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Sepultura, em show da turnê final, sai do palco para entrar na história

Em apresentação em São Paulo, banda prova que merece estar no panteão do metal, ao lado de ícones como Black Sabbath

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Derrick Green e Andreas Kisser Show da banda Sepultura no espaco Unimed na Barra Funda, neste domingo (8) - Zanone Fraissat

São Paulo

O contador de decibéis marcava 105 —15 pontos a menos do que um avião decolando. Mas o cenário não era um aeroporto, e sim o terceiro e último show do Sepultura em São Paulo desta fase da turnê de despedida da banda.

Tocando em mais uma noite no Espaço Unimed para casa cheia —8.000 pessoas—, a maior banda de metal do Brasil pinçou faixas de seus 40 anos de carreira que atenderam tanto aos fãs da fase inicial da banda, com o ex-vocalista Max Cavalera, quanto quem cresceu quando o quarteto já havia integrado o cantor Derrick Green.

O guitarrista Andreas Kisser durate show da banda Sepultura no espaco Unimed na Barra Funda, neste domingo - Zanone Fraissat/Folhapress

Do disco "Schizophrenia", de 1987, rolou "Scape to the Void", enquanto os telões exibiam imagens de cartazes de shows da banda, incluindo ao menos um daquela década. Do primeiro álbum com Green nos vocais teve "Choke", uma música de levada hardcore que virou um hit do Sepultura pós-Max.

É claro que todas as faixas que as pessoas mais queriam ouvir estiveram no repertório, tocadas com o peso que que todos esperavam —"Refuse/Resist", "Territory", "Arise", "Kairos", "Roots". Do disco de mesmo nome, a obra-prima da banda, lançado em 1996, os telões mostraram imagens raras nas quais víamos o guitarrista Andreas Kisser e o baixista Paulo Xisto gravando com os índios xavantes, isso muito antes de qualquer pauta identitária entrar na moda.

Os três shows em São Paulo foram também uma oportunidade de ver em ação o novo baterista da banda, Greyson Nekrutman, incorporado ao grupo dias antes do início da turnê, no início deste ano. Ele toca com desenvoltura e segurança, apesar de seu pouquíssimo tempo no grupo, e segura com tranquilidade faixas cheias de batucadas como "Ratamahatta".

Afora isso, ficou claro que a banda caprichou na produção do show. Havia telões em cima do palco, reproduzindo animações ou imagens em preto e branco dos músicos tocando ao vivo. A plateia viu o verde da floresta, rostos indígenas e punhos em riste em sinal de antirracismo, iconografia que dá uma noção dos ideais defendidos pelo conjunto.

Participar do obituário do Sepultura —já que a banda está em sua turnê de despedida— não é só ver um grupo experiente tocando clássicos do metal com toda a ferocidade do mundo. É entender que as músicas que eles criaram saíram do palco e dos discos para entrar na cultura e, portanto, são agora de todos.

O jovem cabeludo com o pentagrama tatuado no braço e os senhores de cabelos brancos que estavam no show provam que o Sepultura abraça todas as idades e se tornou, em suas quatro décadas, algo maior do que talvez jamais tivessem sonhado.

Talvez por isso eles não tenham se furtado de, imediatamente antes de subir ao palco, fazerem o público ouvir na íntegra a faixa "War Pigs", do Black Sabbath, o maior grupo de metal da história. O Sepultura merece estar ao lado deles.

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