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Daniil Trifonov toca a história da música em noite na Sala São Paulo

Astro do piano russo, interpreta obras de Rameau, Mozart, Rachmaninov e Beethoven em um aguardado recital

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São Paulo

Daniil Trifonov tem o mundo ao alcance das mãos. Aos 33 anos, o pianista russo viaja a maior parte do ano se apresentando nas principais salas de concerto da Europa e dos Estados Unidos, como o Musikverein, em Viena, e o Carnegie Hall, em Nova York.

Com a rotina atribulada e uma certa dificuldade em lidar com a imprensa, Trifonov recusou o pedido de entrevista, dias antes de chegar ao Brasil, onde fará dois aguardados recitais.

Dario Acosta/Divulgação
O pianista russo Daniil Trifonov

Ele sobe ao palco da Sala São Paulo, nesta terça-feira, e, daqui a duas semanas, toca no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Por aqui, ele vai replicar o que tem feito pelos seis continentes, propondo uma viagem, numa única noite, pela história da música ocidental.

O programa se inicia no século 18, com a "Suíte em Lá Menor", de Jean-Philippe Rameau. Decerto, é uma obra exemplar para se entender o funcionamento dessa forma musical, tão característica do período barroco, originalmente usada para emparelhar danças, numa sequência de peças.

Da "Allemande", o primeiro movimento, se depreende a singeleza interpretativa, que confere uma profundidade anímica à obra do compositor francês. Entre cadências e trilos, as escalas desenham melodias intimistas e se encerram na região central do teclado.

Em seguida, Trifonov toca a "Suíte nº 12", de Mozart, terminando a primeira parte da apresentação, com "Variações sobre um Tema de Corelli", de Rachmaninov, um salto temporal até o século 20.

Nesse momento, Trifonov exibirá seu virtuosismo em 20 variações, entre o tema e a coda. Depois do intervalo, o artista chega ao "é da coisa", interpretando a "Sonata nº 29", de Beethoven, conhecida como "Hammerklavier".

O espírito tempestuoso do compositor alemão se concretiza na complexidade harmônica, que demanda ao intérprete articular velocidade e precisão, em mesma medida. Não raro, a musicologia a tem como a sonata mais difícil escrita por Beethoven. Mas seria raso achar que o recital de Trifonov se distingue pelo virtuosismo.

De certa forma, a atitude de Rachmaninov ao compor "Variações" espelha aquilo que Trifonov aspira para a sua carreira. O compositor russo se inspirou em um tema barroco usado pelo italiano Arcangelo Corelli para o reinventar, usando uma gramática própria.

No atual estágio da carreira, Trifonov deseja explorar outros repertórios, de outras épocas, e não só a música russa. Não por acaso, há dois anos, ele lançou um disco com peças de Bach e outro dedicado a canções de Schumann, Brahms e Berg, com o barítono alemão Matthias Goerne.

Nesse sentido, é possível perceber uma gradual expansão de seu repertório, embora subsista ainda o "tocar russo", estilo exercitado pelo próprio Rachmaninov ou por Vladimir Ashkenazi. Tanto que Trifonov sempre repete ter paixão pelos exercícios demoníacos de Scriabin.

Numa entrevista dada ao jornalista britânico James Jolly, disponível no YouTube, o pianista diz até que a obra de seu conterrâneo é agora pouco explorada, atualmente. O motivo, segundo ele, é a necessidade de muitos dias de ensaio antes das apresentações.

Evitando encarar a câmera, o pianista pouco fala. Suas respostas se resumem a um punhado de palavras. A personalidade introspectiva o acompanhou durante a sua infância, quando a cidade de Novgorod ainda fazia parte da União Soviética.

Em sua casa, a música se fazia presente nos ofícios do pai, um compositor, e da mãe, professora de música. Logo aos oito anos, ele deu o seu primeiro recital. Nove anos depois, ele venceria o Concurso Internacional de Piano Scriabin, emendando, em 2010, uma outra vitória, agora no Concurso Chopin.

Trifonov estreou, cinco anos depois, da Deutsche Grammophon, com "Rachmaninov Variations". Pela mesma gravadora, ele registraria mais três obras de seu conterrâneo, além do festejado "Chopin Evocations", de 2017. Com o tempo, o assédio da mídia só aumentou.

Morando em Nova York com sua mulher, da República Dominicana, o pianista se tornou de vez um cidadão desse mundo que ele alcança com as mãos. Para o melômano, poder ver e ouvir a sua arte significa atingir um outro mundo, aquele que só Daniil Trifonov conhece.

Recital de Daniil Trifonov

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