Tentativas de censurar livros aceleraram nos Estados Unidos no último ano

Muitos dos títulos contestados apresentam personagens LGBTQIA+ ou lidam com racismo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Nova York | The New York Times

Após vários anos de aumento de proibições de livros, os esforços de censura continuaram a crescer no ano passado, atingindo os níveis mais altos já registrados pela American Library Association.

No último ano, 4.240 títulos individuais foram alvo de remoção de bibliotecas, um aumento em relação aos 2.571 títulos em 2022, de acordo com um relatório divulgado na quinta-feira pela associação.

Estudante em uma biblioteca da Universidade Rice, no estado americano do Texas - Brandon Bell - 26.abr.22/Getty Images/AFP

Esses números provavelmente não capturam a escala completa das remoções de livros, já que muitas não são relatadas. A American Library Association, que acompanha as proibições de livros há mais de 20 anos, compila dados de contestações a livros relatados por profissionais de bibliotecas ao grupo e informações coletadas de notícias.

"Eu acordo todas as manhãs esperando que isso acabe", diz Emily Drabinski, presidente da organização. "O que acho marcante é que isso ainda está acontecendo, e está acontecendo com mais intensidade."

O acentuado aumento nos livros contestados ocorre à medida que as bibliotecas nos Estados Unidos emergem como um campo de batalha em uma guerra cultural sobre o que constitui material de leitura apropriado.

Embora as proibições de livros não sejam novas, os esforços de censura tornaram-se cada vez mais organizados e politizados, com o surgimento de grupos conservadores como Moms for Liberty e Utah Parents United, que incentivam seus membros a apresentar queixas sobre livros que consideram inadequados e têm feito lobby por legislação que regula o conteúdo das coleções de bibliotecas.

Alguns bibliotecários e grupos de defesa da liberdade de expressão também estão alarmados com o aumento das remoções e contestações de livros em bibliotecas públicas, que aumentaram 92% em 2023 em comparação com o ano anterior, totalizando 1.761 títulos individuais. Nas bibliotecas escolares as contestações aumentaram 11%, de acordo com o relatório.

"O que estamos vendo é uma evidência absoluta de que há, na verdade, um esforço organizado para remover livros específicos tanto das bibliotecas escolares quanto das bibliotecas públicas", diz Deborah Caldwell-Stone, diretora do Office for Intellectual Freedom da associação de bibliotecas. "Eles estão mirando os mesmos títulos com as mesmas táticas, essas contestações em massa."

Disputas sobre quais livros pertencem às coleções de bibliotecas têm dividido comunidades e conselhos escolares, e levaram a ataques a bibliotecários, que têm sido cada vez mais questionados pelos livros em suas coleções.

Alguns bibliotecários enfrentaram acusações de fornecer pornografia e foram assediados online por pessoas pedindo sua demissão ou até mesmo prisão. Algumas bibliotecas que se recusaram a banir livros foram ameaçadas com a perda de financiamento.

Bibliotecários e distritos escolares estão agora recebendo mais queixas que exigem a remoção de vários títulos, às vezes dezenas ou até centenas de livros, de acordo com o relatório da associação de bibliotecas.

O aumento nas remoções de livros também decorre em parte de nova legislação que visa regular o conteúdo das bibliotecas. No ano passado, mais de uma dúzia de estados aprovaram leis que visavam as bibliotecas, às vezes impondo restrições aos tipos de materiais que podem estocar ou expondo bibliotecários a penalidades criminais se não cumprirem, de acordo com uma análise da EveryLibrary, um comitê de ação política para bibliotecas.

Muitos dos títulos que foram contestados apresentam personagens LGBTQIA+ ou lidam com raça e racismo, disse a American Library Association. Tais livros representaram quase 50% das contestações, de acordo com o relatório.

Os mesmos títulos frequentemente são alvo em bibliotecas de todo o país; nos últimos anos, alguns dos livros mais contestados incluíram clássicos como "O Olho Mais Azul" de Toni Morrison e "O Conto da Aia" de Margaret Atwood, títulos populares para jovens adultos como "Quem é Você, Alasca?" de John Green, e obras com temas LGBTQ+ como "Este Livro é Gay" de Juno Dawson e "Gênero Queer" de Maia Kobabe.

Em resposta ao aumento das proibições de livros, algumas organizações de liberdade de expressão, editoras, autores, livreiros e grupos de bibliotecas lançaram um movimento contrário. Alguns se juntaram a processos judiciais que desafiam a legislação que levou ao aumento das remoções de livros.

Cerca de 20 estados introduziram legislação que visa proteger o "direito de ler", às vezes garantindo que as bibliotecas possam criar coleções sem limitações impostas externamente, de acordo com Caldwell-Stone.

"Minha sincera esperança é que não estejamos falando sobre isso em um ano, que veremos um entendimento crescente de que as bibliotecas precisam atender a todos", diz Caldwell-Stone. "Sempre haverá livros nas prateleiras com os quais podemos não concordar, mas eles estão lá para outro leitor."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.