Elizabeth Taylor", escreve.

O humor de Perry, eventualmente, é selvagem. Depois de elogiar o ator River Phoenix, com quem contracenou no filme "Uma Noite na Vida de Jimmy Reardon", de 1988, ele escreve "por que será que pensadores criativos como River Phoenix e Heath Ledger morrem, mas Keanu Reeves continua entre nós?".

Os protestos foram tantos que ele teve de pedir desculpas (rindo, creio). "Apenas escolhi um nome aleatório, erro meu. Peço desculpas. Eu deveria ter usado meu próprio nome em vez disso."

Os fãs seguramente vão apreciar, também, o mergulho inicial que Perry faz na própria infância, descrevendo os pais e o casamento fracassado que tiveram. Sua mãe, que posteriormente seria assessora de Pierre Trudeau, um primeiro-ministro do Canadá, foi Miss Rainha do Inverno das Universidades Canadenses.

Com essa coroa na cabeça conheceu o marido, que era vocalista de uma banda chamada Serendipity Singers.

Como é muito comum em livros deste tipo, Perry busca nas memórias da infância as raízes para os problemas que teria posteriormente. Evoca insistentemente a lembrança de uma viagem para visitar o pai nos Estados Unidos portando no avião um crachá com as palavras "menor desacompanhado".

"Passar por aquele voo sozinho foi uma das muitas coisas que me causaram a sensação de abandono que me acompanharia por toda a vida."

Outra passagem inescapável nesse tipo de livro é a visão de Deus, que ocorre numa situação-limite. "Deus tinha me dado um vislumbre de como a vida poderia ser. Ele me salvou naquele dia, e em todos os outros, na verdade. Ele me transformou em alguém que busca não apenas a sobriedade e a verdade, mas também por Ele."

Matthew Perry é, sem dúvidas, um sobrevivente. Ele relata logo no início do livro que ficou seis meses internado, há poucos anos, por causa de um rompimento no cólon. Já sofreu 14 cirurgias desde então. Também afirma que passou por mais de 65 desintoxicações ao longo da vida –a primeira quando tinha 26 anos.

"Gastei mais de US$ 7 milhões tentando ficar sóbrio. Fui a 6.000 reuniões do Alcoólatras Anônimos (não é exagero, mas um palpite aproximado). Já estive 15 vezes em clínicas de reabilitação. Fui internado em um hospital psiquiátrico, passei 30 anos fazendo terapia duas vezes por semana, cheguei perto da morte", diz.

"Eu devia estar morto. Se quiser, pode considerar o que vai ler agora como uma mensagem do além, do meu além", ele próprio adverte na abertura.

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