Descrição de chapéu América Latina

Festival Mirada, em Santos, começa com homenagem ao Peru e peça de Preciado

Trinta e três espetáculos da América Latina, Portugal e Espanha serão apresentados em diversos espaços na cidade

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São Paulo

A 7ª edição do Mirada - Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas do Sesc São Paulo começa nesta quinta-feira (5), em Santos, com uma homenagem ao teatro por meio do espetáculo do grupo peruano Yuyachkani, que ocupa espaços abertos e mistura artes cênicas e vida cotidiana.

A apresentação de "El Teatro Es un Sueño" será na praça Doutor Caio Ribeiro de Moraes e Silva, em frente ao Sesc Santos, às 17h. O grupo volta a ocupar espaços públicos na sexta (6), na praça Mauá, às 16h, e no sábado, no Emissário Submarino, às 16h.

A peça é inspirada em texto homônimo do poeta peruano César Vallejo e conta com artistas do Peru e do Brasil.

A imagem mostra uma cena de uma performance teatral. No fundo, há uma projeção em preto e branco de duas figuras, um homem e uma mulher, ambos com expressões faciais distintas. Quatro pessoas em trajes brancos, que parecem ser cientistas ou médicos, estão em pé em microfones, com uma delas lendo um texto. Um homem de terno preto está sentado em uma cadeira, voltado para os apresentadores. O ambiente é iluminado de forma suave, com um fundo neutro.
Espetáculo 'Yo Soy El Monstruo Que Os Habla', do filósofo Paulo B. Preciado, é uma das atrações do festival - Enric Vives-Rubio/Divulgação

Considerado um dos principais eventos de artes cênicas do país, o Mirada reúne, até o dia 15 de setembro, 33 produções teatrais contemporâneas da América Latina, Portugal e Espanha.

Elas serão apresentadas em 17 lugares, em 80 sessões, e abordarão temas como as questões indígenas, decoloniais e climáticas, além da violência de gênero, migrações e a diversidade dos corpos.

Além de espaços cênicos tradicionais, os espetáculos ocuparão ruas, praças e lugares como a Casa da Frontaria Azulejada e os Arcos do Valongo. Shows, bate-papos e oficinas também fazem parte da programação.

O Peru é o país homenageado este ano e estará representado por oito espetáculos. O público poderá assistir ainda a 12 obras vindas da Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Espanha, México, Portugal e Uruguai, além de 13 trabalhos nacionais do Amazonas, Ceará, Minas Gerais, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e São Paulo.

A curadoria foi idealizada em torno de três eixos: o sonho, a floresta e a esperança.

"O teatro talvez seja, para o Ocidente, a forma que veio substituir o ritual ancestral de compartilhamento do sonho", diz a equipe de curadoria do festival, assinada pelos artistas Alessandra de Assis Perrechil, Fabrício Floro, Tommy della Pietra e Rani Bacil Fuzetto.

Para a curadoria, a floresta é o grão e está no meio da programação de 11 dias do festival, que inclui presenças indígenas em obras que defendem os ecossistemas. E a esperança atravessa toda a programação, como um sentimento de justiça futura.

A programação conta com a peça "Yo Soy El Monstruo Que Os Habla", do escritor e filósofo espanhol Paul B. Preciado. Inédito no Brasil, o espetáculo fala sobre violências sofridas pela comunidade LGBTQIA+.

A obra recria a conferência de Preciado para 3.500 psicanalistas, realizada em Paris, em 2019, quando ele denunciou a violência que a psicanálise exerce sobre corpos dissidentes.

Em um paralelo ao conto "Um Relatório para uma Academia", de Kafka, em que um macaco encarcerado aprende a linguagem humana e fala a um grupo de cientistas, o filósofo dirigiu-se à assembleia como homem trans caracterizado como disfórico de gênero.

"Estar no palco dando vida aos textos é uma catarse. Porque todas elas são eu e eu sou todas elas. Essas situações de violência, opressões e injustiças sociais, a forma de ver a vida e de julgar as mulheres ou os corpos trans racializados, migrantes, marcados por diferentes violências que Paul relata nesta obra", diz a atriz Faby Hernández, que está no elenco da peça.

Ela afirma que o espetáculo relata situações vividas ao longo de sua trajetória e, por isso, não parece interpretar uma cena.

"Sinto que estou em frente ao espelho, questionando o sistema por sua injustiça contra as mulheres trans. Apesar de termos dado a cara lutando pelos direitos humanos, há 50 anos continuamos sendo estigmatizadas e violentadas socialmente", conclui.

Outro espetáculo inédito é "La Vida en Otros Planetas", dirigido por Mariana de Althaus, com um panorama da educação pública no Peru pelos olhos de um grupo de professores e alunos. A dramaturgia incorpora relatos reais de educadores colhidos em questionários anônimos, além de testemunhos pessoais do elenco.

Entre as produções brasileiras um dos destaques é "Azira’i", um espetáculo autobiográfico sobre a relação da atriz, cantora e ativista Zahy Tentehar com a sua mãe, a primeira mulher Pajé da reserva de Cana Brava, no Maranhão. Ela chegou a ocupar a categoria dos Pajés Supremos dos povos Tentehar, destinado apenas a pessoas com sabedorias medicinais e espirituais extremamente desenvolvidas.

Zahy recebeu o Prêmio Shell como melhor atriz neste ano. Foi a primeira mulher indígena a receber a premiação

Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas

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