Descrição de chapéu
Sandro Macedo

Mostra sobre Al Pacino apresenta quem foi o maioral dos anos 1970

Com 24 filmes, como 'O Poderoso Chefão', 'Serpico' e 'Um Dia de Cão', seleção contempla melhores trabalhos do ator

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Paris

Um ator, uma década. Se a brincadeira existisse, provavelmente nos anos 1970 teríamos um vencedor com folga: Al Pacino. E olha que naquele período desfilaram concorrentes do calibre de Robert de Niro, Dustin Hoffman, Jack Nicholson, Warren Beatty e Robert Redford, entre vários outros.

Mas nenhum deles figurou em tantos títulos icônicos num espaço tão curto: "O Poderoso Chefão" (1972), "Serpico" (1973), "Chefão 2" (1974), "Um Dia de Cão" (1975) e "Justiça para Todos" (1979). Poder assisti-los em sequência é melhor que muita maratona de série.

O personagem de Al Pacino em Scarface (1983) era dono de tigre
O personagem de Al Pacino em 'Scarface' - Getty Images

O quinteto forma o "crème de la crème" da mostra Pacino, que exibe 24 títulos com o ator nova-iorquino, no CCBB de São Paulo, a partir de sábado (6) —não por acaso, "Serpico", às 15h, e "Um Dia de Cão", às 17h30, abrem o evento. A seleção também está em cartaz no CCBB de Brasília.

Todos os oito trabalhos do ator na década de 1970, aliás, estão presentes na mostra, com curadoria do crítico Paulo Santos Lima.

Não precisa ser nenhum grande estudioso do cinema para constatar que "O Poderoso Chefão" ditou o rumo da carreira de Pacino por décadas a fio. Mas o filme que determinou a escolha do jovem, que já começava a fazer sucesso no teatro, foi "Os Viciados" (1971), de Jerry Schatzberg, que também será exibido.

Depois de assistir ao primeiro filme de Pacino como protagonista, no qual ele interpretava um pequeno traficante viciado em heroína, Francis Ford Coppola bateu o pé. Queria o ator como Michael Corleone —apesar de a Paramount tentar convencê-lo a escalar Redford, Hoffman ou Beatty.

Ator do famoso método, técnica difundida no Actors Studio, Al (de Alfredo) Pacino sempre teve a capacidade de encarnar o tipo comum com maestria. Só no olhar, às vezes meio perdido, Pacino vai do calmo ao maquiavélico, do insano ao desesperado, como acontece com Sonny, protagonista de "Um Dia de Cão", que assalta um banco para conseguir dinheiro para bancar a operação de readequação sexual do namorado —mas vê seu plano ruir antes de conseguir escapar com o dinheiro.

Em "Serpico", com uma barba meio desgrenhada e de gorro, ou com um clássico chapéu, interpretou o policial angustiado, que trabalhava disfarçado para prender traficantes ao mesmo tempo em que era hostilizado pelos colegas da delegacia por não aceitar propina.

E melhor nem começar a falar da transformação do personagem nos filmes de Coppola. Pelos cinco títulos citados no início do texto, o ator foi indicado ao Oscar —sempre como principal, exceção ao primeiro "Chefão", no qual foi coadjuvante de Marlon Brando. Poderia ter vencido os cinco sem causar polêmica, ou pelo menos uns três, mas perdeu todos.

Pouca coisa a se falar dos anos 1980, como o visceral "Scarface" (1983), de Brian de Palma, que se tornou referência na cultura pop, com recorde de palavrões e muitas camisetas celebrando o seu Tony Montana. Foram anos de fracassos, como "Revolução" (ausente da mostra) e de um retorno ao teatro —ainda que a volta ao cinema seja com o simpático policial "Vítimas de uma Paixão" (1989).

Em quantidade de títulos no CCBB, os anos 1970 só perdem para os 1990 (com dez). Foi a década da tardia consagração, com sua performance como o ex-militar cego e intragável de "Perfume de Mulher" (1992), de Martin Brest, título que finalmente lhe rendeu o único Oscar.

O prêmio àquela altura parecia quase um pedido de desculpas tardio pelas derrotas do passado. Depois de "Perfume", Pacino só voltou a ser indicado por "O Irlandês" (2019, fora da mostra), de Martin Scorsese, como coadjuvante.

Antes, em 1990, encerrou a trilogia do Chefão, no qual sua brilhante despedida como Michael Corleone é até hoje menos citada que o fraco desempenho de Sofia Coppola como sua filha, Mary —Sofia se revelaria depois uma diretora de mão cheia. No mesmo ano, naquela primeira onda de heróis (culpa de "Batman", de Tim Burton), fez um vilão deliciosamente carticato e cheio de maquiagem em "Dick Tracy", com os parças Beatty e Hoffman —e foi indicado à estatueta de coadjuvante.

No mundo pós-Oscar, Pacino ainda estrelou bons policiais, como "O Pagamento Final" (1993), de novo com De Palma; "Fogo contra Fogo", vendido como o filme em que finalmente De Niro e Pacino atuam juntos (a dupla fez "Chefão 2", mas em épocas diferentes); e "Donnie Brasco" (1997), com Johnny Depp.

Para fechar aquela década, fez o excelente filme de jornalismo investigativo "O Informante", de Michael Mann, no qual viu o brilho do parceiro Russell Crowe.

Dos anos 2000 para cá, a maioria dos trabalhos do ator devem ter servido para engordar suas finanças, e nada de errado com isso. O mais recente da mostra é "Era uma Vez em… Hollywood" (2019), de Quentin Tarantino, que, convenhamos, ninguém vai ver por causa dos parcos minutos de Pacino em cena.

E se é para mostrar todos os predicados de Pacino como ator, talvez dê para citar as ausências de "Ricardo 3º - Um Ensaio", (1996), que ele também dirige, e "O Mercador de Veneza" (2004), de Michael Radford, filmes em que mostra sua dedicação aos personagens shakespearianos. Nada que os anos 1970 não resolvam.

Pacino

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