Artista cria parque de diversão no Ibirapuera para conectar adultos à infância

Flávia Junqueira ganha duas exposições na capital paulista que usam balões e carrosséis para criar universo lúdico

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São Paulo

Grandes balões multicoloridos flutuam no Parque Ibirapuera, na capital paulista. Próximo ao pavilhão Ciccillo Matarazzo, é possível ver um carrossel dourado em meio a luzes que cintilam no átrio construído para receber os brinquedos.

Essa estrutura, porém, é mais do que um parque de diversão. Trata-se de uma obra da artista visual Flávia Junqueira, que realiza a sua primeira mostra ao ar livre a partir deste sábado (14). O trabalho faz parte do projeto Contemporâneas Vivara, iniciativa que estimula a produção de artistas mulheres.

Josep Lago/AFP
Instalação de Flávia Junqueira no Liceu Grand Theatre, em Barcelona - AFP

Já na quarta (18), ela ganha outra exposição, desta vez no Centro Cultural Fiesp, na avenida Paulista. Intitulada "Extasia", a mostra traz obras que ela produziu nos últimos cinco anos.

Na sala expositiva, há carpetes e grandes cortinas vermelhas, cenografia que empresta uma certa teatralidade à exposição. "A gente quis que fosse como um espetáculo, então instalamos também pequenos pontos de luz, algo que está no trabalho no Ibirapuera."

Embora pareça ter sido feita para crianças, a instalação no parque busca cativar os adultos e reconectá-los a aspectos lúdicos de suas vidas.

"A obra fala exatamente sobre esse ponto. É um descolamento da realidade para criar um faz de conta", diz Junqueira, acrescentando que o trabalho oferece maneiras diferentes de enxergar a realidade.

"Ele propõe algo menos racional e um mergulho no tempo da criança, que não tem a ansiedade do futuro nem a nostalgia do passado. Elas vivem o presente." De certa forma, é uma proposta disruptiva em uma cidade acostumada a viver com pressa, como é o caso de São Paulo.

"É quebrar com uma lógica pautada na produtividade. A gente vive como se a vida fosse uma progressão, em que precisamos ser cada vez melhores do que antes."

A exemplo do que defende o escritor Ailton Krenak, Junqueira acredita que a vida não é útil, ou seja, ela não precisa ser orientada para alcançar metas e resultados. A artista diz que a escolha de expor em ambientes de arquitetura neoclássica é uma evidência disso.

Ela diz que essas construções não foram pensadas apenas para atender a demandas práticas, mas também para valorizar aspectos estéticos. "Sempre entro nesses espaços que têm muitos ornamentos, coisas que não são necessariamente funcionais."

Doutora em artes visuais pela Unicamp, Junqueira tem obras em instituições como Museu de Arte do Rio, Museu de Arte Moderna de São Paulo e Museu da Imagem e do Som da capital paulista. Ela é conhecida por ocupar grandes espaços com balões multicoloridos. Foi isso o que ela em 2022 no Gran Teatre del Liceu, em Barcelona.

"O que mais me chamou a atenção com esse trabalho foi ver os adultos brincando como crianças, outros ficavam sentados no chão apenas contemplando os balões. Por causa das demandas da vida adulta, a gente acaba esquecendo de experimentar esse aspecto mais lúdico."

A artista fez uma intervenção parecida em espaços históricos como o Teatro Santa Isabel, em Recife, e no Parque Lage, no Rio de Janeiro. A longevidade desses espaços contrasta com o caráter efêmero dos balões.

"São lugares feitos para durar, enquanto o balão se esvazia em oito horas. Penso muito na questão do tempo no meu trabalho."

Aliás, a produção de Junqueira é permeada por ambiguidades. Não há apenas um diálogo entre o efêmero e o duradouro, mas também entre as luzes e as sombras. Alguns de seus carrosséis têm um aspecto melancólico, como o que foi exposto na mostra "Rêverie", na Zipper Galeria, em São Paulo.

Na sala expositiva, um carrossel flutuava e girava a dois metros do chão, perpassado por luzes que projetavam sombras pelo espaço.

Já em 2011, ela fez o ensaio fotográfico "Gorlovka 1951", no qual reuniu brinquedos dentro de um palácio em ruínas de Donetsk, na Ucrânia. As fotografias parecem capturar uma infância perdida em um mundo devastado.

"Tenho consciência de que, em alguns trabalhos, invisto mais nas sombras porque nem toda memória de infância é divertida", diz Junqueira . "Toda criança, por mais lúdica que seja, também enfrenta monstros. Tenho trabalhos em que esses monstros estão muito mais presentes."

Contemporâneas Vivara - Banca Galeria por Flávia Junqueira

Extasia

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