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Diogo Bachega

Como Anitta busca ampliar sua credibilidade no Museu da Língua Portuguesa

Ação da cantora em cartaz até domingo desafia o público que vê seu trabalho como algo inferior dentro da cultura brasileira

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São Paulo

O Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, abriga até domingo uma ação —não uma "exposição", como corrige uma funcionária do espaço. O termo é realmente mais adequado para uma novidade acanhada, mas que serve a seu propósito.

A parte externa da instituição foi tomada por cartazes da ação. Uma placa maior pergunta ao visitante "Do You Speak Anitta?", ou você fala a língua de Anitta, enquanto papéis menores exibem trechos de músicas do novo álbum da cantora, "Funk Generation", com QR Codes que levam ao Spotify, plataforma de streaming que intermediou a parceria entre a cantora e a instituição.

Anitta em foto de seu novo álbum, 'Funk Generation'
Anitta em foto de seu novo álbum, 'Funk Generation' - Divulgação

No terceiro andar do museu —a equipe do espaço recomenda que os três andares sejam visitados de cima para baixo—, Anitta participa da mostra "Falares", que exibe, a partir de vídeos, sotaques de pessoas de diferentes lugares do Brasil. Um andar abaixo está a ação da cantora em si.

Os visitantes entram numa sala escura do segundo andar e podem se sentar em alguns bancos. Em um telão, Anitta se apresenta, acompanhada de cenas em preto e branco e uma de suas músicas. "Eu, a patroa, 'la diosa', 'the boss', tenho uma língua própria. Uma língua que rebola. Que mistura inglês, espanhol, português e faz todo mundo entrar no 'beat'", ela diz.

A artista passa então a explicar alguns dos versos de seu álbum, como "joga pra lua" —"uma frase que promove a liberdade corporal sem restrições"— e "grip" —que "é a pegada", conforme ela explica, e pode significar "uma representação do controle que Anitta exerce em sua vida".

Se os verbetes por vezes forçam a barra ao tentar dar seriedade para o que era bom exatamente pela leveza, a exposição parece servir ao que pode fazer de melhor, que é utilizar a imagem da cantora para levar novos públicos ao Museu da Língua Portuguesa. Para isso, a disposição da ação com Anitta é boa, já que os visitantes são obrigados a passar por outras atrações chamativas antes de alcançá-la.

Ao mesmo tempo, o museu abre ainda mais espaço para novas narrativas, ainda que já pareça estar atento a isso. Além da "Falares", uma exposição temporária apresenta as línguas africanas que participam da nossa, e outra apresenta línguas indígenas. Em outras mostras, aparece o mesmo reconhecimento de que o português brasileiro não vem apenas do latim e tampouco é a única língua falada no país.

Se para o museu a ação atrai público, para a cantora é de se imaginar que a vantagem perseguida tem mais a ver com credibilidade. Ao aparecer num espaço importante como este, ela desafia o público que vê seu trabalho como algo inferior dentro da cultura brasileira.

Por mais que movimentos periféricos e identitários muitas vezes rejeitem a ideia de buscar a ratificação do que veem como representantes da cultura tradicional, e não sem alguma razão, ocupar espaços como esse pode servir como evidência de que o funk tem seu lugar em ambientes de prestígio. Mais do que se dobrar ao espaço, a cantora o reivindica.

Do You Speak Anitta?

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