DO "NEW YORK TIMES"

A primeira indicação de que há alguma coisa de incomum na loja do futuro criada pela Amazon surge bem na porta de entrada. A sensação é a de que você está entrando em uma estação de metrô. A entrada da Amazon Go é protegida por uma fileira de portões que só permitem a entrada de quem tiver um app da loja em seu smartphone.

Do lado de dentro, um minimercado de 165 metros quadrados oferece o mesmo tipo de comida que você poderia encontrar em muitas lojas de conveniência - batatas chips, refrigerantes, ketchup. A loja também oferece uma seleção de alimentos parecida com a das lojas Whole Food, a cadeia de supermercados de produtos orgânicos adquirida pela Amazon.

Mas a tecnologia que existe do lado de dentro, em geral oculta aos olhos dos consumidores, possibilita uma experiência de consumo sem igual. Não há operadores de caixa ou caixas registradoras em lugar algum. O comprador sai da loja por aqueles mesmos portões, sem precisar parar para pegar um cartão de crédito. A conta dele na Amazon é cobrada automaticamente pelo que quer que a pessoa carregue com ela para fora da loja.

Na segunda-feira (22), a loja será aberta ao público pela primeira vez. Gianna Puerini, a executiva encarregada da Amazon Go, recentemente conduziu jornalistas em visitas à loja instalada no centro de Seattle.

Não há carrinhos ou cestas para compras na Amazon Go. Porque o processo de pagamento é automatizado, para que eles serviriam? Em lugar disso, o consumidores coloca os produtos diretamente na sacola de compras com a qual deixarão a loja.

A cada vez que o consumidor apanha um item em uma prateleira, a Amazon informa que o produto será incluído automaticamente no carrinho de compras da conta online do comprador. Se o consumidor devolver um produto à prateleira, a Amazon o retirará do carrinho de compras virtual.

O único sinal da tecnologia que torna tudo isso possível flutua por sobre as prateleiras da loja - conjuntos de pequenas câmeras, centenas delas espalhadas pela área. A Amazon não revela muito sobre como o sistema funciona, limitando-se a revelar que envolve sistemas sofisticados de visão computadorizada e software de aprendizado por máquina. Tradução: a tecnologia da Amazon é capaz de ver e identificar cada item disponível na loja, sem necessidade de um chip especial afixado a cada lata de sopa ou pacote de frutas secas.

Em 2016, existiam mais de 3,5 milhões de operadores de caixa nos Estados Unidos, e os empregos de alguns deles podem estar sob ameaça se a tecnologia que embasa a Amazon Go se difundir. Por enquanto, a Amazon diz que a tecnologia simplesmente muda o papel dos funcionários - o que é exatamente a maneira pela qual a empresa descreve o impacto da automação sobre os empregados em seus armazéns.

"Nós deslocamos o pessoal para tipos diferentes de tarefas, que em nossa opinião possam propiciar uma experiência melhor aos clientes", disse Puerini.

As tarefas incluem reposição de estoques e ajudar os clientes a resolver quaisquer problemas técnicos. Empregados da loja ficam por perto dos compradores para ajudá-los a encontrar produtos, e ao lado há uma cozinha na qual cozinheiros preparam refeições para venda na loja. Porque não há caixas, um funcionário fica na seção de vinhos e cerveja da loja, verificando a idade dos compradores antes de autorizá-los a apanhar garrafas de bebidas alcoólicas das prateleiras.

A maioria das pessoas que vão regularmente a supermercados sabe o quanto o processo de passar pelo caixa pode ser incômodo, com filas longas ou clientes que se atrapalham nos quiosques de processamento automático.

Na Amazon Go, a sensação que você tem ao finalizar uma compra é - e não encontro outra maneira de expressá-la - a de que acabou de roubar a loja. Só alguns minutos depois de deixar a loja, quando a Amazon envia um recibo automático da compra, a sensação se dissipa.

Mas roubar alguma coisa não é fácil, na Amazon Go. Com permissão da empresa, tentei iludir o sistema de câmeras da loja, enrolando uma sacola de compras em torno de uma embalagem com quatro latas de refrigerantes, com preço de US$ 4,35, enquanto ela ainda estava na prateleira. Coloquei a sacola enrolada por sob o braço e saí da loja com os refrigerantes. A Amazon me cobrou por eles.

Uma grandes pergunta que fica sem resposta é quais são os planos da Amazon para essa tecnologia. A empresa não revela se planeja abrir novas lojas Amazon Go, ou se preservará apenas a loja inicial como uma espécie de novidade tecnológica. Uma possibilidade mais intrigante é a de que use a tecnologia nas lojas da Whole Foods, ainda que Puerini tenha afirmado que a Amazon "não tem planos" de fazê-lo.

Há até especulações de que a Amazon poderia vender o sistema a outras companhia de varejo, da mesma forma que vende serviços de computação em nuvem a outras empresas. Por enquanto, os visitantes da Amazon Go precisam prestar atenção na hora de comprar: sem que seja preciso encarar o caixa na hora do pagamento, é fácil ceder à tentação e gastar demais.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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