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Conheça Paul Lynch, que apostou carreira em livro arriscado e ganhou o Booker

'Prophet Song', do escritor irlandês, acompanha bióloga cuja vida doméstica é destroçada pelo avanço do autoritarismo

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Nova York | The New York Times

Quando Paul Lynch começou a escrever seu romance "Prophet Song", ele estava preocupado que isso pudesse destruir sua carreira.

A história —uma perturbadora parábola distópica— era estilisticamente audaciosa, implacavelmente sombria e emocionalmente mais exigente do que qualquer coisa que ele já havia tentado antes. Ele achava que nunca seria publicado. Mas, quando se sentou em sua casa em Dublin e digitou as primeiras passagens do romance, não conseguiu parar.

"A maldita coisa tinha seu próprio impulso", diz Lynch. "Ela simplesmente me sugou."

O escritor irlandês Paul Lynch
O escritor irlandês Paul Lynch - Adrian Dennis/AFP

Quatro anos depois, "Prophet Song" ganhou o Booker, um dos prêmios literários mais prestigiosos do mundo, dissipando qualquer dúvida que Lynch possa ter tido sobre seu futuro como escritor.

O romance irlandês, que será lançado nos Estados Unidos pela Atlantic Monthly Press, acompanha Eilish, uma bióloga e mãe de quatro filhos, cuja vida doméstica agitada nos subúrbios de Dublin é destroçada quando a polícia secreta aparece em sua casa procurando por seu marido, líder de um sindicato de professores. Ele desaparece e nunca mais volta.

À medida que o país mergulha no totalitarismo e na guerra civil, Eilish luta para manter sua família traumatizada intacta, enterrando-se em tarefas domésticas mundanas enquanto o mundo ao seu redor desmorona em caos.

A narrativa —escrita em prosa arrebatadora, sem aspas ou quebras de parágrafo— parece quase claustrofóbica, acompanhando de perto a oscilação de Eilish entre pânico, negação e luto, em vez de explorar as forças políticas que impulsionam a trama.

Críticos literários têm elogiado "Prophet Song" como uma parábola assustadoramente plausível que investiga algumas das questões sociais mais urgentes de nossa era.

Alguns veem o romance como uma mensagem urgente sobre a complacência diante do autoritarismo crescente, como um alerta para os cidadãos ocidentais que se tornaram indiferentes ao sofrimento dos refugiados, como um conto de advertência sobre o extremismo e as sociedades que se fragmentam rapidamente quando a violência política é normalizada.

Lynch consegue entender por que os leitores fazem essas comparações. Depois de ganhar o Booker, tem sido questionado sobre movimentos de extrema direita na Europa Ocidental e sobre os recentes tumultos em Dublin provocados por agitadores de direita —um evento que ele achou chocante e tristemente previsível, à medida que a ideologia extremista continua a se espalhar.

Mas Lynch afirma que nunca teve a intenção de escrever um romance político.

"Meus temas tendem a ser mais metafísicos do que políticos", diz ele durante uma entrevista, a 37ª em três dias, pelo Zoom.

"Muita ficção política começa com sua própria resposta —ela conhece o problema e conhece a solução— e, portanto, trata de ressentimento. Acho que o trabalho da ficção séria deve ser, em vez disso, luto: luto pelas coisas que não podemos controlar, luto pelo que não pode ser compreendido, luto pelo que está além de nós."

Capa do livro 'Prophet Song', de Paul Lynch
Capa do livro 'Prophet Song', de Paul Lynch - Adrian Dennis/AFP

O romancista Colum McCann, que comparou Lynch a Cormac McCarthy e William Faulkner, disse que a musicalidade da prosa em "Prophet Song" permitiu que Lynch evocasse temas políticos importantes sem ser muito enfático.

"Ele não está sendo didático, mas transmite uma mensagem muito séria, e há uma verdadeira coragem neste livro em particular, que aborda um assunto tão grande em um momento em que o mundo está em pedaços", disse ele. "Não ficava tão desequilibrado por causa um livro havia um bom tempo."

Lynch, que publicou cinco romances na última década, há muito tempo é um favorito entre escritores e conquistou a crítica literária. Mas seu trabalho não havia alcançado um público amplo antes da indicação ao Booker.

"Tem sido frustrante para o número de pessoas que o admiram, e ele tem muitos admiradores entre outros escritores, tentar levá-lo mais para o mundo. Mas se há alguma máquina que pode fazer isso, é o Booker", diz Sebastian Barry, um romancista irlandês e fã de longa data do trabalho de Lynch. "Eu não acho que haja outra pessoa como ele."

Embora todos os livros de Lynch apresentem personagens que enfrentam dificuldades e tragédias insuportáveis, "Prophet Song" é talvez o mais implacavelmente sombrio. Também é o livro mais pessoal de Lynch, segundo ele.

As descrições detalhadas das minúcias da vida cotidiana, enquanto Eilish faz compras de leite e apressa as crianças para a escola, foram retiradas da experiência de Lynch como pai, conciliando a escrita enquanto cuidava de seus dois filhos. Usar detalhes de sua própria vida foi uma maneira de ancorar firmemente no presente o que poderia ter se tornado um conto distópico abstrato e distante, diz ele.

"Enquanto eu estava escrevendo, pensei que isso poderia ser entendido como um romance distópico, então vou explodir a forma, injetando o máximo de realidade possível na história."

Quando chegou a hora da conclusão brutal do romance, ele se sentiu paralisado e não conseguiu escrever por quase três meses. Um sonho desbloqueou o final para ele.

Depois de escrever as angustiantes cenas finais da história, seu senso de alívio foi interrompido por um pesadelo da vida real. No verão de 2022, Lynch foi ao médico por causa de uma infecção no peito e, durante uma radiografia do peito, um radiologista descobriu um tumor em seu rim.

Seguiu-se um difícil tratamento, com uma cirurgia bem-sucedida para remover o rim. Pouco depois da cirurgia, seu casamento terminou. Um ano depois, "Prophet Song" foi indicado ao Booker.

Na cerimônia em Old Billingsgate, em Londres, ele diz ter se sentido abalado e sobrecarregado; as dificuldades que ele havia enfrentado no último ano ainda pesavam.

Vinte minutos antes de o vencedor ser anunciado, saiu da sala em pânico. O romancista Ben Okri o seguiu para o corredor e o tranquilizou. Lynch voltou para a sala, e seu nome foi chamado.

"As pessoas que me conhecem e sabem como foi meu ano me dizem que isso é um conto de fadas, e há momentos em que me permito pensar que talvez seja verdade", diz ele, com um sorriso se abrindo em seu rosto. "O trapaceiro universal tem se divertido às minhas custas."

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