Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Exército russo recruta indianos para combater na Guerra da Ucrânia

Segundo familiares, eles não sabiam que iam para a frente de batalha; acusado de omissão, governo indiano não especifica onde atuam compatriotas

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AFP

Um agricultor, um trabalhador de uma empresa de alimentos e um desempregado licenciado estão entre os cidadãos indianos contratados por Moscou que está combatendo na Ucrânia. Para recrutar indianos, o Exército russo conta com a ajuda de uma rede de recrutamento.

Mais de dois anos após o início da invasão russa à antiga república soviética vizinha, milhares de soldados russos morreram na Ucrânia. Por esse motivo, Moscou busca mais combatentes ao redor do mundo, às vezes com a ajuda de intermediários.

Mohammed Imran segura foto de seu irmão, Mohammed Asfan, que foi recrutado pelo Exército russo - Noah Seelam / AFP

Um tradutor indiano que trabalha em um centro de recrutamento militar em Moscou relatou que sua agência faz parte de uma rede com escritórios em toda a Rússia.

"Cada cidade importante tem um centro de recrutamento para estrangeiros", disse o homem, que pediu para permanecer sob anonimato.

Alguns cidadãos indianos relataram que prometeram a eles funções que não envolviam combate, mas foram treinados para usar fuzis Kalashnikov antes de serem enviados para a Ucrânia.

Um contrato redigido em russo pelo Ministério da Defesa de Moscou refere-se a um "serviço militar nas Forças Armadas da Federação Russa", com o requisito de "participar de hostilidades" e "servir o povo russo sem limites".

A Índia, aliada de longa data da Rússia, não condenou explicitamente a invasão da Ucrânia.

Cinco cidadãos indianos recrutados para as forças russas relatam que souberam dos empregos como "assistentes do Exército" por meio das redes sociais. Segundo eles, o anúncio prometia um salário de cerca de US$ 1.200 por mês (R$ 5.9 mil). Nenhum deles tinha experiência militar.

Os vídeos sobre os empregos foram postados por Faisal Khan, um recrutador que vive em Dubai e que tem contas no YouTube, Instagram, TikTok e Baba Vlogs.

Em uma postagem, Khan caminha por uma rua de São Petersburgo, na Rússia, e fala sobre um emprego como assistente do Exército com um salário de US$ 3.600 (R$ 17.9 mil). "Você não precisa lutar", diz ele em um vídeo gravado com seu telefone.

Em pouco tempo, ele recebeu uma avalanche de solicitações da Índia, onde a economia está crescendo, mas o desemprego está em alta histórica.

Khan afirmou que esteve envolvido no transporte de 16 cidadãos indianos para a Rússia entre novembro e dezembro.

"Eu trabalho com redes sociais e ajudo as pessoas a encontrar trabalho", disse Khan. "Um amigo da Rússia me contatou e disse que o Exército precisava de assistentes, e eu pensei que era uma boa oportunidade e fiz um vídeo."

Em uma conversa posterior, Khan afirmou que ficou desconcertado ao ouvir que os recrutas receberam armas e houve relatos de "corpos sendo repatriados e feridos". "Decidimos encerrar o processo de recrutamento", disse ele.

Mas o vídeo que mostra Khan nas ruas de São Petersburgo, intitulado "Empregos no Exército russo", ainda está on-line.

Um dos recrutados pela campanha de Khan é um graduado universitário originário de Uttar Pradesh, no norte da Índia. O homem afirma que lutou na região de Donetsk, uma área no leste da Ucrânia ocupada pela Rússia.

"Fui ferido em combate e levado ao hospital, de onde consegui escapar", relatou ele de Moscou enquanto aguardava repatriação.

Outro cidadão indiano alistado foi enviado para Kherson, no sul da Ucrânia, junto com um compatriota agricultor e nove cubanos. Ele afirmou que estavam aguardando ser convocado.

"Posso ser chamado para lutar a qualquer momento", disse o jovem de 27 anos originário de Gulbarg, no estado de Karnataka, que antes trabalhava em uma empresa que preparava alimentos para companhias aéreas. "Estou com medo e tudo o que quero é ir para casa."

Vários dos recrutas enviaram fotos de uniforme militar para suas famílias, e as imagens foram analisadas. A geolocalização das fotografias corresponde a um centro militar próximo a Moscou.

Nem a Rússia nem a Ucrânia divulgaram quantos estrangeiros estão combatendo em seus Exércitos ou quantos estão detidos como prisioneiros de guerra.

O Ministério das Relações Exteriores da Índia confirmou que há cidadãos indianos que assinaram contratos para trabalhar como apoio no Exército russo, sem especificar se são posições de combate.

Várias famílias de cidadãos indianos recrutados afirmam terem sido enganadas e culpam as autoridades do país por não fazerem o suficiente.

Mohammed Imran, um comerciante de Hyderabad, não tem notícias de seu irmão mais novo de 30 anos há quase dois meses, quando ligou da cidade do sul da Rússia de Rostov do Don, perto da fronteira com a Ucrânia. Na ligação, ele disse que tinha sido levado para a linha de frente.

"Um dos rapazes que estava com ele conseguiu escapar e nos contou que meu irmão foi baleado", relatou Imran. "Ele foi para lá para poder proporcionar uma vida melhor para sua família e agora nem sabemos se está vivo."

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