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Imprevisibilidade de Trump é risco para economia global, diz ex-diretor da OMC

A China é um país mais racional que os EUA, o que limita em parte esse risco, diz Pascal Lamy

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Pascal Lamy, ex-diretor da OMC
Pascal Lamy, ex-diretor da OMC - Li Xin/Xinhua
Tatiana Vaz
São Paulo
A imprevisibilidade de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, é um risco para a economia mundial, mas ainda sim um risco limitado, acredita Pascal Lamy, ex-diretor geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), após um almoço com empresários na Câmara Americana do Comércio, Amcham, em São Paulo. 
 
O fato de os chineses serem mais racionais e de forças dentro do sistema americano verem uma possível guerra fiscal como um desastre para o governo são as principais razões.
 
“Nós provavelmente estaríamos a salvo sem as políticas de Donald Trump, isso é bastante claro. E não deveríamos estar surpresos depois de ele fazer tudo o que disse que faria na campanha. Mas ainda acho que é um risco limitado”, disse.
 
Mas, para ele, as iniciativas dos Estados Unidos de sobretaxar itens exportados de alguns setores pode levar a dois possíveis cenários macroeconômicos.
 
No primeiro, se a ideia de Donald  Trump de negociações bilaterais prevalecer, o restante do mundo poderá aceitar e seguir este movimento. No segundo, a OMC sairia fortalecida com os países exigindo que o mercado americano seguisse as regras já vigentes, de acordos multilaterais entre os países.
 
O mundo tem de estar preparado para essas duas opções, diz o economista.
 
“Se Trump decidir que a OMC é irrelevante, ela vai se tornar irrelevante. Não acredito que ele queira isso, ele pode ter o plano de mudar a OMC, mas não de torná-la irrelevante”, afirmou Pascal.
 
Segundo o político francês, basicamente as saídas seriam negociar diretamente com os EUA à parte da OMC ou ampliar o sistema de negociações multilaterais. “Mas ainda não há uma resposta”, diz.
 
A grande questão que surge a partir do risco disso desencadear uma guerra comercial é o que os Estados Unidos estão buscando com isso, na opinião do economista francês. Não há certezas sobre isso, mas há a hipótese dos americanos estarem em busca de vantagens comerciais específicas ou deles querem implodir o sistema comercial vigente no mundo hoje.
 
“Temos de estar prontos para proteger a OMC da tentativa dos Estados Unidos de minar o sistema. Temos duas opções [de cenários futuros] diferentes e temos de estar prontos para elas”, disse.
 
Por quanto tempo as questões comerciais durarão é a “pergunta de US$ 50 bilhões”. “Não sei se essa confusão é intencional, talvez seja”, afirmou.
 
De qualquer forma, acredita Lamy, é possível que a situação seja positiva para consertar algumas regras da OMC, especialmente as relacionadas à China, e que dizem respeito a propriedade intelectual e subsídios.

China racional

Sobre o Brasil e outros países estarem negociando cogitando retaliações comerciais aos Estados Unidos por conta da negociação da sobretaxa do aço, Lamy acredita que o movimento é natural e era esperado.
 
“Se eles [governo americano] acreditam que não é necessário respeitar a conformidade do comércio internacional, nós temos de levar os Estados Unidos à OMC”, afirmou Lamy.
 
Para o ex-diretor da OMC, a China é um país mais racional que os Estados Unidos. Prova disso, está no movimento dos chineses de escalonar ajustes comerciais e de proporem mudanças de forma gradual na maneira como os acordos são feitos com os americanos.
 
A china está mais aberta em algumas áreas, na opinião de Lamy, como a de energia e serviços financeiros e a probabilidade é de que o país se torne ainda mais aberto. “A pergunta é quando”.
 
“Acho que esses sinais são bem claros e penso que Trump viu isso de maneira positiva”, afirmou “Mas isso pode ter mudado, eu não acompanho o [a rede social] Twitter a todo minuto”.
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