Descrição de chapéu MPME

Startups do país começam a usar blockchain

Negócios aplicam tecnologia que registra transações em bancos de dados à prova de fraude

Silvia Valadares na incubadora Cubo, em São Paulo
Silvia Valadares na incubadora Cubo, em São Paulo - Rafael Hupsel/Folhapress
Danylo Martins
São Paulo

​Blockchain, tecnologia que usa a descentralização de dados para aumentar a segurança, começa a ser utilizada por startups brasileiras e tem potencial para impactar negócios tanto de empresas grandes quanto de pequenas.

Essa ferramenta, que ficou conhecida por estar por trás do bitcoin,  funciona como um livro-caixa que registra dados em blocos digitais de informação de modo descentralizado. Acréscimos de informações nesses bancos de dados compartilhados são visíveis a todos —e, como não há um arquivo central para ser corrompido, é inviolável.

Em empresas, diz a consultoria McKinsey, o blockchain pode ser usado para guardar informações ou registrar transações de modo prático e seguro.

Com essa tecnologia é possível, por exemplo, registrar como foi empregado um valor que alguém investiu ou detalhar a origem de um produto.

Neste ano, segundo a empresa de pesquisas IDC, os gastos mundiais para desenvolvimento de produtos e serviços a partir de plataformas de blockchain são estimados em US$ 2,1 bilhões (R$ 7,8 bilhões), mais que o dobro dos US$ 945 milhões (R$ 3,5 bilhões) de 2017.

Entre as empresas que têm investido no blockchain estão BRF, Carrefour, Walmart, Cargill e Santander. Já entre as startups, mais de mil utilizam hoje a tecnologia, segundo dados da empresa de pesquisas Venture Scanner. 

No Brasil, os primeiros passos acontecem agora: das 4.200 empresas que fazem parte da Associação Brasileira de Startups, somente 9 aplicam a tecnologia nos negócios, em áreas de finanças, seguros, big data, criptomoedas e direito, segundo levantamento feito a pedido da Folha. 

Chicko Sousa, no escritório da Plataforma Verde, em SP
Chicko Sousa, no escritório da Plataforma Verde, em SP - Danilo Verpa/Folhapress

A Owl Docs é uma delas. Fundada pelo cientista da computação Bruno Kenj, 34, e pela profissional de marketing Silvia Valadares, 43, a plataforma de gestão de documentos corporativos com assinatura digital em blockchain está em operação desde maio de 2016.

Além de assinatura de documentos, contratos de câmbio também são firmados por meio da plataforma, que tem como atrativo a rastreabilidade e a inviolabilidade dadas pelo blockchain. 

“Compartilhamos os dados de forma segura e analisamos todo e qualquer acesso a qualquer documento, em tempo real”, afirma Silvia.

Com dez clientes nas áreas de finanças, comunicação, saúde e previdência, a startup prevê faturar R$ 1 milhão neste ano. A meta é chegar a uma receita entre R$ 4 milhões e R$ 5 milhões nos próximos 18 meses, diz Kenj.

Foi numa maratona de programação —ou hackaton— realizada em Londrina, em 2016, que o veterinário Renato Girotto, 36, a advogada Mariana Bonora, 32, e os engenheiros da computação Guilherme Costa, 27, e Thiago Zampieri, 32, se uniram para formar a Bart Digital.

A plataforma automatiza, com uso de blockchain, as operações do tipo Barter, em que a compra feita pelo produtor rural é paga com a entrega da produção equivalente após a colheita.

“Fazemos assinatura digital, monitoramento do plantio do produtor via satélite e geração automática dos documentos”, diz Guilherme. 

A startup atende atualmente 12 revendas, distribuidoras e agroindústrias em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo.

Em operação desde janeiro de 2017, a Plataforma Verde permite a empresas rastrear etapas do gerenciamento de resíduos de maneira online. 

“O transporte de um resíduo entre uma indústria e um aterro industrial é uma informação transacional e conseguimos rastrear por meio de blockchain. Os dados se tornam imutáveis com o registro de quem inseriu as informações”, afirma o engenheiro mecânico Chicko Sousa, 39, fundador da Plataforma Verde.

Hoje, 1.300 companhias —como Renault, Scania, Eurofarma e Mondelez— utilizam o sistema da startup, pagando mensalidades que variam de acordo com as etapas de gestão dos resíduos que desejam controlar.

Com receita de R$ 1,1 milhão no ano passado, a startup espera triplicar o montante em 2018, afirma Chicko.

Para Bernardo Madeira, especialista em blockchain e fundador da consultoria Interchains, o investimento na tecnologia é uma tendência disruptiva, que pode transformar a prestação de serviços, aumentar a confiança, a produtividade e a eficiência dos processos e reduzir custos.

Suas possibilidades promissoras não significam, porém, que a ferramenta seja solução para todos os tipos de empresas. É preciso avaliar com cuidado se a tecnologia tem aplicação no seu negócio.

Para Gustavo Cunha, professor de inovação e finanças do Ibmec, um dos principais fatores a serem avaliados é se existe um fluxo de informações ou dados que possam ser acompanhados. 

“Bancos de dados com registros de imóveis ou de uma cadeia logística (supply chain), por exemplo, podem ser guardados em blockchain”, diz.

 

Entenda o blockchain

O que é 
Tradução literal para “corrente de blocos”, blockchain é uma tecnologia que funciona como uma espécie de livro-caixa de transações. 

Quais são suas principais características 

Descentralizado 
Informações em blockchain são armazenadas em uma rede de computadores, sem que exista um arquivo central ou um “dono” dos dados

Difícil de fraudar 
A falsificação ou quebra dos registros é muito improvável, porque ninguém tem o controle do sistema

Transparente 
Todo participante da rede pode checar a autenticidade da corrente. Protocolos de consenso são usados ​​para validar um novo bloco com outros participantes antes que ele possa ser adicionado à cadeia

Como pode ser usado por empreendedores 
É empregado para registrar informações, negociações, transações. Como diminui intermediários e processos de armazenamento de dados, pode reduzir custos tanto para empresas quanto para seus clientes

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