Comissão do Congresso aprova Rota 2030 e inclui emendas que impactam orçamento

Penduricalhos reabrem prazo para refinanciamento de dívidas e desoneram setores

Bernardo Caram
Brasília

Em votação de relatório sobre o novo programa de estímulos ao setor automotivo deputados e senadores incluíram no texto uma série de jabutis —emendas que não têm relação com o projeto original. As mudanças incluídas nesta quarta-feira (24) geram impacto no orçamento e o governo promete derrubá-las.

A comissão mista do Congresso analisava a medida provisória enviada pelo governo que institui o programa Rota 2030. Ele substitui o Inovar Auto, que expirou em dezembro do ano passado após condenação da OMC (Organização Mundial do Comércio) por violar regras internacionais.

Por se tratar de medida provisória, o projeto já tem validade, mas exige aprovação do Congresso até 16 de novembro. O texto ainda precisa passar por votação nos plenários da Câmara e do Senado, onde pode sofrer alteração.

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Patio de montadora de veículos em São Bernardo do Campo - Fabio Braga/Folhapress

O trecho referente ao programa Rota 2030 foi mantido no formato original. Porém, o relator da matéria, deputado Alfredo Kaefer (PP-PR), incluiu no texto novos artigos com “penduricalhos”. Todos foram aprovados pelos membros da comissão. Entre eles, está a reabertura de prazo de adesão ao Refis, programa que dá descontos para o refinanciamento de dívidas tributárias.

Pela proposta, poderão ser refinanciadas débitos vencidos até 30 de junho deste ano. O prazo para adesão ficará aberto até 15 de dezembro. O relator afirma que apenas dívidas superiores a R$ 15 milhões farão jus ao programa, mas o texto aprovado na comissão fala em dívida “inferior, igual ou superior a R$ 15 milhões”.

Também foram feitas mudanças no Reintegra, regime que concede crédito tributário a exportadores. O relatório prevê que o benefício ficará entre 2% e 5% das receitas de exportação, e não mais entre 0% e 3%, como é hoje.

Em nota, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores)  comemorou a decisão. 

"O Rota 2030 significa um passo importante para o desenvolvimento da indústria automobilística e da engenharia no Brasil e é a nossa oportunidade de contribuir para a competitividade do setor e de termos mais previsibilidade para a tomada de decisões e de novos investimentos”, afirmou Antonio Mengale, presidente da associação.

O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), disse que a aprovação na comissão é parte de um acordo de procedimentos, mas, segundo ele, o governo não concorda com os pontos incluídos no texto.

“O governo não tem compromisso com nenhuma das duas —nem Refis, nem Reintegra. O governo vai derrubar isso no plenário da Câmara. Se não derrubar, vai vetar”, disse.

Com concordância do governo, o texto foi aprovado também com um novo artigo que inclui na desoneração da folha de pagamentos os setores moveleiro e de comércio varejista de calçados e artigos de viagem.

No setor automotivo, foi incluído um ponto que não estava previsto inicialmente: a prorrogação de benefícios concedidos a montadoras instaladas nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste.

O regime, que dá benefícios tributários a fábricas instaladas nessas regiões, venceria no fim de 2020. Com a proposta, o prazo será alongado até 2025.

O PROGRAMA

Pela proposta, o Rota 2030 terá duração de 15 anos e vai englobar diferentes tipos de incentivo. Um deles é a redução de IPI sobre veículos híbridos e elétricos, que são menos poluentes.

Além disso, as empresas que investirem em pesquisa e desenvolvimento gerarão créditos fiscais.

As companhias que aderirem ao programa se comprometem com uma meta de elevação na eficiência energética.

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