Descrição de chapéu MPME

Empresas de orgânicos crescem, mas falta de regulamentação é desafio

Por ano, setor já movimenta cerca de R$ 3 bi e tem espaço para crescer 20%

Tatiana Vaz
São Paulo

A demanda por produtos naturais chegou às gôndolas de cosméticos do país. Empresas do mercado estimam que hoje o setor movimente R$ 3 bilhões e tenha potencial para seguir num ritmo de crescimento de 20% ao ano.

Não à toa, as empresas especializadas em cosméticos verdes têm expandido os negócios, enquanto outras buscam certificações para atestar a qualidade do que vendem.

Como o segmento carece de regulamentação, os selos são emitidos por certificadoras independentes, como a francesa Ecocert e o Instituto Biodinâmico (IBD).

Pelas normas da Ecocert, um cosmético só é considerado natural se tiver em sua composição 95% de ingredientes da natureza. Para ser considerado orgânico é preciso cumprir esse requisito e que 20% dos ingredientes do produto tenham origem orgânica certificada.

Segundo Priscila Hauffe, 32, coordenadora da Ecocert Brasil, o fato de o Brasil não ter regras claras de fabricação intimida algumas marcas. Nos últimos sete anos, porém, o número de empresas certificadas pela Ecocert no mercado brasileiro mais que triplicou. 

Em geral, o investimento em pesquisas, fornecimento e fabricação para quem quer entrar nesse mercado é alto, e o retorno demora. Ainda assim, muitos empresários vislumbram uma oportunidade de negócios com produtos mais naturais. É o caso dos sócios Breno Bittencourt Jorge, 40, e Caroline Villar, 41, da Souvie.

Enquanto trabalhavam como administrador de táxi aéreo e professora universitária, os dois investiram R$ 30 milhões na companhia, lançada em 2015 com uma linha de cosméticos para gestantes. Hoje conta com um portfólio de 22 itens, com preços que vão de R$ 60 a R$ 128.

O aporte foi feito ao longo de seis anos em pesquisas, testes de produtos e fábrica. Boa parte dos ingredientes é cultivada na Fazenda São Benedito, no interior de São Paulo, espaço cedido pelo pai de Breno, que entrou como sócio da empresa depois.

“Faturamos hoje R$ 5 milhões, mas não paramos de investir e a expetativa é dobrar o catálogo até o final do ano”, afirma o empresário. “Se não tivéssemos a fazenda, o custo seria o dobro.”

A ideia de criar o Empório Sartori também surgiu a partir do pomar da família de Sabrina Sartori, 31, no interior de São Paulo. Com 2.500 espécies diferentes de frutas, é de lá que saem as pitaias, sapotis e uvaias usadas na fabricação dos 12 itens da marca.

Os produtos são vendidos hoje por preços que vão de R$ 15 a R$ 40 em lojas, jardins botânicos, farmácias de manipulação e resorts do país.

“Além da exportação, está no nosso objetivo de médio prazo abertura de loja própria e, a longo prazo, iniciar o processo de franchising”, afirma Sabrina.

Crescer por meio de franquias é o caminho que está sendo seguido pela fabricante de maquiagem orgânica e vegana Simple Orgânica, de Florianópolis. A empresária Patricia Lima, 39, estudou por dois anos antes de lançar a marca, em 2015, fruto de sua vontade de deixar as maquiagens sintéticas de lado.

O valor que colocou inicialmente na empresa, de R$ 1,5 milhão, já foi reinvestido no negócio, que ganhará 12 franquias pelo país entre outubro e novembro. Manaus e Rio estão entre os locais escolhidos. 

“Nos surpreendemos pela quantidade de interessados nas franquias e o trabalho maior foi escolher pessoas comprometidas com o propósito da marca”, afirma.

Primeira empresa de cosméticos naturais do país, a Surya Brasil criou uma hena em pó quando ninguém falava do assunto, em 1995. A empresa tem hoje 11 linhas e opera em 40 países.

“Estamos analisando a abertura de uma nova unidade fabril, possivelmente na Europa afim de facilitar o processo de exportação”, conta a dona da marca, Clélia Angelon, 68. “Chegamos a um ponto de equilíbrio há algum tempo. A partir de agora é conquistar mais mercado.”

Clélia diz que a mudança de hábitos responsável pela busca de cosméticos mais suaves cresce a cada dia, mas que ainda é preciso muito investimento e paciência para entrar no ramo.

“É preciso saber que você não estará somente vendendo um produto, mas que todas as ações para o desenvolvimento e/ou entrega deste atinge direta ou indiretamente alguém”, afirma. “Não se esqueça de que seu maior legado é o que você irá deixar para mundo.”

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