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Fabricante da Barbie, Mattel lança bonecas de gênero neutro

Linha tem por objetivo refletir cultura à medida que o mundo continua a celebrar inclusão, diz executiva da marca

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Maya Salam
Nova York | The New York Times

A Mattel, empresa que conquistou o mundo das bonecas ao dividi-lo entre Barbies e Kens idealizados, está lançando uma nova linha de bonecas de gênero neutro para meninos, meninas e crianças de outros gêneros.

A nova linha, lançada na quarta-feira e chamada Creatable World, tem por objetivo refletir nossa cultura "à medida que o mundo continua a celebrar o impacto positivo da inclusão", disse Kim Culmone, a executiva da Mattel que lidera a equipe responsável pelo projeto das novas bonecas.

Disponível em diferentes tons de pele, cada boneca vem com duas perucas de cores diferentes –os tipos de cabelo disponíveis são cacheado, liso e com tranças–, e com diversas opções de guarda-roupa que permitem que as crianças criem bonecas com "cabelo curto ou comprido, usando saias, calças ou ambos", disse Culmone. Cada kit, como o produto é chamado, custa cerca de US$ 30 (R$ 125).

A coleção “Creatable World” de bonecos sem gênero criada pela Mattel
A coleção “Creatable World” de bonecos sem gênero criada pela Mattel - Divulgação

As crenças e opiniões quanto a gêneros estão mudando rapidamente, e no processo criam novas oportunidades de marketing, na moda, no mercado editorial e no de brinquedos. Mas uma coisa que as novas bonecas definitivamente não são, segundo a Mattel, é uma versão de gênero neutro para a Barbie.

O objetivo delas é despertar afinidade e não aspiração, como a Barbie, disse Michelle Chidoni, porta-voz da Mattel. E as bonecas não devem ser vistas como adultos, como Barbie e Ken; na verdade, "foram projetadas especialmente para ter uma aparência jovem e neutra em termos de gênero", disse Culmone.

Para desenvolver as bonecas e seus acessórios –todos os componentes são originais e o trabalho de pesquisa e projeto demorou 18 meses–, a Mattel trabalhou com médicos e especialistas informados sobre identidade de gênero, bem como com 250 famílias em diversas regiões dos Estados Unidos, que incluem crianças de todas as identidades de gênero. "Conversamos com elas sobre as bonecas que tinham atualmente e sobre o que elas gostariam de ter", disse Culmone.

O que os pesquisadores aprenderam? "As crianças não querem ouvir que meninos têm de brincar com carros e as meninas com bonecas", disse Culmone.

Quanto aos pais, os pesquisadores identificaram crescente preocupação quanto aos brinquedos para crianças identificados a gêneros - ainda que haja uma distinção geracional evidente quanto ao tema, disse Chidoni. "Embora para as crianças isso fosse realmente inato, para os pais, em alguns casos, era mais difícil compreender".

Culmone reconheceu que "essa linha de produtos não é necessariamente para todos".

"Alguns pais podem se sentir desconfortáveis e sentir que o brinquedo está criando uma situação que os forçará a discutir questões de gênero com os filhos", ela disse, "mas essa é uma decisão pessoal que cabe às famílias".

E embora a Mattel não deseje ingressar no lado político do assunto –"para nós a questão é brincar e não política", disse Chidoni–, a identidade de gênero se politizou muito nos últimos anos.

O governo Trump reverteu as políticas favoráveis aos transgênero adotadas no governo Obama com relação a escolas, prisões e serviço militar. E nos últimos anos, muitos distritos escolares enfrentaram contestações judiciais complicadas sobre os banheiros que estudantes transgênero estariam autorizados a usar.

Apesar desse clima cada vez mais controverso, a indústria de brinquedos manteve uma abordagem relativamente pró-ativa quanto à questão, deixando para trás a produção de brinquedos e produtos para crianças identificados a gêneros específicos.

Em 2015, a cadeia de varejo Target anunciou que deixaria de usar placas que identificam brinquedos como "para meninas" e "para meninos", em suas lojas. Naquele ano, a Disney Store eliminou a identificação "masculino" e "feminino" em suas fantasias de Halloween, lancheiras, mochilas e outros acessórios para crianças, designando-os todos como "infantis".

E embora as bonecas Creatable World sejam o primeiro produto de um grande fabricante a adotar uma nova definição de gênero, há outros produtos disponíveis. Em 2017, a Tonner Doll anunciou a boneca Jazz Jennings, baseada na menina de seis anos que se tornou famosa ao aparecer em um episódio do programa de TV "20/20", da rede ABC, que falava de crianças transgênero e suas famílias. Naquele mesmo ano, uma organização sem fins lucrativos canadense que ajuda crianças transgênero e suas famílias lançou Sam, uma boneca russa que contém outras bonecas e é um brinquedo educativo que representa um estágio de investigação de gênero em cada camada.

The New York Times, tradução de Paulo Migliacci

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