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21/11/2012 - 15h00

Após a morte da viúva de T.S. Eliot fala-se em nova biografia do poeta

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VANESSA THORPE
DO "OBSERVER"

O verdadeiro impacto que o declínio mental da primeira mulher de T.S. Eliot (1888-1965), Vivienne, teve sobre a criatividade deste, e a natureza real dos relacionamentos frustrados de Eliot com outras mulheres depois de Vivienne ter sido internada num asilo, devem finalmente ser trazidos a público por um biógrafo oficial, acompanhados dos outros mistérios remanescentes na vida do renomado escritor.

Richard Lewis/Associated Press
Valerie Eliot, viúva do poeta T.S. Eliot, morreu aos 86 anos
Valerie Eliot, viúva do poeta T.S. Eliot, morreu aos 86 anos

Após a morte da devotada segunda esposa de Eliot, na semana passada, os amigos e ex-colegas dela dizem que agora é possível que seja autorizado o acesso a todos os papéis pessoais do poeta.

Se isso acontecer, é provável que o alegado antissemitismo de Eliot volte a ser objeto de escrutínio. Poemas de amor entregues por ele à sua segunda mulher a cada domingo de sua vida de casados também poderão ser publicados, em conformidade com os desejos dela.

Valerie Eliot, cujo funeral foi hoje, foi a assídua editora das cartas de seu falecido marido e velou com cuidado pela reputação dele durante os 47 anos passados desde sua morte. Antes a secretária pessoal do poeta, Valerie cuidou de seu espólio literário e fez muito para respaldar financeiramente a independência e o futuro da editora do poeta, a Faber & Faber. Mas, apesar de seu interesse em publicar de modo sistemático a abrangente correspondência de Eliot, ela impediu que qualquer escritor examinasse seus documentos livremente.

Qualquer biógrafo que agora venha a ser escolhido pelos responsáveis pelo espólio de Eliot terá muito drama para lhe servir de material. Como comentou certa vez o próprio Eliot: "Com frequência me parece muito bizarro que uma pessoa com meus antecedentes [unitaristas] tenha tido uma vida que lembra um romance russo de má qualidade".

O terceiro e último volume das cartas de Eliot, editado por Valerie Eliot e John Haffenden, foi publicado este ano e cobriu 1926 e 1927, o período em que Eliot foi recebido na Igreja Anglicana e foi rejeitado pelo All Souls College, da Universidade Oxford, porque alguns de seus poemas foram julgados "obscenos e blasfemos". O volume também faz a crônica do avanço da insanidade de Vivienne. "Estou numa situação dificílima, não sei o que fazer. Com muito medo", ele escreveu.

Clare Reihill, amiga íntima de Valerie e uma das responsáveis pelo espólio literário de Eliot, acredita que a viúva estivesse potencialmente disposta a dar acesso ao material a um biógrafo oficial. "Ela indicou algum tempo atrás que estava mais aberta à ideia", disse Reihill no fim de semana, "mas queria que todas as cartas fossem publicadas antes."

Reihill declarou que o futuro do prêmio anual T.S. Eliot de poesia, fundado por Valerie, está garantido. A próxima cerimônia de premiação, em janeiro, provavelmente será um adeus comovente a uma força benévola, disse ela. "Será uma noite especial, especialmente porque a poeta laureada, Carol Ann Duffy, vai presidir o júri."

RELACIONAMENTOS

A biblioteca pessoal de T.S. Eliot não corre riscos, segundo Reihill e lorde Evans de Temple Guiting, o ex-publisher que trabalhou ao lado de Valerie Eliot na Faber & Faber.

"Ela cuidava de tudo meticulosamente, e isso vai continuar. Mas eu, pessoalmente, gostaria que a influência da amizade estreita de Eliot com Ezra Pound fosse estudada mais a fundo. Pound tem estado compreensivelmente fora de moda devido a seu antissemitismo, mas foi um ensaísta extraordinário, e suas anotações sobre o trabalho de Eliot são espantosas."

O relacionamento doloroso entre o poeta nascido nos EUA e sua primeira esposa foi o tema da peça de 1984 "Tom and Viv". Ainda no início do casamento deles, ela teve um caso com Bertrand Russell, que Eliot teria ignorado. Antes de adoecer, Vivienne dizia que ela e seu marido eram incompatíveis; ele disse a seus amigos

Virginia e Leonard Woolf que não podia imaginar-se nem sequer fazendo a barba na presença de sua mulher. Em 1928, Eliot fez um voto de castidade. O criador dos mundos ásperos de poemas como "The Waste Land" e "The Love Song of J Alfred Prufrock" primeiro estudou separar-se de Vivienne em 1932. Ele aceitou um cargo de professor em Harvard e só voltou a ver Vivienne mais uma vez antes da morte dela, em 1947.

Nos EUA, Eliot voltou a encontrar-se com uma antiga namorada sua, Emily Hale, professora de teatro. Ela se dedicou a cuidar dele na década de 1930, mas acredita-se que o relacionamento tenha sido platônico. Durante 20 anos o poeta também saiu com uma inglesa chamada Mary Trevelyan, mas acredita-se que também esse relacionamento tenha sido assexual.

Trevelyan o pediu em casamento três vezes, mas Eliot explicou que, depois de Vivienne, a ideia de casar-se era "um pesadelo". Em 1957, quando tinha 68 anos, Eliot se casou com Valerie, de 30, que tinha sido sua secretária por oito anos.

Tradução de CLARA ALLAIN.

 

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