Documentário em Veneza sobre soldados russos causa indignação na Ucrânia

Chefe de gabinete de Zelenski disse ser 'vergonhoso' que 'filme de propaganda' tenha sido exibido no festival

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Kiev | AFP

Personalidades políticas e culturais ucranianas denunciaram, na sexta-feira, um documentário apresentado no Festival de Cinema de Veneza que dá voz a soldados russos, que consideraram uma "propaganda" de Moscou, o que a diretora da obra nega.

Anastasia Trofimova apresentou em Veneza "Russians at War", após passar meses com um batalhão russo no front ucraniano, colhendo depoimentos sem filtro de soldados, nos quais baseou seu documentário.

Anastasia Trofimova usa camisa clara, tem cabelos longos e pretos. Ela olha para a câmera com um leve sorriso e apoia o rosto no punho direito
A diretora do filme 'Russians at War', Anastasia Trofimova - Richard Quinlan/Divulgação

Em mensagem publicada nas redes sociais, o chefe de gabinete do presidente Volodimir Zelenski, Andrii Yermak, disse ser "vergonhoso" que um "filme de propaganda" tenha sido exibido no festival. Ele considerou que as "personalidades da cultura russa" não têm o direito de "trabalhar no mundo civilizado".

Em comunicado enviado à AFP, a diretora da obra defendeu sua produção como "um documentário antiguerra", para cuja realização "foi necessário assumir grandes riscos. A insinuação de que se trata de uma propaganda orquestrada pela Rússia é absurda, sabendo que estou ameaçada de ações criminais naquele país."

Daria Zarivna, ativista ucraniana e assessora de Yermak, disse que o filme busca "justificar" as ações do Exército russo e acusou Anastasia de esconder "os crimes de guerra" dos quais as forças russas são acusadas na Ucrânia.

"Condeno a invasão da Ucrânia pelo Exército russo", respondeu a diretora. "Também compreendo o sofrimento e aborrecimento que este tema pode gerar para aqueles que sofrem com a guerra."

Em entrevista à AFP, Anastasia explicou que foi sozinha para o front e que apenas perguntou aos soldados se poderia "filmar suas histórias".

Segundo um jornalista da AFP que assistiu ao documentário, as duas horas de filmagem mostram soldados que parecem ter perdido a noção da guerra. Na falta de equipamentos, eles mesmos consertam suas armas com material da era soviética e sucumbem ao tabaco e ao álcool para tentar esquecer a dor causada pelos ferimentos e pela morte de colegas.

A produtora Daria Bassel, que disse ter assistido ao documentário em Veneza, afirmou que se trata de "um exemplo perfeito de pura propaganda russa", em que soldados usam os argumentos do Kremlin para justificar a invasão à Ucrânia.

A cineasta ucraniana Iryna Tsilyk criticou os organizadores do festival por terem apresentado "algo que cheira tão mal".

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