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18/07/2010 - 08h00

O crítico Ismail Xavier fala sobre livro de Raymond Williams

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EUCLIDES SANTOS MENDES
DE SÃO PAULO

Três perguntas para o crítico e professor de cinema na USP Ismail Xavier, coordenador editorial da coleção "Cinema, Teatro e Modernidade" (Cosac Naify), cujo mais recente volume é o livro "Drama em Cena" (trad. Rogério Bettoni, 260 págs., R$ 62), do pensador britânico Raymond Williams (1921-88).

Qual é a importância de Raymond Williams para os estudos sobre teatro?

Dentro de sua reflexão sobre a cultura, com ênfase para a teoria literária, ele desde cedo incluiu o teatro em seu percurso como professor e ensaísta. "Drama em cena" (1954) é resultado de cursos que ministrava na Associação Nacional de Trabalhadores e no departamento de extensão universitária de Oxford [no Reino Unido]; neste momento, já havia escrito livro sobre literatura dramática e percebeu que era urgente discutir o problema da encenação, da relação entre texto e espetáculo.

Seus estudos sobre teatro e literatura dramática incluem "Drama from Ibsen to Brecht" (Drama de Ibsen a Brecht) e o notável "Tragédia Moderna" (Cosac Naify), em que, de certa forma, responde a outro clássico --"A Morte da Tragédia" (Perspectiva), de George Steiner-- na reflexão sobre a questão do trágico na modernidade. São livros que, de distintos pontos de vista, dialogam com a obra de Peter Szondi --"Teoria do Drama Burguês" (Cosac Naify) e "Teoria do Drama Moderno" (Cosac Naify)--, contribuições decisivas na composição de um quadro de referência para se pensar o teatro contemporâneo, o cinema e a teleficção.

Como as relações entre texto e encenação desde a Grécia antiga ajudaram a transformar o teatro e sua dramaturgia?

Este é exatamente o tema de "Drama em Cena", livro que veio, já nos anos 1950, responder a uma "inquietação" presente na cultura teatral desde que figuras como Antonin Artaud e outros haviam questionado a primazia do texto e marcado o espetáculo em cena como o momento essencial do teatro. Williams opta pelo retrospecto para ampliar o horizonte de uma questão que veio ao centro em função dos debates do século 20, momento de afirmação da figura do encenador como autor.

Ele focaliza a relação entre texto e performance para evidenciar a sua historicidade, mobilizando um amplo repertório para destacar a dialética que envolve a escritura dramática, as condições materiais de encenação (a arquitetura dos teatros, o espaço da cena, a composição das máscaras, gestos e falas) e a montagem efetiva do espetáculo em distintos momentos da historia.

Mais do que tudo preocupado em marcar as formas pelas quais a ação no palco está longe de ser a pura transcrição de um texto e também em marcar que, a cada época, a concepção que se tem do espaço cênico e da sua relação com o público (vale lembrar que "theatron" se referia ao lugar de onde se observa o espetáculo) incide sobre a forma como se escreve. Há, enfim, um dinamismo que vem de longe e tem pontos de inflexão que ele analisa, como é o caso da relação entre o roteiro da encenação de "A Gaivota" por Stanislavski e o texto de Tchekhov.

Por que Raymond Williams incluiu um capítulo sobre o filme "Morangos Silvestres", de Bergman, num livro sobre teatro?

Este capítulo foi incluído na edição de 1968 porque Williams observou com clareza que as questões implicadas na passagem do texto (roteiro) ao filme são semelhantes às enfrentadas no teatro. No caso de "Morangos Silvestres", havia o roteiro publicado e também o comentário do próprio Bergman, o que permitia desenvolver a análise desta passagem e ressaltar o que havia de comum, por exemplo, com a relação entre texto e encenação no caso Stanislavski-Tchekhov, e também com outras observações feitas ao longo do livro.

Este capítulo é um bom exemplo do que me interessa na coleção "Cinema, Teatro e Modernidade": discutir aspectos da cultura moderna e contemporânea que envolvem esta articulação entre as estruturas dramáticas e a crescente valorização da cena e da experiência do olhar, não só como algo acoplado às novas tecnologias da imagem-som (cinema, TV, internet), mas também ao novo estatuto da performance e do "tornar visível" no palco, nas videoinstalações e na vida cotidiana.

 

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