Com turbulência, juros podem subir mesmo com Selic baixa

Reflexos da greve dos caminhoneiros e eleições presidenciais podem influenciar alta das taxas

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São Paulo

A recente turbulência econômica pode fazer com que os juros bancários voltem a subir antes de um aumento da taxa Selic, hoje em 6,5%. Há chances de essa alta ser freada, no entanto, pela menor demanda por crédito caso ele fique mais caro.

São três os fatores que tendem a elevar o custo de novos empréstimos.

O primeiro é que a paralisação dos caminhoneiros na penúltima semana de maio foi o estopim de uma série de revisões nas projeções para a economia, que deve crescer menos de 2% neste ano. Menor crescimento tende a piorar as contas do governo, o que pressiona os juros.

O segundo é que a indefinição da disputa presidencial deixa a concessão de crédito mais arriscada e pode levar os bancos a aumentar taxas para cobrir esse risco.

 

O terceiro indício de crédito mais caro está no mercado de juros futuros, ainda que analistas do setor bancário divirjam sobre essa possibilidade no momento.

Desde maio, os contratos futuros negociados em Bolsa estão em alta.

Eles indicam a expectativa do mercado financeiro para a Selic e servem como uma referência na hora de formar a taxa de juros do crédito porque traduzem a estimativa de custo com captação do dinheiro que será emprestado.

“Quando há uma estabilidade de Selic e a tendência de juros futuros é de alta, ela é capturada na taxa de juros oferecidas ao cliente”, disse João Augusto Salles, analista da Lopes Filho Consultores.
Em relatório de economia bancária divulgado neste mês, o Banco Central disse que 37% dos custos dos bancos com crédito são na captação. Outros 24% são destinados a cobrir despesas relacionadas à inadimplência.

Quando o Banco Central considera apenas o spread (a diferença entre o custo de captação do dinheiro e a taxa cobrada do consumidor), 38% da taxa vai para a inadimplência.

Para Claudio Gallina, da Fitch Ratings, não há uma perspectiva de piora na inadimplência e, por isso, não faria sentido uma alta no custo do crédito neste momento.
 

Gallina tem a avaliação de que, ao fazer a análise de risco de cada cliente, os bancos podem cobrar mais por projetarem maior chance de calote. 

Isso não significaria, contudo, uma alta nas taxas para repassar o aumento do juro futuro ou uma mudança de expectativa econômica.

Luis Miguel Santacreu, da Austin Ratings, prevê que a incerteza não deve trazer juros mais elevados, mas poderá reduzir os prazos dos empréstimos que forem concedidos.

Para ele, seria contraproducente os bancos atualizarem os preços que são praticados na concessão de crédito nas agências a cada oscilação de juros futuros nesse período de volatilidade.

“O fato material seria se o Banco Central subisse os juros. Aí, possivelmente os bancos estariam mais inclinados a repassar ao consumidor”, afirma Santacreu.

Na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) da semana passada, o Banco Central abriu espaço para alta nos juros após admitir que o risco para a inflação aumentou entre os meses de maio e junho, por causa do mau momento para as economias emergentes no cenário internacional.

Os bancos descartam intenção de alta nos juros.

Paulo Caffarelli, presidente do Banco do Brasil, argumentou que a volatilidade no mercado já está se dissipando e que uma alta de juros não seria necessária neste momento.

Nos bastidores, executivos indicaram que há pouca receptividade dos consumidores a juros mais caros, além de um olhar atento do BC, que vem implementando medidas regulatórias para tentar reduzir o custo do crédito. 

A mais emblemática ação do Banco Central é a mudança nas regras do rotativo do cartão de crédito.

Mas há um argumento mais forte para subir os juros nos empréstimos: a pressão de acionistas para manter a rentabilidade, diz Salles, do Lopes Filho.

Desde a metade de maio, quando a turbulência se acentuou, e investidores perceberam uma piora nas condições econômicas do país e mudanças no cenário para crédito, as ações dos grandes bancos brasileiros acumulam perdas ao redor de 20%.

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