Descrição de chapéu Balanços

Gestora irregular dá calote em investidores

JJ Invest, que fechou as portas, atraía clientes com rendimento de até 15% ao mês; intimado, sócio não foi encontrado

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Rio de Janeiro

No dia 21 de janeiro, a maquiadora Luciane Rosa solicitou o resgate dos últimos R$ 1.800 que mantinha aplicados com a gestora JJ Invest.

Sem saber de notícias que já alertavam sobre a situação da empresa, ela se surpreendeu com a demora.

A falta de respostas era o prenúncio de uma crise que tira o sono de centenas de investidores que apostaram nos altos ganhos prometidos pela empresa. Sem autorização da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), a JJ começou a vender, em 2016, serviços de gestão de investimentos.

“O rendimento era de 8% a 15% mensais, e todo mês enviavam um demonstrativo dos ganhos”, diz o analista de sistemas Rodrigo Ribeiro, que colocou inicialmente R$ 20 mil. “Por sorte, em dezembro fiz um saque do valor do aporte e deixei só o rendimento.”

O problema se agravou em janeiro, após alerta da CVM de que a empresa não tinha autorização para gerir carteiras de terceiros. Um primeiro aviso fora dado em 2017, mas a empresa seguiu operando.

Segundo o órgão regulador, que tem dois processos de investigação abertos sobre a JJ, o público foi recomendado a não efetuar investimento e contatar a autarquia, em caso de recebimento de propostas da empresa e de seu sócio Jonas Spritzer Jaimovick.

Empresário segura troféu em frente ao letreiro com o nome da empresa
Empresário Jonas Jaimovick desapareceu com o dinheiro de milhares de clientes que aplicaram na JJ, que não tinha autorização para funcionar - Reprodução

​Jaimovick fechou as portas da empresa e tem se comunicado esporadicamente com clientes por WhatsApp. Em vídeo distribuído no dia 14, ele pediu desculpas pelo sumiço.

“Tive que dar uma parada porque começou a aglomerar gente lá e não estou conseguindo tempo para fazer o que preciso. São planilhas que tenho de atualizar, são muitas coisas para resolver em relação a datas e prazos.”

A JJ teve um crescimento vertiginoso nos últimos anos, em parte por uma campanha de marketing que incluiu patrocínio a times de futebol. “Eu nunca desconfiei de que isso poderia acontecer, porque ele patrocinou até o jogo das estrelas de Neymar”, diz Rosa.

Os primeiros indícios da crise, porém, já apareciam em dezembro, quando a JJ vendeu ações em um movimento atípico que chamou a atenção da  Bolsa de Valores de São Paulo.

A Folha não conseguiu contato com a JJ ou Jaimovick. No vídeo, ele mostrava um jornal para provar que estava no Rio. 

Os funcionários da JJ foram embora, alegando que não tinham conhecimento dos problemas. Segundo eles, a empresa tinha cerca de 3.500 clientes.

A Polícia Civil ouviu 40 vítimas e realizou diligências para intimar Jaimovick, mas ele não foi encontrado.

Ministério Público Federal e Polícia Federal investigam se houve crimes contra o mercado de capitais.

“Tem gente que já está dando o dinheiro como perdido”, diz Rosa. “Meu dinheiro é pouco, mas estou preocupada com minha filha, que colocou o FGTS lá e está desempregada.”

Antes de investir, especialistas indicam que as pessoas pesquisem o registro da instituição no site da CVM. 

“Não é recomendado investir todo o dinheiro em um único produto, nem em uma única instituição. E desconfie de promessas de rendimentos muito acima do mercado”, afirma Ricardo Teixeira, coordenador do MBA de Gestão Financeira da FGV.

Se desconfiar de algo, o investidor deve fazer uma denúncia à CVM, orienta Daniel Vio, sócio do escritório Chediak Advogados. 

Colaborou ​Anaïs Fernandes, de São Paulo

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