Ex-candidato endividado compra Diário de S.Paulo por R$ 30 mil em parcelas

Kleber Moreira pretende relançar jornal que já pertenceu à família Quércia, ao Grupo Globo e a J. Hawilla

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São Paulo

O empresário Kleber Moreira, ex-candidato derrotado a deputado estadual em São Paulo pelo então PEN (hoje Patriotas), arrematou por R$ 30 mil um pacote de 32 marcas relacionadas ao jornal Diário de S.Paulo, que teve sua falência decretada em janeiro de 2018.

Moreira pretende relançar o jornal, fundado originalmente em 1884 e que já pertenceu à família Quércia, ao Grupo Globo e a J. Hawilla.

O empresário parcelou o valor a ser pago à massa falida das empresas Minuano, Editora Fontana e Cereja Serviços de Mídia Digital em uma entrada de R$ 6.000 e seis pagamentos de R$ 4.000.

Última capa do jornal Diário de S.Paulo, que circulou em 23 de janeiro de 2018
Última capa do jornal Diário de S.Paulo, que circulou em 23 de janeiro de 2018 - Reprodução

A venda foi homologada pela Justiça em 27 de maio e os depósitos devem ser concluídos até novembro, de acordo com o escritório de advocacia que administra o espólio.

O negócio só foi concretizado depois que dois leilões em que os ativos foram ofertados e não tiveram lances, em 2018. A proposta de Moreira foi formalizada depois que o primeiro certame fracassou, em outubro do ano passado.

O site www.spdiario.com.br, ligado a Moreira, divulgou nesta segunda-feira (7) que o Diário de S.Paulo deverá voltar a circular “em breve”, sem precisar data.

Sem mencionar nomes, o texto publicado diz que “um grupo de executivos com décadas de experiência na área da comunicação assume o comando” do jornal, que teria “uma equipe de nomes respeitados no jornalismo nacional”.

Moreira aparece como o responsável pelo domínio do site, que pertence à empresa Bom Dia Rio Preto Comunicações.

A marca, que edita o jornal Bom Dia na cidade de São José do Rio Preto (SP), foi de propriedade de Hawilla até 2013. À época, o negócio foi vendido juntamente com o Diário de S.Paulo à Cereja Comunicação Digital.

Kleber Moreira assumiu o comando do Bom Dia em 2015, segundo a Junta Comercial de São Paulo. Hawilla morreu em 2018.

Dois anos antes, porém, a mesma página publicou textos sem assinatura —mas escritos na primeira pessoa— que narram encontros de Moreira com o ex-presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo Ivan Sartori. Moreira foi candidato a deputado estadual pelo então PEN (Partido Ecológico Nacional) em 2014.

Na ocasião, o empresário obteve 4.231 votos e não foi eleito. Ele se mantém filiado ao partido até hoje.

No ano passado, por uma exigência do então pré-candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL), que avaliava se lançar pela sigla, o PEN aceitou mudar o nome para Patriotas. Depois que a filiação não se concretizou, o partido lançou o ex-deputado Cabo Daciolo.
 

Processos

Moreira não se candidatou mais a cargos públicos, mas responde até hoje a processos na Justiça por ter pago despesas de campanha com cheques sem fundo.

Em uma das ações, o jornalista Roberto Egydio Lofrano disse à Justiça que “foi contratado pelo senhor Kleber Moreira, pessoalmente, porém através de seu comitê” para fazer a assessoria de imprensa da candidatura.

“Pelos serviços, foi cobrado a importância de R$ 10 mil representados por cheques (...) preenchidos de próprio punho pelo candidato e (...), injustificadamente, devolvidos pelo banco”, diz Lofrano em sua petição inicial, protocolada em janeiro de 2015.

Em maio de 2018, o juiz Cristiano de Castro Coelho autorizou a penhora de um terreno de Moreira, com 276 metros quadrados de área, para o pagamento da dívida. O local foi a leilão duas vezes, mas não houve lances.

Outros dois fornecedores recorreram à Justiça para receber por serviços prestados, mas não remunerados nos valores de R$ 8.300 e R$ 12,5 mil.

A prefeitura de São José do Rio Preto também move processos contra Moreira para cobrar IPTU de imóveis do empresário que não foram pagos entre 2015 e 2018. O valor chega a R$ 7.000.

À Folha, Kleber Moreira disse que seu site spdiario.com.br existe há oito meses, apesar de ter textos datados de 2014, por exemplo.

O empresário disse que, antes de adquirir a marca Diário de S.Paulo, fez "uma tentativa de conteúdos" com o jornal em 2015, em uma parceria que, segundo ele, teria durado 60 dias.

"Nunca tive relação com a Cereja. Quando não deu certo a parceria (...), registrei a marca Grupo Bom Dia e continuei o meu negócio", afirmou, por email.

"Eu enfrento processos de dívidas devido à dificuldade do mercado. Os veículos de comunicação estão sofrendo com a crise", afirmou. 

"Eu paguei na marca [Diário de S.Paulo] o valor de R$ 30 mil, achei que era uma oportunidade", disse o empresário.

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